O site Pitacodemia — que publica referências sobre os mais variados assuntos — divulgou um texto com nossos pitacos sobre Histórias em Quadrinhos que revolucionaram essa linguagem e resolvemos colocar aqui no blog também. Como eles dizem por lá, bons pitacos!
ATUALIZAÇÃO 02/02/2016
E se você curtiu esse papo das Eras e sua relação com a História fica aqui o convite para o nosso curso Quadrinhos na História, não perca nosso curso Quadrinhos na História – Revisado e Ampliado, 16 de julho em São Paulo. Inscrições aqui e informações no vídeo abaixo.
[FIM DA ATUALIZAÇÃO]
História em quadrinhos não é coisa pra iniciante. Pelo menos é assim que aqueles que gostam, leem e são fãs, gostam de acreditar. Pior, quem não faz parte dessa tribo pode sentir uma razoável suspeita de que há algo de muito complexo sobre tudo isso e é melhor não perguntar, um mundo secreto reservado pra poucos…
Se é o seu caso, nada tema! Vamos remediar isso já!
Há uns bons 15 anos, temos sido bombardeados com obras originais ou produtos derivados dos quadrinhos no cinema e televisão. Boa parte dessa produção é uma transposição de histórias que têm sido publicadas desde antes da 2ª Guerra Mundial, quando surgiram os primeiros heróis de quadrinhos nos Estados Unidos. O Superman foi publicado pela 1ª vez em 1938. O Batman, em 1939. De lá pra cá, muita coisa aconteceu e pouquíssimo se perdeu.
Assim como o cinema, o teatro, pintura, literatura, as histórias em quadrinhos têm cânones, gêneros, autores consagrados e referências que definem essa linguagem e que a distinguem como verdadeira forma de arte. Já discutimos o que é um “quadrinho clássico” aqui. Difícil é selecionar os mais importantes. Mas entre aquelas que se não mudaram, certamente revolucionaram essa arte estão:
1) Flash Gordon de Alex Raymond e Tarzan de Hal Foster, de 1934. Clássicos dos clássicos em quadrinhos. O traço desses dois artistas definiu o que eram quadrinhos de super-heróis, embora o personagem em questão esteja mais próximo dos heróis pulp e muitos não o considerarem propriamente um “super” herói. De qualquer forma é um marco da Era de Ouro.
2) Fantasma de Lee Falk, de 1936. O primeiro herói mascarado da história dos quadrinhos, muitos o consideram o primeiro super-herói, mas o fato de não ter poderes faz com que muitos neguem tal título ao Espírito-Que-Anda.
3) Action Comics n. 1, 1938, de Jerry Siegel e Joe Shuster. Icônica 1ª aparição do Superman, quando o herói era capaz de saltar mais alto que um arranha-céu invés de voar. Essa é uma habilidade que o último filho de Krypton passou a ter apenas em edições posteriores. Curte o Super? Não perca nossa palestra. Detalhes aqui.
4) Captain America n. 1, de Jack Kirby e Joe Simon, Outubro de 1941. Embora a capa indique Março, a revista foi publicada apenas meses depois. Não só importante pela 1ª aparição de um dos maiores personagens da Timely (antes de virar Marvel), mas porque mostrava o herói patriota socando Hitler ANTES dos Estados Unidos entrarem na 2ª Guerra Mundial. Mais sobre o Capitão aqui.
5) Crime Suspense Stories n. 22, capa de Johnny Craig, 1954. A revista, assim como todas da editora EC, provocou uma revolução nos quadrinhos. Ela foi usada como “prova” num sub-comitê do governo americano de que os quadrinhos traziam conteúdos perturbadores e que induziam jovens leitores à imoralidade, delinquência e ao crime. As editoras criaram um mecanismo de auto-censura, o Comics Code, que “enquadrou” os conteúdos em quadrinhos em histórias conformistas e sempre a favor da família, do governo e suas instituições.
6) Showcase n. 4, de 1956, de Robert Kanigher, John Broome e Carmine Infantino. A primeira aparição de Barry Allen, o Flash. Na verdade Allen é o 2º herói da DC que usou o nome, daí a importância da revista: ela marcou uma renovação da editora, que passou a recriar muitos de seus antigos personagens para um novo público. A marca dessas histórias era a exploração de temas ligados à mais pura ficção científica. Mais sobre a Era de Prata aqui.
7) Fantastic Four n. 1, de Jack Kirby e Stan Lee, de novembro de 1961. Divisor de águas na história dos quadrinhos, Fantastic Four foi o carro-chefe da revolução editorial que deu origem ao Homem-Aranha, Homem de Ferro, Hulk, Thor, X-Men, Demolidor e todo o panteão da Marvel. O diferencial? Basta de super-heróis perfeitos! A moda agora eram heróis com dilemas morais, imaturos, problemáticos e levemente desajustados, heróis para uma nova geração.
8) Green Lantern n. 85, de Dennis O’Neil e Neal Adams, de 1971. Um momento icônico quadrinhos, esta edição retratava o parceiro-mirim do Arqueiro Verde, Ricardito, como um viciado em drogas, um vício para o qual o mentor tinha sido negligente demais para ter notado. Esta faz parte de uma série celebradíssima, a parceria do escritor Dennis O’Neil com o desenhista Neal Adams, em que eles submeteram os heróis a um mergulho na América profunda. O contraste da personalidade e valores dos heróis era o mote das histórias: de um lado o conservador e pró-estabilishment, Lanterna Verde; de outro, o libertário Arqueiro Verde.
9) Giant Size X-Men, de Len Wein e Dave Cockrum, de 1975. Criados em 1963, os X-Men nunca despertaram muito interesse do público e suas vendas eram baixas. Esta edição mudou tudo. Wein e Cockrum redimensionaram a dinâmica dos heróis mutantes, agora não apenas um grupo de alunos sob a tutela de Xavier, mas uma população crescente em escala global. O novo grupo agora era multinacional: Colossos, da União Soviética, Tempestade, do Egito, Banshee, da Irlanda, Noturno, da Alemanha, Thunderbird, dos Estados Unidos, e Wolverine, do Canadá, além do veterano Ciclope. O universo Marvel (e as vendas) nunca mais seria o mesmo.
10) Batman: o Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, de 1986. Na época foram publicados em 4 volumes. Essa história é um dos marcos definitivos do Batman, talvez ainda maior do que quando foi criado. Frank Miller criou uma versão mais sombria, violenta e obsessiva do herói, ali um cinquentão que volta à ativa no momento mais obscuro da sua amada Gotham City. Uma das mais controversas e sublimes obras-primas dos quadrinhos. Aqui uma visão polêmica sobre essa HQ. Leia por sua conta e risco.
11) Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, de 1987. Esqueça o filme homônimo. Ao lado de Cavaleiro das Trevas, provavelmente esta é uma das maiores obras-primas dos quadrinhos. Watchmen narra os efeitos da existência de heróis mascarados na realidade. Essencialmente eles são todos criminosos e basta apenas um com superpoderes para mudar completamente a face da Terra.
12) Sandman, de Neil Gaiman, capas alucinadas de Dave Mckean e uma variedade de desenhistas, de 1989 a 1996. Jóia da coroa dos quadrinhos, impossível selecionar uma edição. Toda a série Sandman é de um valor absolutamente singular. Por quê? Neil Gaiman ganhou carta branca da DC para usar o nome de um velho herói de uma revista obscura. No fim, o autor britânico acabou expandindo todos os limites dos quadrinhos inserindo referências dos contos de fadas, mitologia, religião, política, cultura pop, e tantas outras para contar a história de Sonho, um dos 7 perpétuos, ao lado de Destino, Morte, Destruição, Desespero, Desejo e Delírio, seres/conceito mais poderosos que os próprios deuses. Imperdível. Já falamos sobre essa obra-prima aqui e aqui.
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13) Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean, 1989. Uma das mais célebres histórias de Batman, ao lado de Cavaleiro das Trevas e A Piada Mortal, aqui o herói é obrigado a fazer uma insólita visita ao manicômio, onde seus piores inimigos como o Coringa e Duas-Caras mantém reféns indefesos. O desafio não é vencer os rivais. O maior medo do herói é não conseguir voltar. Uma delirante reflexão sobre moral, sanidade, escolha e justiça, comentada aqui.
14) Spawn, de Todd McFarlane, de 1992. Esta edição, ao lado de Wild C.A.T.S. de Jim Lee, Cyber Force de Marc Silvestri e Youngblood de Rob Liefeld, foi o estandarte que inaugurou a Image Comics, uma “3ª via” que tentava escapar do “cartel” da Marvel e DC. Menos pela qualidade dos enredos e mais pelo estilo visual que definiram, a Image foi uma resposta daqueles desenhistas à draconiana política de direitos autorais da Marvel. A Image refinou um estilo que já vinha se consolidando – com sucesso – na Marvel e DC: heróis anabolizados, heroínas seminuas, com dentes cerrados e armados como tanques de guerra. Cores fortes, muitas explosões, muita raiva, muitas armas. Histórias, nem tanto.
15) Marvels (1994), de Kurt Bisiek/Alex Ross e Reino do Amanhã (1996), de Mark Waid/Alex Ross. As duas séries foram consideradas por Grant Morrison como marcos do “Renascimento” dos quadrinhos. A ideia procede. O estilo de Ross é, sem dúvida, renascentista: as páginas não ficam devendo nada a Rafael Sanzio ou Michelangelo. Marvels conta a história dos heróis da editora pela perspectiva inovadora e saborosa de um humano comum, o fotógrafo Phil Sheldon.Reino do Amanhã narra o retorno dos heróis da “velha guarda” da DC, Superman, Batman e Mulher-Maravilha, de volta à ativa num futuro em que os “heróis” perderam a noção de sua importância. Ambas as histórias têm um espírito nostálgico e celebram os primeiros dias – e exemplos – da conduta heroica, uma restauração de algo que havia sido perdido após anos. Pura metalinguagem que remete à própria história das histórias em quadrinhos.
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Eu incluiria alguma obra do Eisner afinal, sem ele, Cavaleiro das Trevas não existiria, ou teria sido bem diferente, pelo menos narrativamente.
Também incluiria, pra sair um pouco dos Estados Unidos, a francesa Métal Hurlant e as britânicas 2000 AD e Warrior.
É, acho que faltou um pouco de contextualização nessa lista. Ela foi elaborada após o curso Quadrinhos na História, onde abordamos especificamente quadrinhos mainstream dos Estados Unidos, por isso essas ausências na lista. Você pode dar uma olhada no que abordamos no curso aqui: http://www.cinese.me/encontros/curso-quadrinhos-na-historia
Primeiramente, parabéns pela a excelente lista. Simplesmente Impecável.
Valeu a pena conferir todas essas histórias e ficar por dentro desse Universo espetacular que são os Quadrinhos !!!
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Flash Gordon é um exemplo da chamada Era de Platina, o período anterior a Era de Ouro, talvez o início das tiras de aventuras americanas entre meados da década de 1920 e início da década e 1930 possa ser considerado um interregno da Era de Platina e a Era de Ouro, tal qual o período de 1945 a 1956 é um interregno entre a Era de Ouro e a Era de Prata.