A notícia sobre a reunião da Marvel com retailers (vendedores de quadrinhos) dos EUA e Canada serviu de pretexto para que a discussão sobre diversidade mais uma vez viesse à tona.
Na notícia (que você pode ler aqui) a questão da diversidade foi UMA das questões levantadas pelos vendedores, conforme o parágrafo abaixo em tradução livre:
“Entre os assuntos tratados estavam reboots e restarts, fadiga e periodicidade de grandes eventos, tons políticos nos quadrinhos e versões clássicas x novas versões de personagens, todos os assuntos que temos ouvido dos vendedores nos últimos meses”.
Então, para os vendedores existem cinco fatores para as baixas vendas:
1. Reboots e restarts excessivos;
2. Fadiga de grandes eventos;
3. A periodicidade desses grandes eventos;
4. Tons políticos para os quadrinhos e
5. Versões clássicas x novas versões, que seriam as versões que privilegiariam a diversidade.
E a notícia original era apenas essa, mas parece que algumas pessoas pinçaram a questão da diversidade para dizer que era essa a causa das baixas vendas da Marvel. E essas reclamações nem chegam a ser propriamente uma novidade, como você pode ver aqui.
Posteriormente houve um detalhamento desses tópicos e a lista das causas das baixas vendas também apontaram para uma saturação do mercado (com muitos títulos e muitos títulos de um mesmo personagem), a qualidade dos roteiristas e artistas, e também para o preço desses quadrinhos. O pessoal do Universo Marvel 616 fez um resumo de tudo bem interessante, que deixo linkado aqui.
A questão tomou proporções ainda maiores com a entrevista de David Gabriel (que você pode ler aqui), vice-presidente de vendas da Marvel, na qual ele apenas disse o que todos já sabiam, que naquela reunião tinha ouvido que as pessoas não queriam mais diversidade, o que também foi interpretado como uma espécie de mea culpa.
A partir disso um estardalhaço vem sendo criado.
Se você ainda tem dúvidas você pode ver a análise que o MdM fez do número de vendas, provando que minorias vendem sim. É só clicar aqui.
Mas, já que o assunto entrou em voga novamente, gostaria de fazer algumas observações.
1) A lista de motivos para baixas vendas apontadas pelos retailers apontam para vários fatores. Colocar a questão da diversidade como sendo a única ou a principal já é fazer uma interpretação, no mínimo, equivocada dos fatos.
2) Na mesma entrevista citada, na qual David Gabriel só repete o que todos já sabiam, ele também dá como um dos fatores das baixas vendas o momento econômico dos EUA – mas ninguém chamou atenção para isso.
3) Se olharmos os números da Diamond Comics – referência para as vendas de quadrinhos nos EUA- a Marvel não está perdendo mercado para DC, que ainda está em segundo lugar, mas com um melhor desempenho desde a fase Rebirth. É bom lembrar que quando os Novos 52 foram lançados a DC chegou inclusive a ficar na frente da Marvel por alguns meses, mas a tendência não se sustentou por muito tempo. Abaixo estão os prints dos últimos meses. Infelizmente os dados anuais de 2016 ainda não estão disponíveis. A fonte está aqui.
4) O que nos traz a uma questão levantada por esse artigo de Rob Salkowitz. No texto, ele argumenta que os retailers são pequenos negócios (portanto mais sensíveis às mudanças econômicas) e foram eles que foram ouvidos na reunião, representando também seus consumidores, que são os consumidores tradicionais de quadrinhos, ou seja, o pessoal que frequenta as comic shops e que compra seus quadrinhos por meio da venda direta ou direct market.
Mas esses não são os únicos consumidores de quadrinhos e a venda direta não é o único meio de venda. O público consumidor de quadrinhos ampliou-se muito (entre outros fatores devido à popularização dos super-heróis por meio do cinema). Você não precisa mais ir para as comic shops se quiser consumir quadrinhos. Você pode comprá-los em livrarias (bookstores) ou mesmo digitalmente.
5) É fato que a reunião com os retailers mostra que a Marvel quer reaproximar-se desse público – talvez porque tenha visto o efeito disso nas vendas do Rebirth da DC – mas daí a concluir disso que é a diversidade que está gerando essas baixas vendas é algo que simplesmente não encontra respaldo na realidade.
6) Qual foi a primeira medida anunciada da Marvel após a reunião? Acabar com a diversidade em suas hqs? Não. Acabar com os grandes eventos. Mais uma prova de que o problema não é a diversidade.
7) Termino parafraseando G. Willon Wilson, roteirista da Ms. Marvel, que também manifestou-se sobre a questão: o problema não é a diversidade, o problema é em qual mercado você vende, ou seja, qual é o público-alvo, como o Velho Quadrinheiro já discutiu nesse post.
Sem falar que o eixo DC/ Marvel vem sofrendo com concorrentes dentro e fora dos EUA…..
Muita gente (incluindo os estadounidenses) se deram conta que HQ não é só de herói.
Claro, também cito o mercado de mangá que se tornou forte nos EUA e outros países.
Pingback: Ms. Marvel – entre o particular e o universal | Quadrinheiros
Pingback: O que esperar de The Button e Ressurrxion? | Quadrinheiros
Pingback: Precisamos falar sobre… Diversidade! – Iluminerds
Pingback: Generations: o velho pode coexistir com o novo? | Quadrinheiros
Pingback: Stan Lee sobre a politização dos super-heróis | Quadrinheiros