Generations: o velho pode coexistir com o novo?

Depois de todas as mudanças na Marvel, com muitos personagens clássicos sendo substituídos, a fase Legacy tenta organizar as coisas para que os leitores antigos não fiquem sem seus heróis lendários, mas sem abandonar os novos leitores que foram trazidos com as novas versões.

***Spoilers das edições Generations: The Americas e Generations: The Strongest ao longo do texto***

STL056914Pra iniciar essa organização a Marvel vem lançando edições únicas intituladas Generations, estreladas pelas duas versões dos personagens, onde basicamente o herói moderno passa a ver as coisas pelos olhos do herói clássico. É assim, por exemplo na edição dedicada ao Capitão América. Nessa edição Sam Wilson (o Falcão que assumiu a identidade de Capitão América), volta no tempo sem seu traje (e portanto sem poderes), e encontra Steve Rogers na Segunda Guerra Mundial. Sem saber como voltar para sua linha temporal, Wilson se alista e luta ao lado do Capitão, retorna à vida civil depois da suposta morte de Rogers, e décadas depois o já velho Sam Wilson reencontra seu velho amigo recém descongelado. O Falcão então ganha uma perspectiva que não tinha em relação ao Capitão América e esse é o objetivo da série.

Outra dessas edições é a que mostra os dois Hulks – Bruce Banner e Amadeus Cho. Ainda que a continuidade da Marvel esteja um pouco confusa, como o assassinato de Bruce Banner pelas mãos do Gavião Arqueiro (no arco da Guerra Civil II), e com o jovem superdotado Cho assumindo o controle do Hulk sem muita explicação, essa edição de Generations é interessante porque aborda aspectos essenciais do personagem se estabeleceram ao longo de sua existência.

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Incredible Hulk # 312

Assim como nos filmes, a tentativa de uma série solo do Hulk não teve sucesso no momento de sua criação. O título que estreou em 1962 durou apenas alguns números e o Gigante Esmeralda passou a fazer participações como coadjuvante em revistas de outros personagens. Durante as duas décadas seguintes a mistura de Frankenstein com Dr Jekyll e Mr Hide criada por Stan Lee e Jack Kirby, teve como principal característica o conflito entre a razão humana e sua natureza selvagem. A série de TV deu um novo impulso ao personagem nos quadrinhos e na década de 1980 o roteirista Bill Mantlo estabeleceu raízes psicológicas trágicas para o descontrole do personagem – uma infância marcada pela violência de seu pai biológico.

 

Outros dois roteiristas fundamentais para o desenvolvimento do personagem são Peter David e Greg Pak. O primeiro consolidou a separação entre Bruce Banner e o Gigante Esmeralda e o segundo passou a contar histórias em que o Hulk era o personagem principal e Bruce Banner era no máximo um coadjuvante. As sagas Planeta Hulk e Guerra Mundial Hulk, de Greg Pak, debatem o que a essência selvagem que todos temos pode fazer contra a humanidade ao se tornar independente (sem o filtro da razão/civilização).

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É o mesmo Greg Pak que escreve Generations, e por isso todos esses temas são revisitados e apresentados para Amadeus Cho, o novo Hulk, que controla seus poderes e aparentemente não carrega o fardo que marca a trajetória de Bruce Banner. Na história Amadeus Cho aparentemente volta no tempo e acompanha o Hulk original sendo perseguido pelo General Ross. Inevitavelmente os dois personagens entram em confronto, Hulk-Cho de um lado tentando proteger civis e Hulk-Banner de outro cada vez mais selvagem e fora de controle. Cho anuncia que desistiu da luta para acalmar Banner e os dois personagens voltam a suas formas humanas. O diálogo que se segue é a essência da série.

529685._SX1280_QL80_TTD_Amadeus Cho vê o Hulk como uma ferramenta que ele usa para atingir um objetivo. Para Banner o Hulk é uma maldição, um trauma que saiu do controle. Banner acredita que Cho sabe o que fazer para controlar o monstro, enquanto Cho não acredita que o Hulk seja um monstro, já que ele tem controle absoluto sobre ele. A história prossegue e Amadeus Cho perde o controle por uma fração de segundo. Banner percebe e entende que também para Cho o Hulk é um monstro que está ainda sob controle, mas tentando tomar as rédeas sempre que a oportunidade aparece. Tanto Banner quanto Cho são apenas carcereiros que guardam uma força de destruição sem igual.

 

 

Generations entrega aspectos essenciais dos personagens clássicos para suas versões modernas, e ao fazer isso revisita os principais momentos de cada um dos heróis da Marvel que são adorados pelos fãs. Vamos ver se isso vai ser o suficiente para apaziguar as polêmicas e a animosidade nas redes sociais entre novos e velhos aficcionados.

 

Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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2 respostas para Generations: o velho pode coexistir com o novo?

  1. Sílvio Medeiros disse:

    Tudo tem que evoluir, eu entendo, mas o que a Marvel vem fazendo nos últimos anos, com os personagens clássicos, é uma desconstrução sem limites ou qualquer razão. Crie outros personagens, faça inovação sem avacalhar… Há mudanças desnecessárias. Nos anos 80 a DC matou o Super Homem e o recriou, até com novo e diferente uniforme… não deu certo, teve que retroceder. Os clássicos sempre terão seu espaço e conquistarão novos fãs!

  2. Pingback: Terra Um: a reinvenção do Lanterna Verde | Quadrinheiros

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