Os primeiros passos para a bibliografia da sua tese.
Sabe, listas são coisas insidiosas.
Elas camuflam dificuldades e resolvem problemas. O maior deles, quase sempre, é o mesmo: faltam horas no dia pra dar conta de tudo da forma que gostaríamos.
Como isso é um blog e não um best seller, hoje, entre banho tomado e post parnasiano, opto pela higiene em 1º lugar e um post meia-sola em 2º. Como essa não é a melhor solução, que pelo menos ele seja útil. O post, não o banho, que é útil em si mesmo.
Desta feita passo a ponderar.
Quando se publica uma lista há quem pense que a inclusão de algum item sugere a exclusão intencional de outro. Olha, antes fôssemos tão competentes o tempo todo. O mais certo é que a título de açodamento (a-ço-da-men-to, procure aí), a lista atende a nenhum outro desígnio além de mapear um cenário geral num certo assunto. Mera abertura, pura introdução, claro convite pro diálogo, as listas são tão sólidas quanto o melhor argumento em contrário.
Pesquisador iniciante, leitor curioso ou, quem sabe, ente imortal que desvendou todos os segredos dos grimórios proibidos de Merlin, Moley, Crowley e Antão, você pode ter se perguntado: que livros batutas e joinhas eu deveria ler para entender melhor os quadrinhos?
Quadrinheiros, sempre solícitos, sugerem aqui algumas obras. O critério é simples: o que você deveria ler/consultar para dar os primeiros passos para estudar quadrinhos?
- ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
Clássico da Escola de Frankfurt, indispensável para qualquer pesquisador da cultura, e também a de massa.
- ASSUMPÇÃO Jr., Francisco. Psicologia e História em Quadrinhos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
Mais do que uma obra de referência, um ensaio da mais fina qualidade, uma análise psicanalítica dos quadrinhos e de seus personagens. O exame da trajetória de Conan é particularmente rico.
- BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica In Obras Escolhidas – Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1996, pp. 165-196.
Quando noviço nessa coisa de pesquisa acadêmica havia um velho ditado: em cultura de massa, ou você conhece Walter Benjamin, ou os 7 inimigos do He-Man. Já que o leitor jovem talvez nem saiba quem é He-Man, trate de devorar este texto. Vale cada palavra. Fizemos aqui uma leitura voltada aos quadrinhos de um de seus mais célebres textos, A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (que consta no livro indicado).
- CIRNE, Moacy. Para Ler os Quadrinhos. São Paulo: Vozes, 1975.
Recomendação de 9 entre 10 orientadores das antigas, é referência obrigatória (o 10º orientador esqueceu desse e indicou só o Shazam! do Álvaro de Moya).
- CIRNE, Moacy. Quadrinhos, Sedução e Paixão. São Paulo: Vozes, 2001.
Mais do que o Para Ler os Quadrinhos, do mesmo autor, este livro é provocador. Prato cheio pra aprender a fazer crítica aos quadrinhos mainstream com garbo e elegância.
- DORFMAN, Ariel e MATTELART, Armand. Para Ler o Pato Donald – Comunicação de Massa e Colonialismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
Obra que se proliferou na bibliografia de centenas de teses e dissertações nas últimas 3 décadas (quase 4!). Crivando posicionamentos, denunciando a “perfídia imperialista”, a obra tem o mérito de ter alçado os quadrinhos ao patamar de objeto de sério estudo acadêmico.
- ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 2001.
Imagine que pesquisa em quadrinhos é um salão. Uma das paredes é Escola de Frankfurt. Umberto Eco é a outra dessas paredes .
- ECO, Umberto. O Super-Homem de Massa. São Paulo: Perspectiva, 1991.
Nesse salão de estudos dos quadrinhos, O Super-Homem de Massa é o chão que a gente pisa. Eco mapeia a genealogia das narrativas seriadas desde o século XIX, os avós dos quadrinhos, as histórias de folhetim.
- EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Como só ele poderia, Will Eisner ensina, com o carinho professoral, a singularidade da narrativa em quadrinhos.
- GONÇALO Jr.. A Guerra dos Gibis. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
De fazer inveja para qualquer historiador profissional, aqui o jornalista Gonçalo Jr. narra, com generosidade de detalhes, a história das histórias em quadrinhos no Brasil entre a década de 1920 a meados de 1980, com ênfase na trajetória de Adolfo Aizen, o legendário editor da EBAL.
- GONÇALO Jr.. Biblioteca dos Quadrinhos – Guia Obrigatório da Arte Sequencial No Brasil. São Paulo: Opera Graphica, 2006.
Como o próprio autor descreve, é uma obra de referência, um catálogo pro leitor e interessado em quadrinhos perambular pelos sebos e bibliotecas com indicações valiosas sobre quase tudo que já saiu publicado sobre quadrinhos no Brasil (até 2006).
- MORRISON, Grant. Superdeuses. São Paulo: Pesamento/Cultrix, 2012.
Não só roteirista formidável, Grant Morrison fez uma das melhores análises dos quadrinhos mainstream americanos, suas Eras, seus significados implícitos, explícitos, e até possíveis leituras transcendentais.
- MOYA, Álvaro de (org.). Shazam!. São Paulo: Perspectiva, 1977.
Dependendo da data da sua matrícula no pós-graduação, talvez seja a única referência que seu orientador conheça sobre quadrinhos. Em que pese a datação, já meio vencida em termos de debate, o livro traz alguns dos artigos mais provocadores sobre os quadrinhos.
E temos mais duas indicações bônus no vídeo abaixo:
Boa pesquisa!
Vou salvar este post em todo lugar possível, para não correr o risco de perder.. =)
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