Morrison, Milligan, Delano e o Homem-Animal

O que pôde o Homem-Animal nas mãos desses três autores?

Um momento crucial na era pré-Vertigo foi a revitalização de alguns personagens perdidos da DC Comics, como Shade, Patrulha do Destino e o próprio  Homem-Animal. Todos eles apresentam diversas mudanças em relação às suas versões originais, porém poucos sofreram tantas mutações, tanto dentro quanto fora de sua revitalização quanto Buddy Baker, o Homem-Animal (HA). Cada fase possui sua particularidade mantendo uma identidade característica deste que é um dos maiores ícones dos quadrinhos adultos dos anos 80/90.

 

Grant Morrison

O pontapé inicial dessa história foi com o escocês Grant Morrison, responsável por trazer de volta o HA, criar uma mitologia e um clima para as histórias do personagem. Morrison costuma ser criticado por possuir histórias confusas, porém o início de sua fase em HA é algo simples, bem desenvolvido e muito interessante, trazendo mensagens sobre os animais, veganismo e respeito À natureza. Quanto mais próximo do fim das edições, mais vemos uma identidade forte da série sendo construída pelas mãos do autor.

A história se destaca das demais companheiras da época pelo seu final impactante e inovador, o clássico encontro de Morrison e Buddy Baker rende risadas, explicações e um entendimento sobre o personagem e até mesmo sobre o próprio momento nos quadrinhos, facilitando assim o entendimento do leitor do porquê a história correr de tal forma e terminar de maneira tão inventiva.

 

Peter Milligan

Depois do encontro Morrison x Baker que resetou a mente dos leitores, tivemos um autor que não ficou satisfeito e piorou ainda mais a situação do personagem. Peter Milligan é um autor interessante, possui quadrinhos pouco conhecidos que apresentam referências menos comuns, como a forte presença de James Joyce em Shade e Skreemer, esta última em especial com quase devoção pela obra Finnegan’s Wake.

Homem-Animal não é exceção e nos apresenta um dos personagens mais intrigantes dos quadrinhos, o homem de lugar nenhum que só consegue se expressar através de frases escritas por William Burroughs. Buddy Baker lida com diversas mudanças na realidade, desde problemas com a esposa até sustos com famosos que deveriam estar mortos, mas estão vivos. O arco de Milligan com certeza é o mais complicado de se entender do título, pois possui muitos elementos bizarros e que exigem algumas referências pouco usuais do leitor para uma maior compreensão do que ele está querendo dizer com aquela história.

Jamie Delano

É comum vermos as pessoas discutindo entre Morrison e Moore, e Delano teve uma ideia melhor: juntar os autores em uma história.

Buddy Baker morre e renasce sob um poder místico conhecido como “O Vermelho”. Aqui temos um equivalente dos animais ao que Alan Moore fez com O Verde e as plantas para o Monstro do Pântano em sua fase escrita durante os anos 80. O conceito é muito próximo, porém é aplicado de forma diferente. Enquanto o Monstro possui uma conexão quase que instantânea com todo o Verde, o Homem-Animal sente e manipula seus poderes de forma diferente, individual, mais gradual com cada animal.

Quando Delano inicia o título assume um certo clima de horror que lembra outros trabalhos dele, dando assim um novo espectro para o personagem. A forma com que o filho de Baker é desenvolvido, matando animais e se envolvendo com seu tio sádico  é assustadora e apresenta uma dicotomia interessante com seu pai que é um defensor ferrenho dos animais e sempre demonstrou ser um homem muito correto em suas atitudes.

Delano retoma as ideias do veganismo e da defesa do planeta que Morrison trouxe  para o personagem, porém de forma diferente. Com toques de horror, Delano desenvolve uma história onde é desesperador ver o possível fim do mundo e a reação da natureza com as atrocidades humanas, personagens assustadores e plots que justificam cada atitude macabra o autor consegue desenvolver uma sensação de agonia que poucos apresentam em uma história.

Delano mostra o horror não só com grandes catástrofes, mas também em acontecimentos do cotidiano, cp,p quando Ellen Baker decide ir para a cidade e é tratada feito lixo em uma sociedade machista e egoísta. Ela quase é estuprada pelo namorado de uma amiga, é assaltada e não recebe ajuda, e um guarda tenta abusar dela quando pede ajuda, tudo isso em uma noite, a angústia da senhora Baker é enorme e podemos ver também o horror da cidade e de algo puramente humano… Como diria o próprio John Constantine durante a fase do Delano, o problema é que dessa vez o caso é puramente humano.

Um personagem que foi revitalizado pelas mãos de Grant Morrison, teve uma grande continuação nas mãos de Peter Milligan e um novo espectro sob a vista de Jamie Delano só pode ser um dos melhores títulos da linha Vertigo.

Quando Grant Morrison criou essa mitologia e ideia sob o Homem-Animal, foi desenvolvida uma estética para as histórias do personagem e é esperado que aquilo termine ali, pois seria comum os próximos autores apenas tentarem replicar o que ele fez (assim como aconteceu com o Monstro do Pântano e a fase de Alan Moore). No entanto a maior parte das sequências não fizeram isso. Nenhum dos roteiristas seguintes desdenharam do que foi criado ou simplesmente ignoraram para fazer suas histórias, mas respeitaram uma coerência do que foi feito e assim moldaram as suas escritas ao que foi criado durante a primeira fase da HQ, com uma linha de desenvolvimento coerente, autêntica e muito inventiva para os quadrinhos.

Homem-Animal apresentou diversas variações e experimentações de um mesmo mundo e com três grandes autores em sequência, desenvolvendo uma narrativa coerente e ao mesmo tempo inventiva, reunindo assim as características que fizerem o selo Vertigo tornar-se o sucesso que foi. 

Sobre John Holland

Procurando significados em páginas de gibi enquanto viaja pelos trilhos do conhecimento e do metrô. Sempre disposto a discutir ideias e propagar os quadrinhos como forma de estudo, adora principalmente a Vertigo, está sempre disposto a conhecer novos quadrinhos e aprender o máximo de coisas possível!
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2 respostas para Morrison, Milligan, Delano e o Homem-Animal

  1. Weslley Vieira disse:

    Eu nunca li a fase pós-Grant Morrison pois era uma coleção vasta demais para alguém com tão pouco poder aquisitivo quanto o meu. Além do mais, disseram-me que não possuíam o mesmo charme e vigor da fase anterior, mas agora, lendo seu texto, fico um tanto quanto arrependido. Até porque sempre me mantive curioso. Principalmente em relação ao Milligan. Todavia, pude notar que o Rick Veitch não foi citado. Ora, por quê?

    • John Holland disse:

      Na verdade a fase é do irmão dele, Tom Veitch. Ela é um pouco menos relevante para a temática do texto, pois ela não representa uma mudança em relação ao que o autor anterior fez. Os três autores citados deram uma certa identidade ao título, já o Veitch pareceu uma tentativa de continuação literal do que foi feito pelo Morrison.

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