Será que os fãs do gênero super-heróis estão fadados à Marvel e DC? Talvez não.
Os super-heróis possuem uma peculiaridade interessante. Por conta da longevidade de sua indústria há a produção contínua de histórias de alguns personagens por mais de 70, 60, 50 anos ininterruptamente nas mais variadas mídias como os próprios quadrinhos, cinema, literatura, televisão etc., o que faz com que seus criadores tenham que subverter a ordem da estrutura dramática. Mas o que é isso? É bem mais simples do que parece.
Toda história tem começo, meio e fim. Porém, devido às pressões da indústria e dos consumidores o “final” da narrativa deve ser constantemente postergado, seja na forma do prolongamento das histórias, seja na forma de releituras para novas mídias ou mesmo em “reboots” e “relaunchs” que têm se tornado cada vez mais frequente nos últimos anos.
Essa demanda pela produção contínua dos mesmos personagens vez ou outra gera descontentamentos por parte das equipes criativas que os mantém. Lembro particularmente de Ed Brubaker (fonte aqui), renomado roteirista e conhecido principalmente por sua fase com o Capitão América:
“Eu amo quadrinhos de super-heróis e eu me pego acompanhando suas sagas, acredite. E eu amo ver pessoas vestidas como o Soldado Invernal ou shippando “Stucky”, mas eu sinto que muitos fãs de quadrinhos agem como se eles fossem forçados a comprar quadrinhos da Marvel e DC, como se fosse um programa do governo ou coisa parecida. Não é. Existem ótimos quadrinhos onde a arte é feita pelas mesmas pessoas em todas as edições, onde nunca você precisará ler um tie-in, ver um reboot ou um recton. Na verdade, muitos dos roteiristas e artistas que vocês amam na Marvel e DC estão criando suas próprias histórias fora dessas empresas – Jason Aaron tem uma série maravilhosa, Kieron e Jamie também possuem grandes materiais. Eu nem preciso falar sobre Saga, Criminosos do Sexo e outras obras. Todas essas pessoas que trabalham na Marvel e DC são mais felizes fazendo algo em que eles possuem controle total.
Veja, vocês sabem disso tudo, afinal, vocês estão na minha lista de email por gostar do meu trabalho. Mas depois de um dia com tantas pessoas me perguntando sobre uma história que eu não tenho nada a ver [aqui fazendo menção à recente polêmica sobre o Capitão América pertencer à HYDRA – que no final mostrou-se falsa], eu lembrei o quão feliz eu sou por não fazer mais parte desse mundo. As pessoas estão constantemente perguntando o motivo de eu não voltar para a Marvel, pensando que houve um problema grande que me fez deixar a editora. Na verdade, foi um desgaste, eu fui me cansando lentamente de eventos sem fim, reboots e dublês.”
Temos que contextualizar esse desabafo de Brubaker. Ele é um autor que fala do ponto de vista do mercado de quadrinhos dos EUA, majoritariamente dominado pelo gênero super-heróis e dentro desse gênero quase monopolizado pelas Duas Grandes, Marvel e DC.
Aqui no Brasil o problema se agrava, pois muito pouco da produção do gênero super-heróis fora da DC e Marvel chegam ao Brasil – ainda que o acesso a essa produção tenha melhorado.
Então Brubaker reclama basicamente da falta de liberdade criativa, gerada não só pelo controle editorial sobre os personagens, mas também pelos limites de criar em um universo ficional que já perdura por décadas e décadas. Há quem defenda que os quadrinhos estão tão desgastados que as melhores narrativas de super-heróis atualmente estão no cinema e na TV, o que prova que a roupagem pode ter envelhecido, mas a essência dessas narrativas parece ser universal, se aceitarmos a tese de Joseph Cambell de que o ciclo heroico se repete em toda a História e em todas as culturas.
Dito isso gostaria de indicar dois quadrinhos muito interessantes se você curte super-heróis, mas está cansado dos mesmos personagens da Marvel e DC. As duas obras seguem a mesma estrutura: aproveitam-se de arquétipos ou modelos de super-heróis facilmente reconhecidos pelo público para que seus criadores possam ter a liberdade que jamais teriam nas Duas Grandes, criando cenários que remetem à própria história do gênero de super-heróis, fazendo releituras de cada uma das Eras dos quadrinhos, bem como acontecimentos típico do gênero como universos paralelos, invasões alienígenas etc.
A primeira delas é Astro City, de Kurt Busiek, que atualmente está sendo publicada pela Panini, que vem sendo publicado desde 95, ainda que de forma descontínua, passando por várias editoras e selos, atualmente na Vertigo.

Personagens de Astro City. Não é preciso dizer em quem são inspirado ou mesmo seus nomes – você os reconhece automaticamente.
A segunda, bem mais recente, de 2013, é Jupiter’s Legacy, de Mark Millar e Frank Quitely, publicada pela Image (conheça mais sobre a obra aqui), ou no vídeo abaixo:
No vídeo abaixo também há a indicação de alguns super-heróis interessantes fora da Marvel e DC:
That’s all folks.
Parabéns pelo texto, ficou muito legal! O mercado nacional também tem vários artistas legais. Me orgulho de estar numa região (Baixada Santista) que é um celeiro de novos artistas com histórias diferentes e emocionantes. Sou muito fã da Anarquia, da Supernova Produções, uma heroína politizada e com uma história bem envolvente.
Acho que fica preso no eixo Marvel-DC quem quer, pq não faltam possibilidades e artistas novos para a gente sair da mesmice e se divertir ao mesmo tempo.
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