Duas edições de Hulk Grand Design são capazes de resumir décadas de histórias do Gigante Esmeralda?
Nos últimos anos acompanhamos novas tentativas de entender os temas principais e as diferentes fases dos personagens dos quadrinhos de super-heróis da Marvel e da DC ao longo da sua história. O livro All of the Marvels, do escritor e crítico Douglas Wolk, tenta fazer isso olhando para toda a produção da Marvel desde 1961 até agora. A minisérie A Outra História do Universo DC, do roteirista John Ridley, faz isso com personagens negros, latinos, LGBTQIA+ e estrangeiros da DC Comics, ao longo de décadas, usando as principais mudanças pelas quais esses heróis passaram nos quadrinhos, para criar uma narrativa conectada com acontecimentos da história de violência racial, homofobia e xenofobia nos EUA.
Numa outra chave, o roteirista Chip Zdarsky e o desenhista Mark Bagley produziram A Life Story, estrelando o Homem-Aranha, encaixando os principais acontecimentos de 60 anos de histórias, mas dessa vez com o personagem envelhecendo juntos com seus leitores. Nós mesmos aqui dos Quadrinheiros constantemente tentamos organizar todos os anos de produção de quadrinhos de super-heróis, como vocês podem ver no nosso livro Quadrinhos através da História – as Eras dos super-heróis.
Recentemente a Marvel criou o conceito de Grand Design para fazer esse “resumo”, condensando décadas de histórias. Já falei aqui do Grand Desing do Quarteto Fantástico (roteiros e arte do Tom Scioli), e nesse mesmo texto citei o Grand Design dos X-Men (roteiros e arte do Ed Piskor). Agora o cartunista Jim Rugg se junta aos seus companheiros do canal Cartoonist Kayfabe para mais um sobrevôo. Dessa vez o escolhido é o Hulk, um dos personagens que mais marcaram a infância de Rugg.
Numa entrevista, Rugg nos conta que os primeiros 300 números do Hulk são quase monotemáticos – o mostro que destrói tudo. Foi a chegada do roteirista Bill Mantlo no título (no número 245, em 1980) que abriu as portas para explorar questões psicológicas do personagem e a relação delas com seu descontrole (o arco “Encruzilhada” é dessa fase e envolve um possível plágio de uma ideia de Barry Windsor-Smith, sobre o qual eu falei aqui). Depois disso o trauma de infância de Bruce Banner reaparece muitas vezes nas idas e vindas das histórias.
Jim Rugg, assim com Ed Piskor e Tom Scioli, tem uma importante produção de quadrinhos independentes para editoras menores, fazendo experimentações com zines e outras mídias e traz um olhar de fora da industria. No seu Grand Design do Hulk temos homenagens a ilustradores cujos traços são emulados por Rugg, mas também pequenos comentários sarcásticos sobre momentos da trajetória do Hulk que são simplesmente histórias ruins. Na mesma entrevista ele comenta que preferia que o personagem tivesse passado muito mais tempo como Joe Fixit (o Hulk Cinza/Tira-Teima aqui no Brasil, que foi publicado originalmente entre 1988 e 1989, com roteiros de Peter David ), do que como líder do Panteão (também de Peter David, com desenhos de Dale Keown).
Mas o tema central é a separação e a integração das duas personalidades – Bruce Banner e Hulk. O trauma psicológico do indivíduo (a violência sofrida por Bruce nas mãos de seu pai), e o trauma psicológico coletivo (a violência da bomba atômica cuja metáfora é a radiação gama), quando sobrepostos, criam uma força devastadora de loucura, terror e ódio. A possibilidade do fim da vida no planeta Terra que resultou da escalada atômica durante a Guerra Fria e os sucessivos acordos de redução de arsenais atômicos entre a década de 1970 e 1980, são pano de fundo para a Era de Prata dos super-heróis e as mudanças temáticas que levaram à Era de Bronze, com temas mais ligados à problemas sociais e violência urbana.
Em tempos de pandemia global e escalada de guerras que afetam o mundo todo e envolvem países com arsenais atômicos, sentimos a volta da loucura, do terror e do ódio que se manifestam de forma mais agudas naqueles indivíduos que, como Bruce Banner, carregam seus demônios internos. Olhar para os temas que fazem o Hulk ser esse personagem tão sem saída é mais atual do que nunca em 2022.
Show DDD+++,sou um grande fã do Esmeralda Verde,fico muito agradecido pela dedicação com o Incrível Hulk.
Como posso conseguir exemplares destas coleções e quando estará aqui no Brasil a venda..???
Obrigado 👍😉🪖🇧🇷
Oi Alexandre! A Panini publicou o Grand Design dos X-Men e do Quarteto Fantástico. Imagino que vão publicar do Hulk, mas ainda não apareceu na pré-venda deles. Vamos ver….