7 vezes em que super-heróis enfrentaram o Estado

Uma reflexão sobre os quadrinhos riachão, digo, mainstream.

Via de regra heróis e heroínas de quadrinhos são sujeitos abnegados, gente infensa à tirania, ao crime, à desonestidade e injustiça. Pessoas dotadas de uma clareza moral rara, dispostos a lutar e se sacrificar pelo bem maior de todos, preservando a integridade das pessoas, das instituições, do governo, do Estado. Aqueles que em última instância são os defensores da lei e da ordem, certo?

Errado!!

É pesado o fardo de quem traz más notícias e questiona sua visão de mundo, inundada de boa fé, mas os heróis, na essência, são agentes ilegais. Ao enfrentar vilões ou defender a Terra de ameaças insuperáveis, violam um elemento chamado “monopólio estatal da violência”, um dos pilares dessa coisa que a gente habita, o “Estado democrático de direito”.

Esse tal de Hobbes manjava da coisa

Ou seja, só o Estado, liderado por representantes eleitos, pode fazer uso da força para coibir transgressões ou conter a violência por meio das forças armadas e policiais. E os heróis de quadrinhos sabem muito bem disso. Não apenas estão além da margem da lei, volta e meia eles agem abertamente contra o governo e o Estado.

Numa lista que poderia incluir todas as histórias de heróis em quadrinhos já publicadas desde a Era de Ouro, aqui listamos apenas algumas vezes em que eles foram compelidos a se colocar contra o Estado e seus poderes de forma direta.

1.Quando Superman se colocou contra o presidente Luthor na fase do Presidente Lex, de Jeph Loeb e Joe Kelly (2000-2004).

 

2. Quando os Vingadores avançaram contra a Shield e o Caveira Vermelha (usando um corpo clonado de Steve Rogers) na sequência da história “O que aconteceria se o Capitão América fosse o presidente dos Estados Unidos”, de George Caragonne e Ron Wilson, 1991.

 

3. Quando as amazonas de Temiscira invadiram os Estados unidos na saga Ataque das Amazonas, de Will Pfeifer e Pete Woods (2007).

 

4. Quando Batman foi o único a desafiar o estado totalitário soviético imposto pelo Superman em Entre a Foice e o Martelo, de Mark Millar e Dave Johnson (2004).

 

5. Quando o Capitão América e metade do universo Marvel foram contra a lei de registro de super-heróis em Guerra Civil, de Mark Millar e Steve McNiven (2006-2007).

 

6. Quando os X-Men lutaram contra um futuro holocausto a partir da Lei de Registro de Mutantes em Dias de um Futuro Esquecido, de Chris Claremont e John Byrne (1980).

 

7. Quando o Coruja, Rorschach e Sally Jupiter violaram a Lei Keene, que colocava os heróis mascarados na ilegalidade, ao voltar à ação em Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons (1986).

Verdade seja dita, quando os heróis se colocam contra o Estado há cenário comum a cada uma dessas histórias. É um “pano de fundo conceitual” contra o qual os heróis se posicionam, governos que ora são coniventes com o fascismo, ora semeiam raízes totalitárias, ora são simplesmente ditaduras. Nutridas pelos medos e acontecimentos do século XX, a grande referência de vilania que sustentam estas histórias são variações do nazismo ou do stalinismo.

É sempre importante lembrar que o conceito de “heroísmo” nas histórias em quadrinhos mainstream (aqui proponho o conceito de “quadrinhos riachão”) é baseado na tradição política norte-americana, que legitima a sedição em caso de abuso arbitrário do Estado. É tema pra lá de delicado, jamais resolvido, e que sustenta a experiência democrática daquele país.

Já aqui, os limites entre liberdade e segurança, da preservação da liberdade contra a arbitrariedade de governos, é algo que, apesar de incontáveis experiências traumáticas na História brasileira, tolera o intolerável, a ideia da rejeição da conciliação de interesses e objetivos por meio do debate, essa coisa chamada política. Não é por acaso que os heróis fora da lei façam tanto sucesso. Mas isso é outra história.

Sobre Velho Quadrinheiro

Já viu, ouviu e leu muita coisa na vida. Mas não o suficiente. Sabe muito sobre pouca coisa. É disposto a mudar de idéia se o argumento for válido.
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