3 brigas políticas da Marvel para tempos de polarização

A arte imita a vida.

Etimologicamente a palavra política vem de pólis,  “cidade” em grego. Porém, uma outra acepção possível da palavra é “coletividade”. Portanto, de maneira muito ampla, podemos dizer que qualquer assunto que diz respeito à coletividade, à vida humana em grupo, é político.

Seguindo essa ampla definição, há uma longa tradição, que podemos chamar de maquiavelismo republicano, que vê a política como um jogo de forças que querem dominar e outras que não querem ser dominadas. Portanto podemos dizer que o conflito é inerente à política.

Porém não são todas as formas de governo em que o conflito é aceito. Por exemplo, se pensarmos em um Estado teocrático, como contestar o poder, se sua legitimidade vem de Deus? Ou mesmo em uma ditadura, onde as divergências são tratadas como ameaças e os divergentes como inimigos? Nesses casos o conflito é encarado como algo ruim à existência dos governos.

Nas democracias o conflito é sua própria base. Conflito de ideias, de posições. O debate é o cerne da democracia, pois é na arena pública que se defendem as ideias, e, do conflito, emerge o melhor rumo para a coletividade – ainda que nunca, ou quase nunca, consensual.

Mas há momentos em que o conflito democrático se torna polarização, ou seja, quando as divergências para os rumos da coletividade são tão diferentes, tão antagônicas, que não há conciliação possível.

Aqui estão três momentos em que os conflitos políticos tornaram-se irreconciliáveis, acabando até mesmo com um dos laços mais fortes entre seres humanos: a amizade.

 

Capitão América e Homem de Ferro em Guerra Civil

O quanto de sua liberdade você está disposto a abrir mão em nome da sua segurança? Esse debate abstrato tomou forma na Lei de Registro de Super-Humanos, onde os super-heróis deveriam abdicar de suas identidades secretas e registrarem-se em um banco de dados governamental.

O Capitão América entendeu que a Lei era uma violação clara aos direitos dos super-heróis e suas liberdades. O Homem de Ferro, que era um sacrifício necessário para se manter a ordem. E, embora Mark Millar, roteirista da saga, tenha se esforçado para que os dois lados parecessem equivalentes, lembremos que o próprio Stan Lee já disse que o Capitão é a bússola moral do Universo Marvel.

 

Capitã Marvel e Homem de Ferro em Guerra Civil II

Tudo começa quando um jovem chamado Ulysses adquire poderes premonitórios, capazes de prever ameaças e crimes – antes que aconteçam.

A Capitã Marvel vê nisso um poderoso artifício. Impedir crimes antes que aconteçam. Mas o Homem de Ferro entende que não se pode punir alguém por um crime que não foi cometido.

Se tivermos em conta os valores democráticos, a resposta é clara. Todo réu é inocente até que se prove o contrário, e, se as premonições de Ulysses fossem levadas em conta, o que haveria seria a inversão do ônus da prova, ou seja, o acusado deveria provar que é inocente, e não o contrário.

 

Xavier e Magneto

Uma vez amigos e preocupados com o destino dos mutantes no mundo, suas visões não poderiam ser mais antagônicas. Xavier luta para uma integração pacífica entre humanos e mutantes, Magneto acredita que não há paz possível entre os dois grupos, e que a sobrevivência dos mutantes deve ser a eliminação dos humanos.

Xavier está certo, a não ser que você seja um genocida.

 

E, para terminar, algumas afirmações e uma pergunta:

Não há equivalentes. Há um lado certo e um lado errado. Não se iluda.

Quando o conflito torna-se polarização TODOS perdem.

É possível manter laços afetivos quando o conflito degenera em polarização?

Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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3 respostas para 3 brigas políticas da Marvel para tempos de polarização

  1. Márcio Vicente Teixeira disse:

    “É possível manter laços afetivos quando o conflito degenera em polarização?”
    Se, quando há polarização, não “há conciliação possível.” não é possível manter laços afetivos sem que um dos dois lados seja submetido ao outro….

    Se a polarização é entre um genocida e uma pessoa que procura a coexistência pacifica não acho que há polarização, mas sim um lado que escolheu o caminho do mais puro mal e que tem que ser combatido, se alguém com quem eu tenho algum laço afetivo envereda por este caminho eu não gostaria de ter laço algum com esta pessoa….

    Obvio que eu tentaria faze-la mudar de ideia, mostrar o que este caminho representa, mas, se ela continuasse a ser genocida, não sei se faria como Obi-Wan Kenobi no final de “A Vingança dos Sith”….

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