5 vilões e o princípio do antagonismo

darth-vaderPorque não pode existir um grande herói sem um vilão à altura.

Robert McKee em Story (a grande bíblia para roteiros) define o que chama de “princípio do antagonismo”:

Um protagonista e sua estória não podem ser mais ou menos intelectualmente fascinantes e emocionalmente convincentes que as forças do antagonismo que o criam.

Ainda que faça a ressalva de que “forças do antagonismo” não se refiram necessariamente a um antagonista específico, minha hipótese é que não existe um grande personagem sem que haja um antagonista à altura. Alguns exemplos.

Sherlock Holmes e Moriarty

Segundo Sir Arthur Conan Doyle, a mente de Sherlock Holmes “rebela-se contra a estagnação”. Sem o estímulo necessário seria bem provável que Holmes entraria numa espécie de estágio letárgico pois ele mesmo afirma que só poderia dispensar “estimulantes artificiais” quando seu cérebro estava estimulado por algum enigma. E quem senão Moriarty ofereceu o maior enigma de todos, o problema final?

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Presente em todas as encarnações do detetive consultor, desde o clássico da Sessão da Tarde O Enigma da Pirâmide até o recente Sherlock, a relação entre eles não cansa de ser explorada, porque não pode haver Sherlock Holmes sem o Napoleão do crime. Em muitos aspectos, Moritarty é o que Holmes teria sido se tivesse se voltado ao crime. O antagonismo dos dois só pode ser comparado à sua proximidade. O que é um modo muito interessante de se criar um antagonista, o que nos leva à…

Batman e Coringa

Na hq que definiu a relação entre Batman e Coringa, A Piada Mortal, Alan Moore é bem explícito: ao explorar a tragédia pessoal do Coringa, ele justifica sua existência e a do Batman quando o vilão pergunta ao herói o que de tão ruim teria acontecido com ele para tornar-se o que é. O que une os dois ali é a tragédia pessoal e a loucura. O recado de Moore é bem claro: o Batman não é menos louco que seu antagonista.

Superman e Lex Luthor

Aqui o princípio de construção do antagonista não passa pela proximidade, mas pela dicotomia. Um deus alienígena tem como maior antagonista um mortal, um ser humano comum que se ressente pela mera existência do Superman, pois ao olhar para o herói, não pode fazer nada além de reconhecer sua própria inferioridade diante de algo que é simplesmente maior.

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Luke Skywalker e Darth Vader

Ao pensar o roteiro de Star Wars seguindo rigorosamente o monomito de Joseph Campbell, George Lucas, ao definir seu protagonista, definiu o nêmesis não apenas para ele, mas para todo o universo de Star Wars.

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Darth Vader sempre despertou mais interesse no público que Luke Skywalker por conta do seu passado enigmático, até ser estragado revelado nos episódios I, II e III. Antes disso, o que sabíamos de Darth Vader? Apenas que havia sido um Jedi treinado por Obi-Wan Kenobi e sucumbido ao Lado Obscuro da Força. No episódio V, ao sabermos que ele é pai de Luke Skywalker o interesse no antagonista só aumenta, para então, no episódio VI estabelecermos o último vínculo que nos liga eternamente a um personagem: a empatia ao vermos um Vader arrependido e redimido por seu filho.

Charles Xavier e Magneto

Mais do que dois personagens, o que está em jogo aqui são duas posturas ideológicas distintas. Para defender o direito de uma minoria, qual o melhor caminho? A integração e a resistência pacífica pregada por Xavier ou o confronto violento pregado por Magneto? Se nos últimos anos as histórias dos X-Men têm sido deixadas de lado pela Marvel (que já prometeu um retorno grandioso dos mutantes para 2017) elas não perderam em nada sua atualidade, pois de alguma forma as posturas conflitantes do Professor X e do Mestre do Magnetismo reverberam problemas que ainda não superamos.

professor_x_vs_magneto

Ainda de acordo com McKee, o que torna o protagonista um personagem completamente desenvolvido, multidimensional e profundamente empático é o lado negativo da história, ou seja,  o princípio do antagonismo bem desenvolvido. Portanto, se não pode haver história sem conflito, as melhores histórias são as que possuem o princípio do antagonismo personificado na figura dos melhores vilões.

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Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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3 respostas para 5 vilões e o princípio do antagonismo

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