Os dois lados da mesma moeda: Preacher e Transmetropolitan

Preacher e Transmetropolitan, religião e política.

Dois temas comumente misturados e discutidos são política e religião. Basta ler uma história do Superman e já estamos no meio de um mar de interpretações políticas, filosóficas e religiosas.

Esses temas são mais evidentes no selo Vertigo em quadrinhos como Sandman, Hellblazer e Monstro do Pântano. Porém ainda parecia nos faltar algo mais específico, algo mais direcionado. Preacher de Garth Ennis e Transmetropolitan de Warren Ellis preenchem essa lacuna.

Ambas possuem um humor ácido, personagens carismáticos, temas delicados e são muito críticas. Preacher é uma série de quadrinhos onde uma entidade chamada gênese é criada a partir de um anjo e um demônio, presa no Paraíso. Deus abandonou a humanidade e a entidade acabou escapando, caindo na Terra e entrando no corpo do pastor Jesse Custer. Enquanto isso Transmetropolitan trata de um jornalista gonzo que exilou-se durante 5 anos para ter um pouco de paz e em determinado momento ele volta para a civilização e acaba entrando no meio da corrida eleitoral para a presidência, entre outras coisas.

É claro o foco de ambas as séries, porém é bem difícil uma não entrar no campo da outra com partidos políticos baseados em religiões e com pessoas utilizando religiões como pretexto para demonstrarem seus preconceitos e cometerem atrocidades mundo afora. As duas histórias possuem milhares de exemplos, como quando Jesse Custer combate pessoas poderosas da cidade que fazem parte da KKK, ou quando Spider Jerusalém grita sobre a situação em um evento lotado de religiões que estão ludibriando o povo para conseguir votos, dinheiro e poder. 

Enquanto Preacher está o tempo todo cutucando a ideia das pessoas sobre Deus e a forma da qual agem sob uma alienação própria por conta da forma que enxergam sua religião, Transmetropolitan critica a massa e sua forma de não pensamento e alienação, com foco na parte política do mundo, ou seja, elas atuam de formas parecidas, mudando a forma narrativa, peculiaridades dos protagonistas etc.

As duas séries tratam do pensamento de massa em áreas diferentes, enquanto Transmetropolitan é mais reflexivo e apresenta um texto mais denso ao leitor, fazendo não apenas uma análise de observação em volta do protagonista, mas também uma análise profissional daquele mundo quase real de Spider Jerusalém.

Preacher geralmente trata de relações mais próximas, do grotesco, dos preconceitos de cada um, demonstrados de forma individual, porém ainda assim em massa com os mesmos motivos que parecem pretextos ridículos para não ter de admitir para si mesmo, o quão sem sentido são seus ataques contra as outras pessoas. Ambas as HQs parecem estar no mundo real, e mostram uma face de uma mesma moeda que constitui uma parte das pessoas, da massa, enquanto um faz análises que impressionam e parecem de um profissional, o outro não se importa com isso e ao invés de descrever apenas mostra e esfrega na cara do leitor.

É interessante ver como dois títulos distintos de quadrinhos acabam se completando em tema, estilo e texto, mesmo sem existir qualquer menção de ligação entre elas. Enquanto temos de um lado religião, do outro política, discursos que em muitos momentos concordam entre si e que juntos possuem um grande valor de ensinamentos para o leitor que procura algo mais profundo nos quadrinhos, os assuntos são tão reais e atuais que fica difícil não sentir o impacto de diversas situações e frases durante as histórias.

Spider Jerusalém e Jesse Custer provavelmente nunca se encontrarão (sei lá né, depois de Doomsday Clock… a DC pode um dia surpreender…) e nem precisam, pois a sinergia de suas respectivas obras  é clara e nos mostra como dois autores e duas histórias podem se completar e gerar uma experiência gratificante aos leitores.

Quando a discussão envolver religião e política, aproveite para tirar seu Transmetropolitan e seu Preacher da estante para relembrar e repensar alguns de seus conceitos sobre temas tão delicados, as duas obras juntas conseguem criar uma mistura inteligente e ácida que vai contribuir não só para a discussão, mas para a vida do leitor.

Sobre John Holland

Procurando significados em páginas de gibi enquanto viaja pelos trilhos do conhecimento e do metrô. Sempre disposto a discutir ideias e propagar os quadrinhos como forma de estudo, adora principalmente a Vertigo, está sempre disposto a conhecer novos quadrinhos e aprender o máximo de coisas possível!
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