Na esteira do filme do Doutrinador as portas do Universo Guará se abrem para novas histórias e novos personagens.

Já falamos aqui sobre o Doutrinador e até entrevistamos o criador do personagem e do Universo Guará, Luciano Cunha, ainda antes do filme estrear. Agora com a visibilidade que o filme trouxe, as primeiras histórias de um universo ampliado estão na plataforma Social Comics. Estas são as impressões do que vimos até agora:

Penélope (71 páginas)

É o título mais “adulto” até agora. Aborda temas pesados como abuso sexual, prostituição, uso de drogas, tráfico de crianças. Também é o título mais interligado com o Doutrinador, já que todos esses temas se cruzam com a sujeira da política. É uma história de origem que vai se desenrolando sem pressa pelas mais de 70 páginas. A arte do Péricles Junior é dinâmica e as cores assinadas por três pessoas (Osmarco Valladão, Alzir Alvez, Tiago Barsa) não perdem a fluidez. O roteiro é do Gabriel Wainer e da Kika Hamoui que empresta sua voz à Penélope, mostrando que violência na vida de uma mulher é a rotina.

Santo (34 páginas)

O mais promissor de todos os títulos é o que infelizmente tem menos páginas. Não é uma história de origem, ainda que mostre uma lembrança da infância do personagem principal. Coloca o dedo na ferida da intolerância religiosa sem tentar amenizar o problema. Trabalha uma das características mais fortes da cultura brasileira, a espiritualidade sincrética, ao mesmo tempo que abre caminhos para expandir o universo dos personagens além do vigilantismo urbano do Doutrinador e da Penélope. A arte do Mikhael Raio Solar e as cores do Alzir Alves lembram o Hellboy do Mike Mignola. O roteiro é assinado pela dupla Luciano Cunha e Gabriel Wainer.

Os Desviantes (64 páginas)

É o título que mais destoa no Universo Guará, uma vez que, aparentemente, não está na mesma linha temporal dos outros personagens. O cenário é uma distopia pós-guerra global que aproveita para falar sobre terrorismo, refugiados, imperialismo, militarismo, genocídio, etc. Nesse mundo em ruínas chegamos ao Brasil e somos introduzidos em um contexto complexo, com personagens que usam uma linguagem elaborada (uma mistura de gírias e declinações verbais não coloquiais) e que constroem uma dinâmica social bastante peculiar. Na periferia dos grandes conflitos que devastaram outras potências mundiais, um plano de dominação desperta habilidades em jovens que aos poucos são reunidos pelo destino. O texto dos roteiristas Gabriel Wainer e Rafa Kraus tem referências filosóficas e os desenhos de Juliano Henrique e as cores do Alzir Alves dão o tom pós-apocalíptico que o cenário pede.

Não é fácil trabalhar com histórias em quadrinhos no Brasil. Ainda que estejamos no meio de um crescimento acentuado desse mercado, vivemos uma grave crise editorial. Difícil construir uma editora que produza e publique material 100% nacional. O modelo econômico da Guará Entretenimento junta criação de personagens, desenvolvimento de histórias e produção de material audiovisual baseado nessas criações. Nesse percurso, os quadrinhos são uma parte do todo e não o produto final. O filme e a futura série do Doutrinador nos mostram que esse desenho é possível. É inteligente. Vale a pena acompanhar!

NOTA – Para quem gosta de colecionar, de guardar na estante, as versões impressas desses três quadrinhos serão lançadas em eventos no RJ e SP e estarão à venda na loja da Amazon.