
Personagem Asagao no Sai-in do mangá Genji Monogatari criado por Yamato Waki
O poder das mulheres nos mangás!
Não é segredo que as mulheres japonesas também possuam espaço, renome e mercado na indústria do mangá, no Japão. Elas não são discriminadas por narrar histórias românticas nos shôjo mangá ou mesmo de lutas e batalhas nos shônen. Nas revistas de mangá, as obras das desenhistas estão entre as demais produzidas pelos homens, elas são consumidas da mesma forma, são criticadas e elogiadas sem ter a importância se são mulheres ou não, mas sim artistas de mangá.
Um dos assuntos interessantes a se refletir são essas questões de ter a presença de mulheres mangakás num mercado gigantesco de quadrinhos e ser valorizada, mas sendo discriminada e submissa perante a sociedade machista japonesa. Como já mencionado no post Japão, um país kawaii, esse universo do fofinho e gracioso permeia pela cultura japonesa naturalmente e as mulheres parecem não se importar em demostrarem essa fragilidade para os homens. Estes, por sua vez, poderia-se pensar, parecem se sentir mais atraídos por esses jeitos kawaii. Podemos inferir que muitas das narrativas românticas dos shôjo mangá, em que a personagem sofre pelo seu amor impossível por ser frágil emocionalmente, poderiam vir dessa realidade da sociedade japonesa.

Keiko Takemiya. Mangá Kaze to Ki no Uta (A Canção do Vento e das Árvores)
Comentamos também no post Mulheres e shônen mangá, que as artistas não deixam a desejar em conteúdos e desenhos voltados para adolescentes masculinos. Em outras palavras, as mulheres seguem em seu posto com a destreza em fazer diversas coisas ao mesmo tempo e diferentes, ora seguem para estilos mais robustos e grosseiros e, em outro, mais leves e simples. Mas, como as mulheres se inseriram nesse mercado?
Em 1970 emergiram os trabalhos de uma geração de mulheres quadrinistas conhecidas como Nijûyo-nen Gumi. Traduzindo seria Grupo de 24, em menção ao ano de nascimento das autoras, datada no ano 24 da Era Shôwa (1926 – 1989), que na contagem ocidental seria aproximadamente 1949. Essas artistas, muito inspiradas nos contos da literatura europeia, iniciaram uma produção de narrativas românticas, mesclada com uma estética visual simples e delicada dos personagens, mas ao mesmo tempo elaboradas pelos detalhes dos planos de fundo decorados com flores, bolinhas que lembram de sabão, as pétalas de sakura (flor de cerejeira) levadas ao vento e os arabescos emprestados da art nouveau e decó.
Algumas autoras resgataram referências dos séculos XVII, XVIII e XIX por apresentarem historicamente uma atmosfera que possa conduzir a narrativa para um ambiente romântico, o laço afetivo entre os personagens eram exibidos de forma que encontramos a princesa em busca de seu príncipe encantado, ou que este salva uma donzela dos perigos que a cercam. A estética visual para enaltecer a narrativa é exposta através das vestimentas rodadas, cheias de fitas e rendas, os movimentos dos personagens, tanto femininas quanto masculinas, fica por conta dos modos de etiqueta delicada e sutil encontrados nessas épocas.
As principais artistas Nijûyo-nen Gumi são Riyoko Ikeda autora do mangá Berusaiyu no Bara (Lady Oscar ou A Rosa de Versalhes), publicada na revista Margaret (e que aqui já teve um post), Uma Rosa de Versalhes (Berusaiyu no Bara – 1972); Keiko Takemiya que publicou Kaze to Ki no Uta (A Canção do Vento e das Árvores) na revista Shôjo Comic; Moto Hagio com a obra Tômasu no Shinzô (O Coração de Thomas) também publicada na Shôjo Comic; Waki Yamato criadora de Haikara-san ga Tôru (Haikara-san vai passar), lançada na revista Shôjo Friend. Essas autoras foram e continuam sendo referência para muitos mangakás, sejam artistas homens ou mulheres.
Mesmo que não tenham tido dificuldade em publicar mangá no Japão, elas merecem o respeito por quebrarem o universo machista da sociedade japonesa através dos mangás, mesmo que isso pareça não ter importância para eles.
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1 jornal disse que a % de autoras e leitoras no Japão é enorme ! Quase 60% dos mangakás no Japão são mulheres; Grande partes dos leitores no Japão são mulheres. Não há equivalente no ocidente !