Editora Guará e o modelo de negócio do quadrinho nacional

Almanaque GuaráConheça a estratégia da Editora Guará para se firmar no mercado de quadrinhos sem financiamento coletivo.

Com algum atraso recebi a primeira edição do Almanaque Guará (o terceiro número deve chegar em breve). Sem surpresas para quem já vinha acompanhando as publicações digitais da editora, o nº 1 trouxe histórias já vistas de Santo, Cidadão Incomum e Ecos. A novidade desse produto impresso, além da história Segundo Tempo (que preenche o espaço reservado para autores independentes dos dois primeiros números do Almanaque), é o formato que une um mix de histórias com assinatura.

“Mas a Panini faz exatamente isso com seus títulos mensais!”, poderia retrucar o leitor atento. Sim, mas não temos esse modelo para o quadrinho nacional. É muito mais difícil vender um material totalmente novo, de personagens e criadores desconhecidos do grande público, usando um modelo de negócio que depende da uma adesão de longo prazo dos leitores. Exatamente por isso é que o financiamento coletivo é o modelo econômico que mais viabiliza as HQs brazucas.

Numa ferramenta como o Catarse existem dezenas de quadrinhos buscando financiamento, além de artistas, editoras e lojas especializadas, podcasts sobre o tema etc. Lá cada um conta com a sua base de seguidores que sustentam os projetos. As recompensas e a constante troca com o publico pelas rede sociais fidelizam o público e a roda gira. Mas como produzir e publicar histórias em quadrinho no Brasil sem recorrer ao financiamento coletivo (e sem pagar os 13% que essas ferramentas abocanham)?

Guará e Guará

O antes e depois da Editora Guará

A Guará nasceu na esteira do sucesso do Doutrinador (de Luciano Cunha), e de outros personagens como Santo (que foi reformulado depois da saída de Cunha) e o Cidadão Incomum (que marcou a nova fase da editora). Nesse começo tumultuado a editora mirava os fãs de super heróis, com vários títulos e equipes criativas, emulando o modelo das grandes editoras dos Estados Unidos. As mudanças internas forçaram a editora a olhar para o mecado de quadrinhos BR de forma mais abranjente para se manter relevante, por isso agora a aposta da Editora Guará tem várias frentes simultâneas, como quadrinhos independentes e cursos.

51zucncjjzlO primeiro projeto de quadrinhos indepependentes (que não são gestádos dentro da editora, mas que a Guará escolhe através de uma curadoria e publica), foi Teocrasília, de Denis Mello (que contou um projeto no Catarse). O segundo projeto dessa linha foi o Kriança Índia. Inicialmente em formato digital, ganha agora uma compilação em capa dura. O autor (Rafa Campos Rocha), que já publicou trabalhos pela Venetta, Ugra Press e Compania da Letras, trás para a editora um público já formado, diferente do público de quadrinhos de super-heróis.

A entrada de Rapha Pinheiro no time da Guará (como editor) trouxe para a editora o projeto de cursos de desenho, roteiro e mentoria para produção de quadrinhos que ele já tocava. Tanto Rapha quanto Denis (de Teocrasília), estudaram em Angoulême (na França) e trouxeram de lá uma nova visão de como formar tanto o público quanto novos quadrinistas. A revista INKO (agora pela Guará), vai funcionar de plataforma para os alunos dos cursos mostrarem suas produções, para a editora descobrir novos talentos e para fidelizar o público.

No segundo número do Almanaque Guará, uma surpresa – o Guararafe. Um almanaque em miniatura com 24 páginas, todo em branco para que os leitores desenhem suas próprias histórias. Essa ideia se conecta com os cursos, com a curadoria de produções independentes e com a interação com os leitores.

É um modelo econômico mais complexo, mas que pode render mais frutos à longo prazo e, mais do que isso, pode ajudar a solidificar o mercado de quadrinhos nacional. Se der certo, outras editoras vão correr o risco de publicar autores e desenhistas brasileiros, disputando um público que participa e cada vez mais se reconhece nas narrativas. É uma bela iniciativa!

Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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