Porque nem só de quadrinhos vive o nerd.
Hoje vamos dar uma pausa nos quadrinhos e falar um pouco de RPG, sigla para role playing games. Taduzido ao pé da letra são jogos de interpretação de papéis. Mas não aqueles de videogame como Phantasy Star ou Elder Scrolls, nem mesmo os MMORPG (Massive Multiplayer Online RPG) como World of Warcraft. Não, vamos falar de RPG “de mesa”, que na minha época era chamado só de RPG. Não sabe o que é? Tudo bem, veja o vídeo abaixo e entenda.
Hoje a cultura nerd alcança os pontos mais distantes do planeta seja por meio de filmes, de séries e jogos, envolvendo meios – e públicos – diferentes, que não têm necessariamente contato com outros. Mas nem sempre foi assim. Houve uma época que ser nerd incluía todo um pacote. Era gostar de quadrinhos, de jogos de tabuleiro, de videogame, de RPG etc. até porque o acesso à essas coisas era muito limitado. Portanto, ser nerd na década de 70, 80 e talvez 90 era gostar ou pelo menos circular em meio a todas essas coisas – mas admito que talvez o RPG seja a mais hermética de todas.
O RPG foi importante para minha formação nerdística, sobretudo para a literatura. Foi por meio do RPG que conheci Tolkien, Dragonlance e tantos outros que expandiram meus horizontes, e isso também se deve à revista de RPG Dragão Brasil, que recentemente voltou à vida por meio de um financiamento contínuo.
O RPG também permitiu reconhecer que minha paixão sempre foram as histórias, não importando (e sem menosprezar) o meio pelo qual elas são contadas. Além disso o RPG me deu os meios necessários para dar vazão às minhas próprias histórias ao jogar como Mestre.
Os Quadrinheiros valorizam muito as equipes criativas produtoras de quadrinhos, sobretudo a figura do roteirista. Em nossas séries Guerra dos Roteiristas e Quadrinheiros Dissecam sempre damos atenção especial à biografia desses criadores. Mas foi somente ao folhear o livro Dungeons & Dragons – O Império da imaginação: a história de Gary Gygax, o criador do RPG mais famoso do mundo que percebi quão pouco conhecia sobre aquele que é considerado por muitos o criador do RPG e nada menos que um dos autores de Dungeons & Dragons, o RPG mais jogado no mundo (seja ele ou suas inúmeras cópias e variações).
Escrito por Michael Witwer, fruto de sua dissertação de mestrado, o livro é na verdade um romance (quase um roteiro de um filme made for tv) narrando a vida de Gygax, mas apoiado em sólidas fontes documentais. A leitura é fluida e cumpre bem o papel de mostrar como foi sua vida, seus os problemas com os negócios e família etc.
Leitura obrigatória se você curte RPG ou se quer expandir seus conhecimentos sobre o mundo nerd.
Aqui está apenas um incentivo. Listei aqui 5 pontos da biografia de Gygax que mais achei interessantes e/ou inusitados. Mas não se engane, a vida do criador do RPG é muito mais, por isso vale a pena a leitura do livro.
Escola
O RPG é encarado como uma diversão intelectual, porém seu criador ia mal na escola.
Família, casamento e jogos
Gygax casou-se com apenas 19 anos e aos 21 já era pai. Ele chegou a jogar sete vezes na semana e sua mulher suspeitava que estava tendo um caso. Ao chegar ao local onde o jogo estava rolando, ela ficou surpresa ao ver que de fato não havia nenhuma amante, apenas um bando de homens jogando ao redor de uma mesa. Depois disso o local dos jogos passou a ser a casa de Gygax.
Religião
Gary Gygax era Testemunha de Jeová, muito curioso dado que sua criação esteve diversas vezes envolvida com absurdos relativos à culto de demônios e loucuras semelhantes.
A polêmica capa de Dungeons & Dragons
Podemos dizer que quadrinhos de super-heróis e RPG fazem parte de um mesmo caldo cultural. Arriscaria dizer que começa na literatura pulp, ainda que de ramos distintos (nesse post você pode conhecer um pouco mais da relação entre literatura pulp e super-heróis). Já Gygax era fã de um subgênero conhecido como sword and sorcery (espada e feitiçaria), sobretudo as histórias de Conan, o bárbaro cimério criado por Robert E. Howard.
Essa proximidade pode ser notada na própria capa da primeira edição de Dungeons & Dragons, “inspirada” em uma ilustração interna de Strange Tales #167. Saiba mais sobre a influência do Doutor Estranho no Dungeons & Dragons aqui.
Ele NÃO gostava de Tolkien
Por incrível que pareça Gary Gygax não gostava da obra de J. R. R. Tolkien e inclusive chegava a se irritar quando eram estabelecidas comparações. Para Gygax o Dungeons & Dragons deve muito mais a Robert E. Howard do que a Tolkien.
De fato, Gygax foi muito inspirado em Robert E. Howard e Edgar Rice Burroughs, tendo escrito alguns livros de sword and planet na linha de John Carter, mas já li que ele negava Tolkien por conta dos direitos autorais, os halflings nada mais são que hobbits com outros nomes.mas anos depois, ele disse que foi muito importante
https://en.wikipedia.org/wiki/Sources_and_influences_on_the_development_of_Dungeons_%26_Dragons
Citei o Gygax em um texto sobre Conan
http://highcomics.blogspot.com/2017/01/os-quadrinhos-mexicanos-de-conan.html
Tem os dados do livro que tem essa biografia? Saiu aqui no Brasil?
Sim, segue o link: http://geral.leya.com.br/pt/biografias-memorias/dungeons-and-dragons-o-imperio-da-imaginacao/
Abraço.
O Quiof Thrull me indicou o link da matéria. Muito interessante, já tinha lido que apesar das semelhanças, D&D teria sido inspirado em outros romances medievalistas. Mesmo sendo filho direto dos wargames que estiveram presentes desde o século XIX para entusiastas.
Achei curioso citar primeiro Phantasy Star, e não Dragon Quest ou Final Fantasy como costumam fazer. Se for fã da série, lhe convido a participar do grupo “Phantasy Star Brasil”. (Fan-page e grupo) https://www.facebook.com/phanbrasil/
Saudações de Algol!
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