Qual é o problema da ONU com a Mulher-Maravilha?

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Entenda aqui.

Por Dani Marino*

Nem tivemos tempo de comemorar ou entender as implicações da escolha da Mulher-Maravilha como embaixadora honorária da ONU para o empoderamento de meninas e mulheres, a Princesa Amazona já foi destituída do cargo.

Sobre a importância dessa escolha, eu já havia conversado com o doutor Iuri Reblim, que é especialista em estudos da simbologia nas HQ de super-heróis aqui e uma rápida pesquisa nos textos dos Quadrinheiros irá revelar que, entre algumas funções que a arte e as obras de ficção possuem é a de nos fornecer recursos para lidar com a realidade ou de proporcionar reflexões acerca de certos temas.

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Por meio da ficção conseguimos projetar expectativas e angústias que nos ajudariam a resolver certos conflitos e, no caso específico da Mulher-Maravilha, há uma série de fatores que a colocam como uma das personagens mais populares das HQ e certamente, um grande ícone feminista.

O argumento mais contundente para a sua retirada do cargo é o que foi usado na petição enviada ao secretário geral da ONU, Ban Li-Moon, solicitando que ele reconsiderasse o anúncio. De acordo com os 45.000 signatários da petição, o fato de ela ser uma mulher branca sumariamente vestida, de seios fartos e proporções impossíveis, passaria uma mensagem extremamente negativa às mulheres.

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No entanto, o que estas 45.000 pessoas parecem ignorar é que mais negativa do que a mensagem que acreditam que ela passe é justamente julgar alguém, ainda que uma personagem fictícia, apenas por sua aparência, reduzindo seus 75 anos de história a uma única imagem.

Mulheres como Gloria Steinen, Gail Simone, Trina Robbins, Lilian Robinson e Christen Marston (sobrinha neta de Willian Moulton Marston, criador da MM) se manifestaram algumas vezes ao longo dos anos sobre a importância de Diana em suas vidas. Para Trina Robbins, uma das grandes pioneiras dos quadrinhos, a Mulher-Maravilha se tornou uma escrava de quem a desenhava ou escrevia depois da morte de seu criador, transformando-a em uma pin-up hipersexualizada.

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Ainda de acordo com Trina, as pessoas contrárias à sua nomeação como embaixadora honorária estão enxergando apenas esses anos de bagagem infeliz que a heroína carrega. Porém, muita coisa tem mudado desde “aqueles dias” e é urgente que essas pessoas leiam os títulos atuais das HQ da Mulher-Maravilha, que são respeitosamente escritos e lindamente desenhados, para que mudem de ideia.

Independentemente do posicionamento das pessoas sobre o assunto, promover uma campanha para um pronunciamento da ONU, com a presença de celebridades como Lynda Carter e Gal Gadot, envolvendo jantares e grandes gastos em publicidade para em menos de dois meses retirar o anúncio, é no mínimo uma atitude que compromete a credibilidade de um órgão de atuação mundial, pois a impressão que temos é que tudo não passa de uma grande brincadeira, afinal, tal atitude é pautada em uma petição baseada em argumentos muito superficiais diante do comprometimento de atuar em questões relevantes, como a luta pela diminuição das desigualdades de gênero no mundo todo e empoderamento de meninas e mulheres.

O que nos resta por agora, além de tentar mudar o quadro usando o mesmo recurso, é seguir lendo suas histórias e refletir sobre a importância de termos um ícone da cultura pop como representante de ações das Nações Unidas.

Em tempos que falamos tanto sobre representatividade, algumas ações nos lembram que a cada passo para frente, voltamos dois para trás.

*Dani Marino é colaboradora da Gibiteca Municipal de Santos e colabora com sites como o Quadro a Quadro e o Iluminerds, entre outros.

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2 respostas para Qual é o problema da ONU com a Mulher-Maravilha?

  1. Professor Lair Amaro disse:

    Estou interessado no assunto. Quais histórias da heroína você recomenda que eu leia?

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