Há exatos 5 anos o Velho Quadrinheiro fez o primeiro post nesse blog. De lá pra cá fizemos um canal do youtube, cursos, palestras e até um livro! Tem sido uma longa e gratificante jornada. E nesses 5 anos de Quadrinheiros, 5 motivos para ler quadrinhos!
1. Eleva o grau de raciocínio e de leitura
Scott McCloud nos explica em seu livro Desvendando os Quadrinhos que essa mídia ensina nossos cérebros a ler e digerir o texto que está nas entrelinhas, no espaço entre os quadros de uma página de gibi. Usamos nossa imaginação e habilidade inata para identificar padrões para juntar as partes de uma história que não são explicitamente desenhadas na página. Participamos ativamente da leitura, forçando nosso cérebro a ler de uma forma diferente. Se você já leu coisas como SANDMAN de Neil Gaiman, você sabe que os quadrinhos não são apenas uma sequência de quadros com imagens e texto.
Precisamos de uma grande dose de concentração para decodificar suas páginas, e ainda mais importante, o que o subtexto dessas páginas nos diz. Uma página de WATCHMEN de Alan Moore e Dave Gibbons tem vários níveis possíveis de leitura que vão desde a simples sequência narrativa de causa e consequência, até as referências históricas, gráficas, citações, emulações, paródias, críticas sócio políticas, análises psicológicas e filosóficas. Cada uma dessas camadas pode se insinuar na fonte escolhida para as letras do texto, no arranjo dos quadros em cada página, na escolha da paleta de cores, no ritmo, nas pausas. Pura arte.
2. Histórias em quadrinhos vão além dos super-heróis
Alguns exemplos. MAUS de Art Spiegelman é sem dúvida o mais famoso exemplo de excelência e profundidade da Nona Arte. Ele nos conta a historia de seu pai, um sobrevivente do Holocausto, e prova que mesmo as narrativas mais horríveis podem ser contadas de forma bela, com personagens cartunescos como ratos, cães e gatos.
Outro expoente é a série AMERICAN SPLENDOR de Harvey Pekar, que nos mostra as banalidades da vida cotidiana e sua experiência com o câncer.
FUN HOME de Alison Bechdel, fala sobre o divórcio de seus pais, sobre sexualidade, auto afirmação e a força e fragilidade das relações humanas. Existem quadrinhos sobre tudo, para todos os gostos, gêneros e fases da vida, e uma vez que você comece a lê-los, serão uma companhia para toda a vida.
3. Uma hq é uma gota em um oceano de histórias contadas e recontadas
Quando você começa a ler histórias em quadrinhos, você aprende que geralmente há um extensa narrativa anterior à sua disposição, produzida por diferentes combinações de autores e artistas. Neil Gaiman, por exemplo, trabalha com vários artistas de diferentes estilos, mesmo dentro de uma mesma série, fazendo com que tenhamos a sensação de uma constante mudança na aparência de seus personagens e cenários. É como se o mesmo universo nos estivesse sendo apresentado por diferentes pontos de vista, mesmo que as histórias saiam da cabeça de um único autor. Os filmes, games e séries de tv mergulham nessas águas e pescam alguns elementos para desenhar uma narrativa que faça jus aos personagens.
As diferenças entre as mídias levam a resultados diferentes que podem ou não agradar aos fãs, mas criadores como J. Michael Straczynski, Brian Michael Bendis, Olivier Coipel, Frank Quitely, e Grant Morrison escrevem e reescrevem histórias de super-heróis, expandindo nosso olhar e nossa compreensão sobre histórias em quadrinho, nos levando muito além dos filmes. Nenhuma outra mídia cria e recria os mesmos personagens, escreve e reescreve suas aventuras regularmente por quase 80 anos (falando especificamente da indústria de super-heróis dos EUA)
4. Quadrinhos de super-heróis são um elo com a História e Literatura
O BATMAN, escrito por Bob Kane e Bill Finger, que estreou em Detective Comics número 27, em maio de 1939, é um personagem mascarado, que usa uma roupa extravagante e resolve mistérios. É fácil ver a inspiração/plagio/homenagem a Sherlock Holmes no nascimento das histórias do Homem Morcego. Há muito a ser aprendido sobre história, teoria crítica e influências literárias por trás desses personagens já que suas aventuras vem sendo narradas por equipes criativas que viveram diferentes contextos históricos e têm valores, formação e visão de mundo muito distintas. Tudo isso influencia a criação dos personagens e o pano de fundo de suas aventuras. A Segunda Guerra Mundial, a corrida espacial, a Guerra Fria, o 11 de setembro, são marcos históricos que influenciaram fortemente a evolução dessa mídia, que no caso dos super-heróis dos Estados Unidos, convencionamos como Eras (de Ouro, Prata, Bronze, etc) dos quadrinhos.
Há muito mais do que mero entretenimento nas páginas de uma hq. Se você achou essa história em interessante, não perca nosso curso, que será realizado em 16 de julho. Informações no vídeo abaixo e inscrições aqui.
5. Quadrinhos são parte de uma rede de conexões que cruzam narrativas de diferentes mídias
A leitura de quadrinhos é a conexão para quase todas as plataformas da cultura pop. Hoje o cruzamento entre as mídias é muito grande. Quadrinhos se tornam séries, filmes, games e vice-versa, não só como adaptações, mas para continuar uma história. Só para ficarmos com um exemplo, INTERESTRELAR de Cristopher Nolan recorrem à Nona Arte para desenvolver o que não foi mostrado no filme.
É isso. Um motivo para cada ano. No mais, gostaríamos de agradecer a vocês que nos acompanham no blog, no Facebook, no canal do Youtube, nos cursos e palestras. Muito obrigado!