O SINGULAR ASTRONAUTA: Mauricio de Sousa apresenta seu Übermensch

astro1“Se Astronauta está no que poderíamos chamar de faixa de normalidade, a resposta é não. Mas o que devemos esperar de alguém disposto a arriscar a própria vida a cada missão, sempre enfrentando o desconhecido, o inesperado?”


Astronauta-Singularidade-Capa1

SupermanBatman_53_page_1_by_BakanekoneiEmbora não fosse bem essa a intenção do Nerdbully ao discutir a figura do Übermensch, em seu último post, ele meio que demarcou as balizas do super-heroísmo nos quadrinhos. De um lado, o homem perfeito, referencial do que uma pessoa deve almejar ser. Do outro lado, o homem que se aperfeiçoa, modelo da disciplina que uma pessoa deve ter para superar o que todos imaginam ser o limite. Então, temos uma curiosa régua de duas medidas que não são opostas. Com ou sem poderes, você deve querer ser o Superman e, portanto, deve ser o Batman.

Você talvez não tenha percebido, mas toda a experiência de quadrinhos super-heróicos é constituída dentro desse modelo: há a perfeição a ser alcançada e o imperfeito que tenta chegar lá (ou fugir disso — depende do roteirista) pelos caminhos mais diversos. Essas balizas talvez não sejam representadas na forma de personagens, mas são sempre claras.

astro2

conteudo_91982Em tese, heróis são figuras inspiradoras, modelos daquilo que todos nós deveríamos ser. Na prática, heróis são figuras únicas, raras, mesmo na realidade das histórias-em-quadrinhos. Por isso, Singularidade talvez seja um dos melhores títulos já criados para uma HQ. No primeiro nível da leitura, o título claramente se refere ao buraco negro, pano-de-fundo de mais uma aventura do Astronauta. Num nível um pouco mais profundo, ele trata do próprio Astronauta, que se configura como esse homem-imperfeito-mas-perfectível que é o Übermensch, uma pessoa única.

Astronauta-MagnetarContinuação direta da história apresentada por Danilo Beyruth em Astronauta: Magnetar (2012), Singularidade pode ser entendida como a primeira incursão séria de uma personagem mauriciana no gênero dos quadrinhos heróicos. Se, em Magnetar, o Astronauta tem uma espécie de segundo chamado para uma jornada ainda mais profunda ao desconhecido, em Singularidade, ele sabe que seu papel não é de uma mera testemunha de eventos singulares, mas de interferir nos acontecimentos e proteger um mundo em que de fato ele não vive.

Há que se pensar se o Astronauta de Beyruth é mesmo mauriciano ou se já rompeu o limite da releitura para se tornar uma recriação.

astronauta-03

astronauta-singularidade-danilo-embateA distância se dá no nível do estilo narrativo. Mais do que o traçado menos estilizado de Beyruth, o que certamente salta aos olhos de leitores acostumados à narrativa mauriciana (e quem não está?) é a seriedade e dramaticidade da história. Não que estejamos diante de um roteiro complexo e ácido como o de um Moore, Morrison, Gaiman ou Ellis, mas é algo certamente muito diferente da leveza e jovialidade do estilo mauriciano. Mais uma vez, Astronauta enfrenta a morte. E, desta vez, ele tem um inimigo real pela frente, que não pode ser vencido só pela razão, precisa dar porrada (e muita) pra vencer.

Astronauta PereiraMas o Astronauta de Mauricio de Sousa não é um simples embrião. Ele é a origem, de fato, do Astronauta heróico de Beyruth. Seu nome é mesmo Astronauta Pereira (não, ele não tem um irmão chamado Marinheiro ou uma prima chamada Aeromoça), ou seja, ele nasceu com um propósito. Teve uma infância sossegada na Fazenda Tangará, em algum lugar colado na Via Dutra, onde viveu até ser recrutado pela NASA como o primeiro astronauta brasileiro. Sem entender o que estava acontecendo (seu recrutamento foi fruto de uma confusão causada pelo vizinho General, confundido pela NASA com um militar de verdade), astro3Astronauta deixa a fazenda, recebe o traje dos homens-geléia, encontra a nave numa base dos homens-metálicos na Lua e salva a Terra de uma invasão. A partir daí, começa sua aventura solitária pelo universo. Ele encontra outras civilizações, enfrenta perigos dos mais diversos, salva a Terra e outros planetas de várias crises, é forçado a abrir mão do grande amor da vida… Todos os passos da jornada heróica estão aí, ainda que em doses pequenas e soltas.

A série Graphic MSP tem como propósito apresentar releituras de personagens mauricianas por outros artistas e escritores. Mas, se o salto do Astronauta para fora da zona segura (em Magnetar) representava a abertura de novos horizontes para a produção da MSP, Singularidade mostra o Astronauta como uma figura suficientemente sólida para se tornar um dos pilares de uma nova onda mais duradoura de quadrinhos heróicos brasileiros. Resta saber se há interesse de Mauricio de Sousa e de Danilo Beyruth em esticar e mudar os termos da parceria, mas, sem dúvida, o mercado está mais do que pronto para explorar o desconhecido à bordo da esfera laranja.

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Sobre Quotista

Filipe Makoto Yamakami é historiador, professor, músico amador, twitólatra, monicólatra, etc. E realmente precisa de um emprego que lhe permita pagar as contas. @makotoyamakami
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