Educação e revolução: Wolverine e Ciclope na disputa pela juventude

******* ATENÇÃO *******

***** HÁ SPOILERS SOBRE A SAGA X-MEN x VINGADORES QUE ESTÁ

SENDO LANÇADA ESTE MÊS NO BRASIL!!! TEJE AVISADO!!! *****

A revolução é o oposto da educação.

Desde de ser possuído pela Força Fênix na saga X-Men versus Vingadores, Ciclope, veterano líder dos X-Men, quis “pacificar” o mundo, deu um ultimato na ONU, declarou guerra contra os Vingadores, quase matou Emma Frost (sua namorada), brutalizou vários de seus colegas X-Men e por fim assassinou o Prof. Xavier, seu mentor e figura paterna desde a infância. Tudo em nome da preservação da raça mutante.

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Na contra-mão, Wolverine, cada vez mais o paladino do universo Marvel, foi o 1º a desertar das fileiras de Ciclope. Voltou para os escombros da velha escola Xavier em Nova York e fundou sua própria instituição de ensino, a Escola Jean Grey para Jovens Super-Dotados. Auxiliado por Kitty Pryde, Fera, Tempestade, Homem de Gelo e outros antigos X-Men, Wolverine tem se dedicado a ensinar jovens mutantes a viver num mundo que ainda teme e odeia mutantes. Mas com uma diferença: seus alunos são ensinados a aceitar e proteger esse mundo, não a rejeitá-lo.

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Estas duas concepções tem sido o mote das revistas Uncanny X-Men e All New X-Men, ambas escritas com óbvia satisfação por Brian Michael-Bendis, roteirista de 1ª linha da Marvel nos últimos dez anos.

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Uncanny X-Men, uma revista de tom belicista, narra as ações de Ciclope, agora um inimigo público internacional, líder de uma milícia terrorista disposta a reunir mutantes de todo o mundo para realizar a grande revolução mutante.

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Quando fala, Ciclope é grandiloquente, professa ideais, causas, sacrifícios. Os mutantes devem conquistar seu espaço a força. É honesto em suas convicções e esse é o problema. Elas inspiram o sentimento de rebeldia dos jovens mutantes que ele recruta com o auxílio de Magneto, Illyana Rasputin (a diabólica irmã de Colossus), e da própria Emma Frost. As ações do grupo normalmente terminam em desastres, mortos, feridos e muita destruição.

All New X-Men traz um novo ingrediente, saboroso, que só os quadrinhos e os leitores mais pacientes são capazes de conceber: os primeiros X-Men, Fera, Homem de Gelo, Anjo, Jean Grey e o próprio Ciclope, adolescentes que ainda estavam no início da “carreira” no passado, foram trazidos para o presente. Nele, Jean Grey está morta, Ciclope virou um vilão e os outros sofreram duras tragédias. Chocados com esta realidade, estes jovens X-Men são colocados sob a guarda de Wolverine e sua escola, na tênue esperança de neutralizar as ações extremas de Scott Summers.

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All New X-Men se dedica à rotina, ao cotidiano e trivial do universo mutante. Como conter seus poderes telepáticos, como ser educado com seus colegas, como aceitar aquilo que é diferente, estranho e assustador por mais difícil que isso seja. Mas o aprendizado não é só dos mais jovens. Kitty Pryde, que anos atrás tinha sido a caloura da Escola Xavier (e alvo do bulliyng de Jean Grey), agora tem os X-Men originais como seus pupilos. Seu desafio é ser uma boa professora, um delicadíssimo equilíbrio entre intervir e se conter.

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Uncanny destila os fundamentos da rebeldia, da convicção, de como uma vida passional preenche todos os aspectos da vida sufocando tudo aquilo que não diz respeito a mudar o mundo. Não por acaso, Ciclope e seus acólitos estão sempre mudando, escapando de autoridades, policiais e outros heróis. A revolução mutante é uma fuga.

All New aborda os detalhes do convencional, dos pequenos eventos, erros ou breves sucessos que compõem a realidade. É difícil imaginar Ciclope indo ao banco, pagando contas, lavando louça. Ou então lidando com experiências assustadoras como falhar no trabalho, sustentar uma casa ou cuidar de um pai doente. Todas essas são referências mais ou menos diretas nas páginas da revista All New X-Men. Educar, na escola de Wolverine, é aprender a lidar com o inevitável.

Juntas, as duas revistas incitam uma variedade de reflexões.

Como lidar com o fato de que um dia você estará morto?

Qual é a diferença entre remediar e seguir em frente?

O que você pensaria do seu eu do futuro? Você ficaria desapontado com o que se tornou?

Como ter certeza de que se tomou as decisões certas na vida?

De quem são as ideias que você escolheu seguir?

Qual vai ser seu legado?

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Enquanto os X-Men tentam responder essas questões, o leitor sente a papável tensão da inevitabilidade. Cedo ou tarde, educação e revolução serão postas em cheque. Ciclope e Wolverine, o terrorista e o professor, terão que testar o sucesso de suas opções. A torcida é de que esse nó seja desatado pelo próprio Brian Michael Bendis, um sopro de serenidade nos quadrinhos mainstream atuais.

Sobre Velho Quadrinheiro

Já viu, ouviu e leu muita coisa na vida. Mas não o suficiente. Sabe muito sobre pouca coisa. É disposto a mudar de idéia se o argumento for válido.
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7 respostas para Educação e revolução: Wolverine e Ciclope na disputa pela juventude

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  3. Cris disse:

    Deliciosa leitura… a poeira debaixo do meu tapete psíquico acabou por aparecer…

  4. Igor Pontes disse:

    Excelente texto! Ainda falta no Brasil mais textos desse gênero.
    Também escrevo sobre quadrinhos, e tento buscar nos quadrinhos temas de filosofia, curtirei teu blog e vou continuar lendo, parabéns e até breve.

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