Destruindo Clássicos: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller – Parte 2: O terrorismo do Cavaleiro das Trevas

Quase uma semana se passou desde que vocês leram o post anterior, nossa primeira parte do Destruindo Clássicos com O Cavaleiro das Trevas. Xingaram esse modesto autor,talvez até saibam que tenho razão (mas xingaram mesmo assim) ou ainda acharam todos meus argumentos infundados. Porém algo os trouxe até aqui, como aquela curiosidade mórbida que nos impele a olhar cenas grotescas. Então, aqui está para vocês os golpes finais (e quiçá fatais) nessa “obra-prima” de Frank Miller.


Livro 3: A Caçada ao Cavaleiro das Trevas

Ao mesmo tempo que torna evidente o fascismo de Batman ele também o disfarça. Batman persegue Bruno, um ex-membro da gangue mutante com suásticas desenhadas no peito e nas nádegas, como se Miller dissesse ao leitores: veja, não é o Batman que é um fascista, são seus inimigos.

O conflito com Superman começa a se anunciar, simbolizando o governo americano. Batman é perigoso para o governo, se está contra o governo não pode ser fascista, certo? Errado. Batman poderia ser descrito como um terrorista de direita, como o Unabomber e, mais recentemente, o jovem Anders Behring Breivik na Noruega, que pode ser resumido da seguinte forma: “Se o Estado ou a Sociedade não podem garantir direitos, eu os garantirei”. O governo não está em Gotham, não protege seus cidadãos: Superman está lidando com uma crise internacional na localidade fictícia de Corto Maltese. Parece que Miller passa mais um recado aos leitores: o governo dos EUA está mais preocupado com o que se passa fora do seu país do que dentro. O Estado há muito falhou em Gotham City.

Mas ainda há outro conflito, central nessa parte da trama, contra o Coringa, seu arqui-inimigo. Batman é a única barreira entre a loucura do Coringa e a população, o Estado não o deterá, ao contrário, acaba de liberá-lo – ainda que por pouco tempo – do Arkham -, portanto toda violência exercida pelo Batman está justificada para “defender a sociedade”. Batman está decidido a acabar de vez com o Coringa, quer matá-lo, mas não consegue. “Vozes me chamam de assassino… eu gostaria de ser…” pensa o Morcego. O limite ético e moral da preservação da vida não existe mais, Batman quer ser um assassino.

O Cavaleiro das Trevas sente-se culpado (e também a mídia o culpa) por todas as mortes causadas pelo Coringa, tomando uma decisão sem precedentes: deixa o Coringa tetraplégico (e por que não o matou, uma vez que ele mesmo expressa esse desejo? Um veto editorial, talvez? Uma linha que nem Miller ousou transpor? Jamais saberemos), mas o Palhaço do crime acaba por cometer suicídio, enquanto o Morcego apenas observa, livrando-o da culpa de ser um assassino.

Nota: veja que a trama do senador que enlouquece e pede um ataque nuclear a Corto Maltese é a mesma utilizada em Elektra Assassina… Miller se supera na originalidade.

Livro 4: A Queda do Cavaleiro das Trevas

O conflito contra o Superman atinge o ápice no capítulo final da obra. O Super não consegue impedir a detonação de um míssil lançado pelos soviéticos (estávamos em plena Guerra Fria quando Miller escreveu seu “clássico”) que gera um grande impulso eletromagnético e causa um apagão em Gotham. O caos está prestes a se instalar na cidade e Batman cavalga em direção aos ex-Mutantes, agora Filhos do Batman.

Eles estão num lugar conhecido como A Fossa e por um momento Batman se coloca no mesmo nível de seus seguidores quando diz: “Um campo de procriação para ratos e insetos. Alguns ratos voam”. Batman decide usar seus seguidores para manter a situação sobre controle e discursa: “Nossas armas são silenciosas… precisas. No tempo certo, eu lhes ensinarei como devem ser usadas. Esta noite, vocês usarão só os punhos… e o cérebro. Hoje nós somos a lei. Hoje, eu sou a lei”. O Superman, o Estado, falhou. Batman vai fazer o que o Estado não foi capaz, mas sem nenhuma legitimidade.

Já no caos, sem o Estado para coagir ou garantir qualquer coisa, em Gotham se instaura uma espécie de guerra de todos contra todos. Seus habitantes voltam ao estado de natureza hobbesiano e é um cidadão que diz: “Não existe desculpa pro que fizemos. Não estávamos loucos. Simplesmente viramos um bando de animais egoístas”.

Batman e seus seguidores finalmente colocam as coisas em ordem em Gotham, mas ainda resta um inimigo… o Superman. Após uma batalha épica, Batman simula um ataque cardíaco, forjando sua própria morte. Superman descobre a farsa, mas não mais perseguirá o Morcego. Em troca, este agirá secretamente com seus seguidores, os Filhos do Batman. Frank Miller deu o seu recado: sem repressão volta-se à guerra de todos contra todos. Quando o Estado falhar – e ele falhará -, alguém deverá reprimir e dirigir a população. E o Cavaleiro das Trevas está aí para isso.

*

E depois de tudo isso escancarado para os leitores desde a década de 80, as pessoas se surpreenderam quando Frank Miller se posicionou de maneira desfavorável ao movimento Occupy Wall Street:

“O ‘Occupy’ não passa de um bando de turrões, bandidos e estupradores, uma turba indisciplinada, vivendo da nostalgia de Woodstock e de fétida e falsa honradez. A única coisa que esses palhaços conseguem é fazer mal à América”.”

Então o que faltou no OWS para Miller foi a figura de um líder capaz de guiar a turba, para transformá-la em massa. Parece que movimentos baseados na autogestão o fazem temer o que as pessoas são capazes de fazer. E isso é óbvio, pois na concepção do autor, quando não há repressão volta-se à guerra de todos contra todos.  Mas o medo de uma juventude que não respeita mais o Estado nem possui um líder transparece ainda mais quando diz que o OWS:

“não é mais do que uma modinha criada por moleques mimados de iPhones e iPads na mão que deviam sair da frente de quem quer trabalhar e procurar emprego (…) Em nome da decência, voltem para casa do papai, seus medíocres. Vão para o porão da mamãe brincar de Lords Of Warcraft”.

A solução para essa juventude? Simples, alistarem-se no Exército! Nesse ponto Alan Moore foi pontual e certeiro:

“[O OWS] é um grito justificado de ultraje moral e parece que está sendo conduzido de um jeito pacífico e inteligente, o que provavelmente é outra razão para Frank Miller ficar tão desagradado. Tenho certeza de que se fossem uns jovens vigilantes sociopatas com maquiagem de Batman na cara [os Filhos do Batman] ele seria bem favorável.”

Mas ok, acho que vocês já entenderam a posição política de Frank Miller. E quais os efeitos de sua interpretação do Batman para o cânone do herói?

Podemos notar um certo “movimento pendular” no personagem. Infantilizado pela série com Adam West, O’Neil e Miller tiveram que brutalizá-lo para que fosse novamente respeitável por alguém com mais de 10 anos. Porém esse Batman dos anos 80 que Miller ajudou a criar era simplesmente um psicopata compulsivo e violento.

Até certo ponto o Batman reprimido, repressor e inseguro que vemos na célebre graphic novel Arkham Asylum: a serious house on a serious Earth (escrita por Grant Morrison e desenhada por Dave McKean, publicada apenas três anos após O Cavaleiro das Trevas) é uma crítica a essa concepção consolidada por Miller. Nela, vemos que esse Batman precisou entrar e sair sozinho no Arkham, como o herói arquetípico que deve passar pelo ventre da baleia, para se livrar da herança de Miller e renascer como um autoconfiante guerreiro zen, um verdadeiro herói, na mais pura acepção do termo.

Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
Esse post foi publicado em Nerdbully e marcado , , , , , , , , , , , , , , , . Guardar link permanente.

50 respostas para Destruindo Clássicos: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller – Parte 2: O terrorismo do Cavaleiro das Trevas

  1. Pingback: Destruindo Clássicos: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller – Parte 1: O fascismo do Cavaleiro das Trevas | Quadrinheiros

  2. Ben Hazrael disse:

    Muito boa sua analise. Essa, depois de V de Vingança, é minha HQ preferida. Escrevi uma resenha de BTDKR para eu blog, mas com uma perspectiva um pouco diferente do Batman enquanto agente político. http://cabaredasideias.com/2011/05/27/batman-o-cavaleiro-anarquista-das-trevas/
    Abraço!

    • Nerdbully disse:

      Bom, um texto é um texto e sempre está aberto para interpretações, mas não vejo um anarquista no Batman do Frank Miller, no máximo ele se inscreveria na tradição do libertarismo americano de direita, mas, como disse, pra mim ele é um fascista-terrorista. Passe sempre por aqui, é bom saber que temos leitores gabaritados.

      • Ben Hazrael disse:

        Clássico é clássico, sempre gerando debates e nas mais diversas línguas. Acredito que o Batman TDKR nos impõe uma dificuldade em situa-lo exatamente numa escala política que vai o libertário ao autoritário. Até mesmo que a relação entre agencia e estrutura, na HQ, é muito móvel. E por isso, diante do cenário político e social da história, “desmancha no ar” as classificações, inclusive a minha. Batman seria um “ditador” no sentido clássico romano, como o foi César na transição da República para o Império?

      • Cássio disse:

        Não sei se entendi bem, mas você parece relacionar o fascismo à direita. Essa relação é bastante perigosa, em termos conceituais. Em primeiro lugar, porque os movimentos fascistas/totalitaristas tanto podem assumir uma roupagem conservadora (o que lhe colocaria mais próximo à direita conservadora) quanto uma roupagem progressista (o que lhe aproximaria de parte da esquerda e da direita liberal – entenda “liberal” no sentido de liberalismo político e não necessariamente econômico). Em segundo lugar, porque tanto o fascismo italiano quanto o nazismo alemão (que, ao lado do socialismo soviético, são os mais famosos exemplos de experiências autocráticas) possuíam como inimigos evidentes o liberalismo e o socialismo.

        Ou seja, não é seguro relacionar o totalitarismo a uma determinada posição política (sob pena de esvaziar o conceito de totalitarismo).

        Ora, o regime militar brasileiro (um exemplo de regime autoritário) é comumente associado à direita. Em parte, a associação é verdadeira, já que os ideais do golpe de 1964 são/eram compartilhados pela direita conservadora. Mas, não pela direita liberal. Por outro lado, o regime de 64 se caracterizava pela forte intervenção do Estado no domínio econômico e social (Geisel foi um exímio estatizador, a ponto de Lula admirá-lo por isso – http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,lula-celebra-geisel-em-belo-monte,544519,0.htm). E, até a pedras sabem, que o modelo de Estado interventor não é o preferido pelos liberais (aqui, uso o termo liberais para identificar o pensamento político herdado da revolução gloriosa – me refiro aos liberais, herdeiros da revolução gloriosa). O modelo de Estado preferido pelos liberais é o de Estado Mínimo (quase um guarda noturno, encarregado apenas de serviços públicos essenciais, como a jurisdição, a defesa externa e a segurança pública).

        Gostei do seu texto pela proposta da crítica (muito embora eu não concorde com a “pretendida” destruição da obra – mas, num ambiente plural, a discordância é natural).

        Só faço esse alerta: é perigoso, sob pena de você esvaziar o conceito de totalitarismo, identificar o fascismo com a direita. Por quê? Porque essa identificação automática leva os incautos a acreditar que só regimes de direita são totalitários.

        Bom, Sigamos.

        Discordo, em parte, de você na identificação do posicionamento político do Batman de Miller. Não consigo, por exemplo, distanciar o posicionamento político atribuído pelo Miller ao Batman daquele assumido pelo Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite. Tanto Batman quanto o Capitão Nascimento são sujeitos autoritários e um perigo desastroso para grupos minoritários. Apenas nesse ponto eu concordo, pela pauta homogenizante e totalizante – no sentido de que o autoritarismo revelado na obra esvazia qualquer pretensão de pluralismo -, que Batman tenha características fascistas. Mas, nunca por ele demonstrar um comportamento típico de direita. Tanto a direita conservadora quanto a esquerda intervencionista podem eliminar direitos e liberdades fundamentais.

        Sua conclusão, à primeira vista, passou a ideia de que seu texto foi forjado como uma reação à crítica de Miller ao OWS (talvez por você se identificar com o movimento). Isso, com o devido respeito, empobrece a crítica (sobretudo diante da constante presença de vícios de raciocínio). Em alguns pontos você critica o autor sob o pretexto de criticar a obra, o que deixa transparecer a falácia do seu argumento (a falácia do “argumentum ad hominem”, para ser mais específico).

        Bom, essa é minha crítica à crítica. rs Espero que não leve a mal (estou apenas contribuindo com uma visão divergente, que pode – ou não – aperfeiçoar sua crítica).

        Saudações.

      • Nerdbully disse:

        Bom, vamos em partes:

        1) Do mesmo modo que Direita é maior que Liberalismo, Esquerda é maior que Socialismo. O raciocínio: “é contra o Estado liberal, logo não é de direita, pois a direita defende o Estado liberal” é que é falacioso.

        2) Até concordo, e é um tanto óbvio, que o totalitarismo pode ocorrer tanto à esquerda quanto à direita, mas o Batman de Frank Miller é um fascista “de direita”, como mostrado no texto, assim como o Superman de “Red Son” escrito por Mark Millar é um fascista “de esquerda”. Se no texto fascismo apareceu identificado com a direita é porque ele se limitou a falar do Batman de Miller.

        3) Não uso o conceito de totalitarismo, que implicaria num Estado, mas o de fascismo. Entendo o motivo de você ter trazido o conceito para a discussão, uma vez que o fascismo foi historicamente localizado com experiências totalitárias, no entanto também temos o fascismo que se manifesta no dia a dia, nas pessoas, em cada um e este não precisa de um Estado totalitário para se manifestar, assim como o Batman da hq também não precisava.

        4) Ao contrário, o texto mostra a posição política de Miller sobre o OWS para mostrar que a visão dele sobre o movimento era a mesma de sua visão de mundo desde a época que escreveu o Cavaleiro das Trevas, como muito bem notou Moore.

        5)É óbvio que não compactuo com a visão política de Miller.Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Assumir isso não empobrece, mas enriquece, a análise, uma vez que pode haver um debate sem o escudo do “argumento isento”.

        Saudações.

    • Ada Lovelace disse:

      Bom, tenho acordo com toda a análise feita sobre o fascismo em Batman: O cavaleiro das trevas.
      Só queria pontuar que me dei ao trabalho de ler a análise que Ben Hazrael fez, aproximando-o com o “anarquista das trevas” e fiquei realmente assustada. Ou com o total desconhecimento sobre o que é o anarquismo, ou com a falha gravíssima na percepção do quadrinho.

      Escrevi uma resposta a este último texto no blog original, mas replico-a aqui, pois acho importante que esta análise sobre o anarquismo não siga sem nenhum debate.
      Segue:

      “Cara, com todo o respeito, mas essa análise que você faz do cavaleiro das Trevas com o anarquismo é um deserviço para a humanidade.
      Bom, vamos começar pela primeira constatação: vc realmente não fala em ‘anarquismo”, mas sim cita “anarquia”. Entendo que você possa não ter nenhum conhecimento sobre anarquismo e por isso escreveu este texto com o que você julga ser anarquismo, mas repito: esta postagem é um deserviço para toda a luta anarquista.

      O anarquismo jamais pregaria uma “faxina” em cidade nenhuma, este é um movimento que compreende as dificuldades sociais e as soluciona de outra forma que não este extermínio em massa e desenfreado praticado por este Batman aí.

      Batman tbm jamais poderia ser um anarquista, pois anarquistas não se propõem lideranças de juventudes perdidas, pelo simples fato de que não se propõem lideranças.

      Na sua frase “Batman representa a Anarquia, mas não o caos, mas não a clássica “anarquia”, mas um modelo hard de anarquia, controlador e autoritário, necessariamente autoritário neste momento” vemos a completa aberração de sua análise. O que você quer dizer com a ‘clássica’ anarquia???? de onde vc tirou que um modelo ‘hard’ de anarquia seria um modelo onde os meios justificam os fins? e estes meios seria necessariamente o autoritarismo????

      Também acho que você tomou ‘cervejas pretas’ demais quando fez a ligação entre o Cavaleiro das Trevas e V de vingança. Não há absolutamente nada que ligue as duas histórias, nada.

      O anarquismo, mesmo aqueles mais insurrecionistas, pregam a destruição de simbolos de poder, nunca, jamais, uma destruição de uma população. O nomde disso é outra coisa e se chama: fascismo norte-americano.”

      Também gostaria de ressaltar que a ação de Batman contra o grupo de jovens nazistas não é meramente para dizer “olha só não sou fascista”, mas sim afirmando uma clara política estadounidense de monopólio da violência contra todos que não sejam norte-americanos. Os EUA são os únicos, segundo eles próprios, verdadeiros exemplos de democracia e exemplo político. Por isso somente eles teriam o direito de invadir territórios e destruir nações. Nem mesmo os nazistas teriam este direito. Supremos só mesmo os Estados Unidos da América.

      Pronto, escrevi com pressa e nem vou reler. Fica aí o debate.
      e parabéns pelo blog! eu não conhecia e confesso que sempre fico mto receosa com bolgs de análises sobre quadrinhos pq não achava possível um blog com posicionamentos críticos a este nível. Sempre tive a sensação que apaixonados por quadrinhos tinham, quase que obrigatoriamente, uma identificação emocional com as posições político-culturais norte-americanas.

      PS: evidentemente meu e-mail aqui linkado é fake, mas vcs não ficarão bravos né? 😉

      • Ada Lovelace disse:

        Só lembrando que quem faz “faxina” nas cidades são os governos higienistas que estão, só para dar dois exemplos, nos governos de São Paulo e Rio de Janeiro. Isso se chama gentrificação.

  3. Ramon disse:

    A análise é boa e é acertada. O Batman de Miller é SIM um vigilante facistóide que tem como objetivo impor ao mundo que o cerca uma ordem, a dele, a única certa. E que chega ao ponto de relativizar seus pudores e parâmetros éticos para realizar isso. Se assume, na conversa com o Superman, um criminoso. E SIM, as posições políticas do Miller sempre foram conservadoras, e sempre estiveram em todas as obras dele. 300 mesmo é um show de erros históricos porque ele quis enfiar suas convicções políticas em um contexto muito distinto do dele. Mas sua análise tem um problema sério: julgar a obra como ruim por isso. Você mostrou que o Cavaleiro das Trevas não é um quadrinho de herói. Ótimo, você está certo. Mas isso não torna a história ruim ou mal construída. É uma tremenda HQ, bem narrada, com momentos muito tensos e que leva a discussões muito interessantes sobre a época em que foi feita e o próprio papel de um caráter heróico em sociedades como a nossa. E ainda tem o mérito de que a verborragia enjoada do Miller está bem feita. O Batman de Miller não é um herói, é um vigilante, e o Cavaleiro das Trevas é uma história sobre vigilantismo com posições políticos extremamente contestáveis. Mas é muito boa ainda assim. Não concordarmos com a posição do autor não é razão pra desmerecer o trabalho dele quando feito com qualidade. Mas bem bacana a análise, pontuou tópicos importantes.

    • Nerdbully disse:

      Realmente a história não chega a ser mal construída, mas como disse na parte 1 do post essa é a receita do bolo do Frank Miller aplicada ao Batman. Se não fosse o Batman ali acho que gostaria mais. Na minha modesta opinião o que o Miller fez com o Batman foi desnecessário. Obrigado pelo comentário, Ramon. É para leitores atentos que fazemos esse blog.

    • Isso, exatamente isso que eu tentei dizer na parte 1 do review. O autor do post faz uma baita confusão ao misturar sua posição política, a enxergar a qualidade da história e sua narrativa. E quem tá preocupado se as ações do Batman estão certas ou erradas, quando a grandiosidade desta obra, é exatamente como o Miller conseguir construir um Batman e uma Gotham tão convincentes e realista? O modo como ele mostra como o Batman se perdeu, do que ele foi outrora (e nessa parte que o autor do post se perde totalmente, monstrando que não conseguiu entender que este Batman, mais velho, não é o de outrora, que o peso da idade e o cinismo o dominaram quase que totalmente). E não há mocinhos ou bandidos, se o Batman é um fascista, o governo e o Superman são uns hipócritas, e é essa sujeira para todo lado, que torna a história tão fascinante, essa dualidade de sentimentos que desperta no leitor. Essa Gotham, esse mundo criado por Miller em O Cavaleiro das Trevas é um mundo terrível, e Miller conseguiu passar isso para o leitor. Obra fantástica.

  4. Henrique disse:

    Ótimo texto.

  5. Koppe disse:

    Eu nunca tinha visto a HQ por esse ângulo, mas faz sentido. Esse Batman é muito parecido com o Rorschach, alguém que quer “forçar o mundo a fazer sentido”. A diferença é que ele não é um pobretão munido apenas de uma máscara e de uma obsessão, ele tem muitos recursos pra colocar em prática o que pensa.

    O filme “Batman Cavaleiro Das Trevas”, apesar de não ser baseado fielmente na HQ, faz um desfavor parecido. Nele o Batman comete os mesmos abusos que o governo americano cometeu na “guerra contra o terror”: ele tortura pelo menos um prisioneiro, viola a privacidade dos cidadãos e mente para esconder a verdade do povo. Miller deixou mesmo sua marca no personagem.

  6. CharlessRod disse:

    Muito bacana o texto, comentei no outro tbm pq achei uma analise certeira, é impossível ver o Batman de Miller como um herói, alias, na minha opinião é impossível ver qualquer herói como herói, uma vez que se tem a necessidade de impor uma ideologia nos personagens, seja o fascismo, anarquismo, patriotismo ou todos os outros “ismos” que envolve um herói, acho que é por isso que gosto tanto dos ‘anti-heróis’ como Deadpool e Spawn, apesar de suas histórias não serem uma GRANDE OBRA seu heroísmo acidental durante suas buscas egoístas acabam por serem muito mais humildes e mais HUMANAS!

  7. Queops Negronski disse:

    Fechou com chave de ouro a dissecação desse clássico. #respeito

    • Nerdbully disse:

      Repetindo o comentário: Obrigado. O debate e a divergência de opiniões são coisas boas, mas também é bom saber que há leitores no mesmo fluxo.

  8. Jones disse:

    Ótima análise! Inclusive percebe-se claramente a posição política de Miller nos debates na mídia.O psicólogo (ou psiquiatra?) ao discutir com a jornalista Lana é mostrado como alguém soberbo, tolo e sem caráter, em busca de promoção. Enquanto a jornalista é mostrada como uma mulher inteligente, indignada e consciente da terrível situação de Gotham. Ou seja, para Miller, os profissionais liberais são incautos e desprovidos de caráter, em resumo: hipócritas. Tenho a graphic novell e é uma das minhas histórias favoritas, mas sem li com um certo desconforto. Fora isso é a única coisa que gostei do Frank Miller. Acho ele um autor muito pobre. Tirou a sorte grande quando escreveu O Cavaleiro das Trevas.

    Em alguns comentários, vi que alguém tentou desconstruir de forma matreira sua crítica. Apesar de deter de certos conhecimentos, esta pessoa o aplica de forma errada, subvertendo conceitos. Parabéns pela crítica.

  9. Ok, gostei da análise. Entendo que Frank Miller consolidou uma visão específica, a qual você é contrário. Entendo, também, que a Graphic Novel continua genial, especialmente pela maneira como é construída.
    Gosto do Batman enquanto figura dionisíaca, que se contrapõe ao apolíneo Superman. E muito do aspecto dionisíaco que foi impresso na personalidade do Batman vem dessa tal brutalidade. Ele “combina” mais, na minha opinião, com essa personalidade mais brutal mesmo. Age em reação a uma cidade corrupta desde o seu submundo.
    Na visualidade isso é fantástico: a estética do Batman é toda sombria, com cenas majoritariamente noturnas. O Superman é de uma cidade muito mais “organizada”, suas cenas são majoritariamente claras e iluminadas.
    Gosto, em particular desses personagens nas HQs ilustradas pelo Alex Ross. Não é esse Batman “brutal”, mas é um Batman sob forte influência dessa personalidade sombria. Aliás, todas as produções posteriores à HQ do Frank Miller carregam em maior ou menor grau alguma coisa dessa representação dele.

  10. God Zamiel disse:

    Um argumento audaz que abre a discussão.
    Respeito a sua opinião e não quero de maneira nenhuma forçar a minha em si, espero que respeite a minha também.
    Acho que você pensa e repensa demais e tira a piada de ler um comic.
    Primeiro que tudo, um clássico é um clássico, não é um, “clássico”. O que torna algo num clássico está para além de mim e você, “Um clássico é um excelente exemplo de um estilo particular, algo de valor duradouro ou com uma qualidade atemporal.”. Só porque não gosto de algo, não quer dizer que não saiba admitir que seja bom. Se você falha em ver o que o torna um clássico, isso não lhe tira qualquer valor.
    Você diz que até podia gostar da obra caso não fosse do Batman. Acho que não é bem assim. Mais parece que você até podia gostar, caso não fosse de Frank Miller.
    Na minha opinião, sem Frank Miller e Tim Burton, nós provavelmente estaríamos a ver uns imitadores de Adam west (com todo o respeito que ator e série merecem) aos saltinhos num fato azul.
    Você na parte I do seu artigo, chama a atenção para Miller ver os jovens como uma massa perdida à espera de seu Führer. É contraproducente e tira toda a liberdade artística. Eu pessoalmente vejo algumas sátiras, como a impotência dos “bons” em fazer algo, mas não vejo nenhuma sátira aí.
    Batman toma a lei nas suas próprias mãos e isso é diferente do Batman que conhecemos? O que fazer então? Deixar os mutantes livres em Gotham, esperar pacientes uma atitude das autoridades competentes? Aqueles com poder devem agir, não é essa a força-motriz de quase todos os super-heróis?
    Por último, comparar o Batman de Miller com Anders Behring Breivik, um assassino em massa que matou mais de 70 pessoas na sua maioria adolescentes… a sério, acho que este comic passou-te mesmo ao lado.
    Nota: Robotcop 2 de tão mau é insignificante e nem aí Miller assume toda a culpa por partilhar o argumento com Walon Green e Irvin Kershner.

  11. God Zamiel disse:

    partilhado com Green e realizado por Kershner, quiz dizer…

  12. Sua análise serve para uma obra, especificamente “O Cavaleiro das Trevas”. Mas é péssima quando se trata de analisar todo o trabalho de Miller, em particular os trabalhos para o cinema. Como toda análise marxista, a sua ignora àquilo que convém, principalmente a história em quadrinhos “A Queda de Murdock”. Clássico dos quadrinhos, que demonstra que nem todo o trabalho de Miller é datado, como é “O Cavaleiro das Trevas”. E a persona de Batman que Dennis O’Neil criou, apesar de ser minha preferida, nada tem a ver com a criada pelo Miller, pois O’Neil desenvolve um Batman mais humano, relutante, com influências do período anterior, quando Batman perde no meio da narrativa para superar o obstáculo no climáx da história. E Grant Morrison, o que dizer? Li toda a obra atual dele, Corporação Batman, roteiro confuso e saturado de referências antigas, essa série sim serve como padrão para seu texto sobre saturação da informação, sobre citar muita informação sem dizer nada novo. Enfim, saiba separar sua implicância com o autor das obras e do período em que foram escritas.

    • O que tem de marxista na análise? Só pra saber.

    • Nerdbully disse:

      Não entendi muito bem o que você quis dizer sobre “análise marxista”, mas, pelo visto, você entende por “análise marxista” aquela que “ignora àquilo (sic) que convém”. Bela definição, mas não, minha análise não é marxista nesse sentido. Nem em qualquer outro ao meu ver. Mas enfim…
      Em nenhum momento do texto eu digo que a obra de Miller é datada, na verdade até gostaria que ela fosse, mas o discurso fascista do Miller encontra eco até hoje. O que eu disse no texto não foi isso e sim que ele tem uma “receita” para fazer personagens, e que aplica a receita ao Batman.
      Recomendo que você releia O Cavaleiro das Trevas e a fase de Dennis O’Neil para você entender melhor as similaridades, até mesmo porque O’Neil foi o editor de Miller na obra, juntamente com Dick Giordano.
      Entendo sua opinião sobre Grant Morrison, ele está longe de ser uma unanimidade. Mas gosto da maneira como ele se apropria de todas as fases do personagem para criar algo efetivamente novo. Na verdade Morrison não satura seu leitor de informação, mas, ao contrário, essas informações devem ser procuradas fora do texto, obrigando o leitor a ler outras coisas para compreender a obra em todas as suas dimensões, criando uma metalinguagem interessante. Mas, gosto é gosto. Tem bom gosto e mau gosto.

  13. Gladson disse:

    Não confunda marxismo político com marxismo dialético. Por análise marxista digo que você busca,
    a todo momento trabalhar com argumentos que se contrapõem a algo que você enxerga como
    discurso do autor na obra de Miller, por vezes confundindo o desenvolvimento do personagem com
    a narrativa e com opiniões do autor sobre assuntos alheios à obra; você busca dar autenticidade a
    sua crítica desqualificando o autor com palavras descontextualizadas que o mesmo falou sobre os
    grupos que protestaram de forma difusa em Wall Street; e sim a obra dele “O Cavaleiro das Trevas”
    é datada, pois se fosse feita hoje não teria nada de inovador nem em termos de narrativa gráfica
    nem em termos de crítica literária, nem reconheceríamos ecos de uma crítica a política americana.
    O que não significa que não tenha marcado época, visto que a maioria dos quadrinhos
    americanos que saiam no período eram de média ou baixa qualidade.
    Similaridades? Sempre haverá similaridades, visto que como eu disse, O’Neil foi influenciado pela
    geração anterior a ele; e Miller por O’Neil, o que não quer dizer que o personagem (não confunda
    a narrativa textual e gráfica) seja similar, o Batman de O’Neil é um liberal atormentado, o de Miller
    um conservador totalitário. Mas fascista? Batman não acredita no Estado, para ser fascista ele
    deveria crer que nada existe fora do Estado, tudo deve existir pelo Estado. Ao montar suas milícias,
    e assumir o controle da segurança, ele pode ser chamado de despótico, mas se há um personagem
    fascista no Cavaleiro das Trevas”, esse é o garoto de recados dos USA, o Superman.
    E gosto de parte de obra de Morrison, mas não sou do tipo que crê que tudo que um autor faz
    é legal, onde concordamos em parte que essa mania de ler uma obra apenas porque o autor
    “x” ou “y” assina é coisa de fanboy.

    • Nerdbully disse:

      Confesso que ainda não entendi o que você está chamando de análise marxista. Trabalhar com algo como “análise do discurso” em momento algum implica trabalhar com marxismo.
      Vou tentar me explicar uma última vez: ao lembrar o comentário de Miller sobe o OWS quis mostrar que a postura política dele continua a mesma de quando escreveu a obra. Tal fato não foi notado por mim, mas pelo Alan Moore, que cito também.
      Bom, pelo que você entende por “datado”, tudo é “datado” e, se assim for, a qualificação é desnecessária.
      Quanto aos sentidos da palavra “fascismo”, só posso recomendar a leitura da obra do filósofo Michel Onfray que faz uma importante distinção entre “fascismo de Leão” e “fascismo de Raposa”, este último não precisa de um Estado para se manifestar, do mesmo modo que grupos que cometem atos de violência contra minorias também não precisam.

  14. Gladson disse:

    Agradeço pela sugestão de leitura, mas não gosto de filósofos militantes do ateísmo. Aliás, fujo de qualquer catedrático que exerça militância exarcebada, como é o caso do francês questão. Ademais, meu pensamento é norteado pelo filósofo John Locke e por Pitágoras de Samos, filósofo e matemático grego. Mesmo assim, considero relevante o pensamento do filósofo, bem como o espaço de debate aberto em seu site, diferente dos demais locais de divulgação de quadrinhos na rede e plataformas sociais. Parabéns pelo debate de alto nível aqui posto entre os leitores.

  15. Gladson disse:

    *”(…)francês em questão”. Perdão pela pressa em postar.

  16. Posso estar errado, mas dentro da sua concepção, qualquer super-herói não seria fascista, em maior ou menor grau?

    • Nerdbully disse:

      Creio que não. Vou citar meu colega de blog aqui, o Velho Quadrinheiro, em um outro comentário, quando diz:
      “a regra é a seguinte: o herói é aquele que está fora da lei mas age em benefício da lei, ou do espírito com que a lei foi escrita”.
      Quando, por exemplo, o super-herói prende um vilão, ou um ladrão e o entrega à Justiça, de certa forma está agindo à margem da lei, mas em benefício dela. Mas quando o espanca deliberadamente está claramente infringindo-a, afinal ele não tem poder de polícia. Essa discussão aparece na Guerra Civil da Marvel, onde os super-heróis são obrigados a se cadastrarem e abandonarem a identidade secreta para poderem agir em conformidade com a lei.
      Acho que é muito difícil fazer tal generalização, e o melhor seria apenas ver como essa relação entre o super-herói e a lei ocorre em casos concretos, em histórias específicas.

  17. Pingback: Sob o telhado de Telhada: sobre os usos dos quadrinhos na política | Quadrinheiros

  18. Pingback: Guerra dos Roteiristas E17 – John Byrne X Frank Miller | Quadrinheiros

  19. Mateus Enout disse:

    Não gostei do texto e não concordo com a analise. Mas por você perecer alguém inteligente, vou me propor a discutir com você, Primeiro sobre a Psique do Batman: Bruce desde de muito cedo foi afetado pela violência, ele sofreu com o medo e com a dor, mas não converteu-os em odio e tampouco esqueceu-os, deixe-me explicar: Bruce tem sim odio guardado em si, porém sempre o reprimiu. A grande sacada de Miller e de O Cavaleiro Das Trevas é libertar o odio de Bruce e fazer o próprio perceber que o seu odio é o maior de seus inimigos, primeiro na primeira luta contra o lider dos mutantes, onde Bruce se deixa levar pelo instinto (pelo odio, pela vontade de acabar aquilo com as próprias mãos), depois na morte do coringa onde ele percebe que a morte não lhe satisfaz, esse momentos são decisivos pra Bruce perceber o que o Batman realmente representa: a repressão do mal ( nesse ponto você tem certa razão, Batman realmente é um tipo de repressão, mas uma repressão boa). Quando Bruce finalmente redescobre o significado do Batman, ele parte para sua derradeira missão (salvar Gotham).

  20. Ótima, ótima crítica.

    Vc entendeu bem Miller — ele é de Direta, um Republicano, ponto. Acho que talvez o próprio Miller não tenha entendido, (o quer seria correto afirmar, qnd o poeta n sabe bem oq escreve), ou talvez entendido melhor do q eu, sobre o que é este “Algo Maior”.

    De resto, a crítica é perfeita e eu acho q minha ‘crítica’ com relação aos seus textos é com relação ao começo: acho q é o oposto – Batman nao éBbruce. Bruce na vdd nunca existiu, quem existe dentro daquele homem é somente “Batman”, e ele ganha esse nome quando realmente decide encarar a si mesmo.

    E sim, Batman é psicótico isso ninguém duvida. Batman É LOUCO (mas n assassino): e eu gostei de ver isso no seu texto, porque poucas pessoas têm coragem de falar isso. Agora sobre Cavaleiro das Trevas em sí, n tem a ver com o “Estado n funciona”, mas de “Qual estado” que estamos falando.

    N penso que Miller pensa num estado fascista (como aquele q deve funcionar de verdade), mas ele pensou em um estado não totalmente “vermelhuxo”, “liberal democrata às extremas”, aonde tudo o que se diz é válido sem se perguntar se, realmente funciona, se está certo. Foi contra este estado “extremamente libertário” de um ponto, e enganador do outro, que o Batman e o próprio Miller parece ser contra (n q eu esteja defendendo o autor, caso ele seja fascista — o certo é dizer que Batman é contra).

    Então quando vemos quem ou o que o Superman representa: um estado que engana a sua população, que a desarma e diz que ela é nada sem ele, porque as tropas americanas n poderiam vencer sem o Superman, sem o estado; assim como a pop deixa de ser uma nação, quando o estado n tem + o controle sobre ela (q foi após o EPM). Miller devolve este poder àqueles que fazem parte da Nação, às pessoas “comuns” — aos “Batmans”, ao “espírito comunitário”. E coloca isso de maneira firme quando na verdade determina que o “Espírito Absoluto” não é o Superman (representação de poder deste Estado enganador), ou o próprio estado em si mesmo (aquele governo), mas na vdd o homem, a racionalidade, o lutar por aquilo que acredita ser o certo até as últimas consequências.

    Então, quando vemos qualquer encarnação do Batman, se faz preciso sim citar o vigilantismo (Batman n é um aparato legal do estado, ele é um Vigilante dele, um Observador dele, para qnd ele sai do controle e faz “O que não é certo”), citar o caos que é sua vida (louco), e que mesmo assim não desiste de demonstrar a que verdadeiramente ama, e a que verdadeiramente luta — a essa busca pela justiça.

    Eu só senti falta de 2 imagens de Cavaleiro das Trevas, na sua review: Aquela que ele abraça a Robin quando ela quase cai da “Asa”, e outra que ela o abraça com todo coração. Essas duas imagens têm um duplo sentido forte, mas q na vdd podem ser vistas como uma benção, uma purificação para o personagem — principalmente a que a Robin o abraça. Enfim, belo texto. Meio que eu concordo com suas premissas, quase todas, mas discordo de sua conclusao. Sempre respeitando, pq foi um texto muito, muito bom.

    ps: Ainda acho que Moore é um fã do Batman, mesmo ele sendo um Anarquista, e o Batman ser um “moralista bobo que luta pela justiça”.

    ps²: O sorriso do Superman no final, foi um respeito para o personagem. Aliás, Muller para mim respeitou muito o Super. A parte + poética da obra é quando o Super quase morre na explosão nuclear (quando o Super ORA PARA A MÃE TERRA), e vamos combinar, “quase matar o Superman” sem kriptonita, sem “pontos fracos” n é nada fácil.

    E o sorriso do final, foi como um entendimento do Super que “N interessa se o governo é contra esta luta pela justiça”, mas sim o que importa é este constante lutar por ela. Eu gosto de pensar que ele depois daquele confronto, deixou de ser “O poder legitimador do Estado”, por entender que o poder não está não me de poucos (governo), mas na mão de cada um de nós, daqueles que querem e fazem diferença.

    Abraços e ótimo site, continuem o trab maravilhoso!

    • Nerdbully disse:

      Bom, primeiro obrigado pela leitura atenta do texto. Não só desse, como dos demais. Não é preciso concordar, mas a discussão com argumentos sólidos sempre é produtiva. Não dava para abordar toda a obra em apenas dois posts, uma leitura completa daria um doutorado e mesmo assim não esgotaria a obra. Os pontos que vc levantou são interessantes, mas toda vez que leio O Cavaleiro das Trevas não consigo fazer outra leitura do Miller além da exposta. Da próxima vez que ler, vou levar em conta o q vc escreveu. Quem sabe eu mude de ideia. Obrigado mais uma vez e continue nos acompanhando!

  21. Elias Pacheco disse:

    Sim, o Batman de Frank Miller é um Batman fascista. Mas a hq Cavaleiro das Trevas deixa de ser clássica por conta disso? Quer dizer, por “clássico” devemos entender algo importante feito dentro dos moldes politicamente corretos de determinada época? Existe um padrão ético/moral para determinarmos o “clássico”? Ora, essa hq causa enorme desconforto até hoje, porém ela ditou mudanças e não poderá jamais ser ignorada. É um marco, uma referência.
    Creio que uma obra de arte é ela e tudo aquilo que se criou em torno dela. Se essa segunda parte é muito maior do que a obra em si, não há dúvida: estamos diante de um clássico.
    Tudo que há em Cavaleiro das Trevas já existia numa fase anterior de Batman? Creio que não. Não vemos um Batman anti-heroico na fase O’Neil/Adams, um Batman sádico e psicótico, violento ao extremo… Mas talvez houvesse um esboço para esse encaminhamento da personagem.
    Aliás, é duro dizer isso, mas o próprio Batman da Era de Ouro não seria um esboço de fascista, brecado pelos conceitos morais da época (comics e coisa de criança…)? Nesse sentido, Frank Miller não criou um Batman fascista, mas elevou as últimas consequências algo talvez inerente ao vigilante mascarado. Criou o Batman fascista por excelência. Dali por diante todos seus argumentistas tiveram de lidar com isso: Batman é melhor que os vilões de Gothan City? Até que ponto Batman ajuda a combater o crime ou o intensifica? Até que ponto é razoável Batman chegar em sua luta?
    Batman é amado por meio mundo, ninguém quer vê-lo como um “monstro”, mas, poxa! ele é um vigilante cheio de ódio no coração. Divide o mundo em “cidadãos de bem” e “bandidos”. Ele tem ajuda da polícia para fazer o que faz, passa por cima da lei quando quer, ninguém pode com ele e toda a população de Gothan City o idolatra como um líder, a última solução para o problema da criminalidade. Pode até não matar os bandidos perigosos, mas serve para trancafiá-los em um asilo pavoroso para sempre. E, ao que parece, apesar de tudo, sua presença só faz crescer a criminalidade, causando mais e mais revolta na população que quer medidas duras… Enfim, em sua representação tradicional, Batman é um autoritário, só faltava alguém representá-lo (mesmo que não declaradamente) como um Mussolini encapuzado.
    Cavaleiro das Trevas mostrou o lado mais mórbido, pesado, grotesco e sinistro do herói. É o nível máximo na escala do bat-extremismo. Não “tacou o dedo na ferida”, como fez Alan Moore em Watchman, mas ajudou a ver como heróis vigilantes mascarados podem estar numa “contra-mão” (ainda que Frank Miller pareça glorificar o velho vigilantismo e fazer apologia a muitos comportamentos e ideias condenáveis).
    Em todos os sentidos possíveis, trata-se de algo inimitável, uma referência. Todos os roteiristas posteriores tiveram de dosar esse lado fascista escancarado nas hqs de Cavaleiro das Trevas, ainda que tentando eliminá-lo. A ferida foi aberta e nenhum fã de quadrinhos pode ignorar a discussão levantada. Lembro, pra ficar num exemplo, do Novo Batman, na fase Queda do Morcego. Um dos motivos de sua criação era testar se os fãs aceitavam um Batman que matava.
    Gostei do artigo e não discordo: Batman de Cavaleiro das Trevas é, sim, um fascista. Mas isso não diminui a importância da obra de Frank Miller.
    Um abraço.

    • Nerdbully disse:

      Sem dúvida, Elias. Se eu queimasse a Mona Lisa ela continuaria sendo uma obra de arte clássica, uma referência. O que o texto tentou fazer foi contextualizar a obra do Miller e apontar o que ela de fato é: fascista. Escrevi em resposta a algum comentário (já não lembro mais qual): você poder gosta de O Cavaleiro das Trevas por ser fascista, ou não gostar pelo mesmo motivo, mas não dá pra negar que de fato o Batman representado ali o seja. Tem outros textos que abordam essas questões. Sobre o que é um clássico: https://quadrinheiros.com/2014/07/31/pensando-quadrinhos-o-que-e-um-classico/ e sobre o Batman: https://quadrinheiros.com/2012/11/25/batman-um-problema-social-ou-mental/ Abraço.

      • Elias Pacheco disse:

        São bons artigos.
        Tive de rever o Cavaleiro das Trevas após isso, e… Cheguei a conclusão que esse Batman não é mais fascista que os outros. Talvez até seja menos, apesar de continuar sendo um extremista de direita, um autoritário. Na verdade, como ele luta contra o Estado (embora esse Estado seja uma representação de como, provavelmente Frank Miller vê um governo de esquerda norte-americano) e, claro, não criou um grupo inimigo específico para ser combatido (a burguesia, os comunistas, os judeus, etc), fica difícil chamá-lo categoricamente de fascista, como estamos fazendo. Se ele é, 90% dos super-heróis também o são (e de uma forma hipócrita rs).
        De qualquer forma, esse elemento não é o único motivador de interesse por parte do leitor. Não há como negar que Cavaleiro das Trevas é uma das histórias mais bem contadas em se tratando de quadrinhos. Uma outra coisa interessante é que Batman, apesar de tudo, passa por conflitos morais aqui, diferente do que acontecia em suas fases mais boazinhas.
        Na verdade, o que Frank Miller fez foi escancarar algo inerente a um personagem como Batman, dando a ver o que antes estava “mascarado”. Foi o Batman pelo qual a década de 80 clamava, também.
        Um abraço.

  22. paulo disse:

    Frank quis trazer o Batman vigilante doido e matador dos anos 30,mas ficou no meio do caminho no Cavaleiro da Trevas.O Coringa se matando não faz o menor sentido, vai até contra todo o contexto criado que para finalmente o Batman terminasse com ele.Outra coisa que incomoda é a luta contra o Super.Tô até hoje esperando a resposta do EUA contra a Rússia.Não faz sentido o governo americano se preocupar com o Batman numa situação de guerra nuclear.Foi puro massaveismo.E ainda tem a gangue de mutantes.Para que o Batman iria querer um bando de psicopatas como parceiros?Ensinar aquela escória a ser vigilante?Ridiculo.

  23. Senar Gago Sério disse:

    Eu sempre achei o batman um psicopata, e ele sempre teve algo de facista mesmo antes do Miller, só ficou mais extremo e evidente nas mãos dele que é um conservador de extrema direita, como Holy Terror nos confirmou (se é que alguém tinha alguma dúvida).

    Mas isso não torna essa história menos clássica e menos obra-prima, Miller é um gênio da arte sequencial e mudou os rumos dos quadrinhos, se pra melhor ou pior, eu não posso dizer. Mas ele é um gênio sim, a narrativa dele é impecável, a arte dele está defazada mas ele foi um puta artista gráfico, como pode ser evidenciado no The Art of Sin City, a construção das páginas e da narrativa é algo que só alguém que domina essa linguagem poderia fazer.

    Ele também foi extremamente importante na luta pelos direitos dos artistas dos quadrinhos, que começou com ele e não com aquela corja da Image.

    Acho importante desconstruir os ícones, nada deve ser sagrado, mas isso não tira o mérito da obra e do próprio Miller, ele pode ter um pensamento desprezível em vários aspectos, mas como artista gráfico ele foi um mestre e isso é indiscutível.

    Ele fazer merda, e falar merda, não tira a importância que a obra dele teve e tem ainda hoje, uma coisa não exclui a outra. Destruir a imagem do homem eu acho válido, destruir a obra também, principalmente se for algo ruim, mas não é, qualquer pessoa séria que entende sobre quadrinhos e arte sequencial consegue enxergar isso e não por que todo mundo fala, ams pq está lá, a obra fala por si só.

    Enfim estou divagando… O texto foi bom, eu concordo com várias coisas dele, mas diversas pequenos comentários jocosos, que fogem da temática, eu achei um tanto quanto infantis e desnecessários, torna o texto tendencioso e isso eu achei negativo para aqueles que não conhecem muito bem a trajetória do artista, eu acharia bem mais interessante que o autor se preocupasse mais em apresentar os fatos e deixar com que os leitores tirassem suas próprias conclusões.

    • theoarnim551 disse:

      “Ele também foi extremamente importante na luta pelos direitos dos artistas dos quadrinhos, que começou com ele e não com aquela corja da Image.”

      Na verdade, Will Eisner e Neal Adams já lutavam por essas pautas beeem antes do Frank Miller.

  24. Marcelo Bragança Rua disse:

    Suas críticas tem clara motivação política partidária, portanto nada parciais.

  25. Pingback: A relevância de Batman: Ano Um | Quadrinheiros

  26. Pingback: 4 ideias que pareciam perfeitas quando você leu nos quadrinhos (mas que o tempo fez mudar de opinião) | Quadrinheiros

Comente!

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s