A relevância de Batman: Ano Um

Nada como reler um clássico.

 

 

 

 

 

Texto publicado no site Redação Multiverso por ocasião dos 30 anos da obra – completos em 2017. Esta versão apresenta pequenas alterações em relação à original.

Os anos 80 foram emblemáticos para a DC. A percepção da alta cúpula da editora era de que a existência de múltiplas terras tornava as narrativas complicadas demais para novos leitores,  um empecilho para a renovação do público e ampliação das vendas, portanto.

Então Crise nas Infinitas Terras, escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Perez, fez o impensável: reuniu todos os personagens da DC numa saga épica que culminou com o primeiro grande reboot da DC, abandonando o conceito de multiverso, em uma saga originalmente publicada em doze edições, entre abril de 1985 e março de 1986 e no Brasil pela primeira vez em 1989.

Como consequência, os personagens da DC deveriam ter suas origens recontadas e reapresentadas ao grande público. A fase pós-Crise foi uma das melhores em termos criativos. Pudemos ver o Homem de Aço nas mãos de John Byrne e a Mulher-Maravilha de George Perez.

Mas, diferentemente do que aconteceu com o Superman ou a Mulher-Maravilha, o período pós-Crise do Batman é menos lembrado por uma fase do que por obras fechadas e pontuais. Podemos citar O Cavaleiro das Trevas (1986) de Miller, A Piada Mortal (1988) de Alan Moore e Brian Bolland e Asilo Arkham (1989) de Grant Morrison e Dave McKean. O Cavaleiro das Trevas e Asilo Arkham nunca fizeram parte da continuidade oficial da editora (apesar de terem influenciado o cânone na época e até hoje); já a decisão de A Piada Mortal fazer parte ou não da cronologia oficial foi muito discutida até ser aceita pela cúpula da DC. O fato é que nenhuma das três fez parte das revistas regulares do personagem, prova de que suas possibilidades narrativas eram maiores do que suas amarras cronológicas e editoriais.

Batman: Ano Um de Frank Miller e David Mazzucchelli é a exceção – única que foi publicada em um título regular (Batman 404-407) em 1987 (aqui no final de 1989 em Edição Especial), apresentando o primeiro ano de Bruce Wayne no combate ao crime como Batman e pensada para ser canônica desde o início.

Apesar do título, grande parte da narrativa tem como foco o jovem Jim Gordon – ainda não comissário. É possível perceber a corrupção de Gotham muito mais por suas ações do que por Bruce Wayne, havendo até espaço para explorar o lado pessoal do personagem –  prestes à ser pai e envolvido em um caso extraconjugal.

A missão de Miller em recontar o início da carreira do Homem-Morcego e de um de seus coadjuvantes mais importantes foi executada com maestria junto aos desenhos de Mazzucchelli, que imprimem ritmo à narrativa. A obra é tão influente que permaneceu na cronologia oficial do personagem até recentemente, sendo substituída apenas em 2014 em Batman: Ano Zero por Scott Snyder e James Tynion IV. É possível ver sua influência até mesmo na trilogia  de Chris Nolan e na fase mais recente do personagem com Tom King, tendo sido adaptada para animação em 2011 (produzida por Bruce Timm, responsável pela já clássica série animada dos anos 90). Numa indústria que reconta as mesmas histórias há mais de 80 anos, permanecer tanto tempo na cronologia oficial e ser tão referenciada só prova a relevância da obra.

Miller está entre os autores que mais contribuíram para a construção do Homem-Morcego, e pode-se dizer que contou tanto a origem quanto o fim do personagem – ainda que O Cavaleiro das Trevas tenha deixado o status de obra fechada para ter se transformado em uma franquia de qualidade um tanto duvidosa.

Se você é fã de Miller ou do Batman não pode deixar de ler esta que figura entre as melhores histórias de ambos. E se você já a conhece e por ventura esse texto lhe der aquela vontade de lê-la novamente, fique tranquilo. Esses mais de 30 anos não a envelheceram um dia sequer.

Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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