Ler um quadrinho é uma experiência incrível e escutar músicas pode tornar a experiência de leitura ainda melhor.
Ao ler uma HQ somos transportados para outros universos, acompanhando os triunfos e as angústias dos personagens, nos divertindo e aprendendo com as distintas técnicas narrativas e artísticas. E ouvir música enquanto lemos um quadrinho só amplifica essa percepção, faz com que tenhamos novas possibilidades de absorção e interpretação das histórias.
Para mostrar isso, reunimos abaixo os relatos dos Quadrinheiros, Nerdbully, Velho Quadrinheiro, Picareta Psíquico e John Holland sobre qual música ou álbum acentuaram o sentido ou ampliaram o significado da leitura enquanto liam determinada HQ.
Nerdbully:
Qual o Quadrinho?
Os Invisíveis – Entropy In The UK
Qual o Álbum?
Não é um álbum, mas uma música do Sex Pistols, Anarchy In The UK – se bem que qualquer música ou álbum dos Sex Pistols combinariam com Os Invisíveis.
Por que essa combinação?
A relação entre Os Invisíveis, anarquia e o anarquismo poderia dar um livro, mas por ora basta dizer que além do óbvio trocadilho dos títulos, a música bate com a história. É nesse volume que descobrimos que Jack Frost destruirá o mundo em 22/12/2012, mesmo que no volume anterior nos digam que ele será o novo Messias. A letra diz:
“I am an antichrist
I am an anarchist
Don’t know what I want
But I know how to get it
I wanna destroy passer by”
Os Sex Pistols abordam o lado destruidor do anarquismo, e Morrison complementa com sua outra faceta, que é o da criação de novos valores ao colocar Jack Frost como Messias e destruidor do mundo ao mesmo tempo.
John Holland:
Qual o Quadrinho? *
Miracleman
Qual o Álbum?
Into the Unknown
Por que essa combinação?
Miracleman sempre me pareceu um quadrinho de um jovem Alan Moore que ainda não sabia bem o que faria, esse álbum é a mesma coisa. Uma banda de punk que lança um álbum de progressivo que é massacrado e quase esquecido, sem contar que algumas edições da HQ saíram no mesmo ano desse álbum. O clima das músicas me lembram a cena de Miracleman voando, as revelações loucas e claro os conflitos do personagem que só poderiam aparecer fruto de um Alan Moore experimentalista, exatamente como o rejeitado Into the Unknown.
Velho Quadrinheiro:
Qual o Quadrinho?
Sandman – Prelúdios Noturnos
Qual o Álbum?
Concert – The Cure Live
Por que essa combinação?
Ou porque o Morpheus era a versão em quadrinhos do Robert Smith ou porque praticamente todas as músicas desse álbum tinham alguma alusão a sonhos, declaradamente ou não.
Picareta Psíquico:
Qual o Quadrinho?
1 – Preacher
2 – Sandman – A Casa de Bonecas
Qual o Álbum?
1 – Bad Religion – Recipe for Hate (1993)
2 – Under the Pink – Tori Amos (1994)
Por que essa combinação?
1 – Porque eu conheci a banda no final dos anos 90, que é a época que o quadrinho começou a ser publicada por aqui (Brasil). As letras falam de violência em vários níveis, o ritmo é acelerado (e Preacher foi a mais acelerada que eu tinha lido até então, fora Akira), e a música mais famosa do álbum é American Jesus, puta crítica à religião (One nation under God). E porque o punk norte americano tem uma pitada de country music (aquele clima de faroeste moderno).
2 – Porque o Gaiman é amigo da Tori Amos e por isso ela inspirou algumas características da Delírio (irmã mais nova do Senhor dos Sonhos). O álbum é da metade dos anos 1990s (época em que eu comecei a ler Sandman), as melodias são complexas, as vezes é quase só voz e piano, tem um clima de sussurro, de terror psicológico, de bruxaria, segredo. A Casa de Bonecas é o primeiro arco depois que o personagem Sandman está estabelecido. Neil Gaiman começa a mostrar várias camadas de complexidade na personalidade de Morfeus e nos apresenta uma legião de personagens coadjuvantes interessantíssimos, como Hob Gadling e o Coríntio. O álbum conversa com toda essa fauna distorcida e fantástica.
Ao ler um quadrinho obtemos diversas informações de forma simultânea através de desenhos, cores, balões de fala e textos. Quando ouvimos música, assim como nos quadrinhos, também estamos lidando com variados elementos de forma conjunta (ritmo, batida, harmonia, letra).
É interessante observar a maneira como ambas as mídias trabalham em relação aos nossos sentidos. Enquanto que o conteúdo de um gibi é absorvido por nossos olhos, o conteúdo de uma trilha sonora é absorvido por nossos ouvidos gerando diferentes sensações. Agora imagine unir ambas as mídias e poder desfrutar de uma leitura diferente e proveitosa.
A música gera diferentes estímulos em nosso corpo e em nossa mente, evoca sentimentos que nos influenciam diretamente. Esses estímulos variam de acordo com as características da trilha que está sendo executada. Mas ela também pode ampliar o sentimento existente num gibi, pois a música também comunica uma mensagem, fazendo com que determinada cena ou capítulo fique marcado em nossa memória afetiva.
Se estamos lendo uma história de terror, por exemplo, nada mais apropriado do que um álbum que tenha a mesma temática, algo que estimule o cérebro a entrar naquela realidade de terror.
Existem também aqueles que não conseguem ler quadrinhos ouvindo música. Apenas talvez seja porque o leitor escolheu um álbum que não combinou com a HQ. Não é regra, porém o ideal seria ouvir um álbum que reforçasse o sentimento da história. Caso contrário o resultado poderia ser um choque de conceitos, como por exemplo, ler Monstro do Pântano ouvindo Roberto Carlos, o que não daria muito certo, justamente pelo fato das temáticas propostas entre a HQ e o cantor não coincidirem.
Outra opção interessante é ouvir músicas instrumentais durante a leitura, o que pode favorecer a concentração, pelo fato de que não há letra para o cérebro interpretar.
Músicas e quadrinhos são combinações que dão muito certo. Os leitores têm seus meios particulares de lerem, mas se você lê HQ ouvindo música diga para nós como foi a experiência.
E se você ainda não tentou, o que está esperando?
“Quão pouca coisa é necessária para a felicidade! O som de uma sanfona.
– Sem música a vida seria um erro. ”
(Friedrich Nietzsche)
só mando este clássico!!! hehehehe
Eu sempre ouço música durante minhas leituras.
Um efeito muito bacana nessa sinestesia é lembrar as emblemáticas situações com música, eis aqui algumas que gosto muito:
* Superman (R.E.M.) – tocada em um Walkman enquanto o Homem-Animal encontra o próprio na genial reformulação do personagem por Grant Morrison!
* Pennsylvannia 6500 (Glenn Miller) – Um bêbado contaminado por radiação urinando de forma mortal no Monstro do Pântano de Alan Moore!
* Monday Monday (The Mamas & The Papas) – Uma mary Typhoid totalmente esquizofrênica e sanguinária cantando a música enquanto aproxima-se de uma gangue pouco antes de matá-los com uma espada. Durante o longo run de Michael bendis no Daredevil.
* Baby I Love Your Way (Peter Frampton) – Mathew Murdock tentando enfrentar um supervilão enquanto a música lhe incomoda. Passagem do início do mesmo run de Bendis no herói citada acima.
Só leio meus quadrinhos com trilhas sonoras. Com certeza a experiencia é potencializada de forma maravilhosa.
Tenho algumas listas de músicas no Spotify para ouvir determinadas Hqs:
TERROR SUSPENSE:
QUADRINHOS DE SUPER HERÓIS EM GERAL:
QUADRINHOS DE AVENTURA:
STAR WARS (Claro):
Parabéns pela matéria.
Forte abraço!
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