A trilha sonora de Morpheus e Constantine

Um passeio pelos hits de 1931 a 1987 no primeiro encontro do mago inglês e do Senhor do Sonhar.

No terceiro capítulo do primeiro arco de SANDMAN (originalmente publicado em 1989), o Senhor dos Sonhos se encontra com o mago John Constantine. A chegada de Morpheus é prenunciada por uma série de músicas que vão compondo a trilha sonora do dia de Constantine, até que finalmente o Perpétuo bate à sua porta. A missão que Oneiros dá ao mago o leva a lugares estranhos e as músicas seguem John em sua jornada.

A música, aliás, é o tema chave do arco de que a história faz parte. Prelúdios (peça introdutória de óperas e balés) e Noturnos (uma composição musical que evoca, ou é inspirada pela noite) serve de abertura para o grande concerto. Até a representação gráfica dos personagens que são introduzidos nessas primeiras histórias se inspiram em nomes da música pop dos anos 80. O estilo gótico de Morpheus e o vocalista da banda The Cure – Robert Smith. A atitude arrogante de John Constantine e o vocalista da banda The Police – Sting. A androginia de Lucifer e o camaleão do rock David Bowie.

SANDMAN - musica

Voltando ao encontro de Constantine e do senhor do sonhos, na história Dream a little dream of me (título de uma música de 1931), e a cena de abertura começa com a letra da música ecoando pelo quarto de Constantine, fazendo-o acordar.

Antes de sair de casa o rádio começa a tocar Mr. Sandman (de 1954), enquanto John pensa sobre seus recorrentes pesadelos.

Na lanchonete John pede café e enquanto espera escolhe uma música na jukebox (I heard it through the grape vine, de 1966), mas aperta o botão errado e põe para tocar Sweet Dreams (de 1955).

Algumas cenas rápidas que indicam passagem de tempo mostram Constantine fazendo pesquisas sobre Morpheus. Três músicas são citadas nessa sequência:

  • Sweet Dreams (are made of this), de 1983

  • Dream Lover, de 1959

  • The Power of Love, de 1986, que começa assim – Dreams are like angels, they keep bad at bay (Sonhos são como anjos, eles mantém o mal ancorado…)

Depois de 3 dias de músicas e buscas, o Senhor dos Sonhos bate à porta de Constantine. Mais tarde, no táxi de Chas, a caminho da casa de uma antiga namorada de John, o rádio toca:

  • In Dreams, de 1963

Nota-se que as músicas foram colocadas em ordem cronológica na história, com excessão de duas. As duas primeiras músicas (Dream a little dream of me de 1931, e  Mr. Sandman de 1954) são românticas, inocentes e otimistas. Falam de sonhos como um lugar mágico. A terceira música (Sweet Dreams de 1955) já mostra um conflito interno entre viver as ilusões do sonho e aceitar a realidade. A quarta música (Sweet Dreams are made of this de 1983) já é mais psicológica, dizendo que os sonhos podem te usar, abusar de você, ao mesmo tempo que querem que você use e abuse deles.

A quinta música (Dream Lover de 1959), que escapa da sequência de datas, volta ao clima romântico e inocente das primeiras músicas. Mas em 1987 foi feita uma versão dessa música para uma série de TV (Rags to Riches) que contava a história de um milionário que adotava 6 meninas com idades entre 8 e 17 anos. Na série a música serve se tema para a cena onde as meninas temem ser abandonadas pelo milionário.

Dream Lover (Deam Maker na versão de 1987 da série de TV Rags and Riches)

A sexta música (In Dreams de 1963) fala dos sonhos como o lugar da felicidade e a realidade como o lugar do sofrimento. Assim como Mr. Sandman, essa música nomeia o Senhor dos Sonhos, dizendo que ele é um “…palhaço de doce colorido que caminha pelo meu quarto a noite apenas para lançar poeira das estrelas…”. A carreia de Roy Orbinson renasceu em 1987 com o albúm In Dreams: The Greatest Hits, o que explicaria a presença da música na história de SANDMAN.

Na última cena Constantine pede para o Senhor dos Sonhos ajudá-lo com seus pesadelos e termina a história cantando Mr. Sandman.

Já falamos aqui algumas vezes sobre a relação dos quadrinhos com a música, tanto sobre as trilhas sonoras que embalam a leitura, quanto sobre os paralelos entre essas duas linguagens. Em Prelúdios e Noturnos, mas principalmente nesse encontro entre John Constantine e Morpheus, essas relações são exploradas como só um grande autor sabe fazer.

Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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