Ensinavam os gregos: o homem virtuoso é aquele carregado de caráter. E caráter não era um dom natural, nem era hereditário, nem era concedido. Caráter leva tempo para conquistar. Caráter é resultado de uma vida. O adulto sem caráter vivia sob a pena da rejeição, da desconfiança, do desprezo, do ostracismo. Sem caráter um homem não valia o trapo que vestia. Sem caráter toda decisão é um capricho, toda atitude é um impulso, toda ação é um erro. Os responsáveis por esculpir caráter? Pais, mestres, amigos, inimigos.
E, meu caro, caráter (kharakter) em grego não é pouca merda não. Caráter quer dizer apenas uma coisa: cicatriz!
Cada um tem um seu cardápio de histórias, filmes ou quadrinhos que esculpiram o próprio caráter. Mas pra um quadrinheiro velho, filmes como Conan e Indiana Jones foram tão importantes tanto quanto as marretadas que a vida dá (que aliás, devem ter sido avisadas que haveria bolo, pois continuam tão presentes quanto no 2º colegial, aquele esgoto infernal da existência contemporânea).
Se você é um nerd alienado e não sabe do que se trata, saiba disso: Conan e Indiana Jones são dois caras azarados. Eles apanham, erram, são traídos, esquecidos e usados por… bom, quase toda pessoa que encontraram no caminho. Mas em algum momento eles desistiram? Não, porra! Isso é caráter! Que se derrame sangue, que a fé esmoreça, que a moça se mande, que o prêmio seja roubado, mas bola pra frente! (ou “continue empurrando a roda”, diria Conan). Uma cicatriz jamais deixa esquecer uma lição!
Não só nestes filmes, mas vários outros, como a Trilogia do Dólar de Sérgio Leone, os Irmãos Cara de Pau, Duro de Matar, Máquina Mortífera, Fuga de Nova York, pertenciam a um gênero que, a olho nu, era reunido nas velhas locadoras de VHS apenas como “ação”. Isso é injusto.
Todos os heróis destes filmes tinham em comum serem colossalmente desafortunados, humanos. Ferrados pelas circunstâncias, adaptaram-se a elas, criaram oportunidades para sobreviver. Além de tudo, estes filmes tinham um teor “lado B” que fizeram de cada um tão originais, apesar de orçamentos milionários de algumas produções.
Há quem diga que os heróis dos filmes de ação dos anos 70 e 80 são modelos de uma violência desenfreada, insana, típica no contexto da Era Reagan (1982-1990). Talvez. Mas isso é passível de discussão. Indiana, Conan, o Homem Sem Nome (Clint Eastwood), o Coronel Douglas Mortimer (Lee Van Cleef!), Jake e Elwood Blues, John McLane, Riggs, Snake Plisken: todos são heróis relutantes de histórias que eles mesmos preferiam ter evitado. Eles são arrogantes, invejosos, curiosos, ambiciosos, desajeitados e sofreram pacas por isso. Mas mesmo assim se viraram pra reverter a situação.
E você? Que filme esculpiu essa cicatriz que molda tua existência??
Eu sempre fui fã do Conan…. falava pouco, se divertia, viajava o mundo todo, estava sempre bem acompanhado, esse sabe viver 🙂
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