Fragmentos para uma Filosofia Quadrinheira

E essa semana  novamente com vocês: O Estrangeiro!

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Todas as artes se vinculam por aspectos comuns como o uso da imaginação, o foco na expressão do artista e sua pretensa universalidade em relação aos sentimentos humanos. Além disso, as artes necessitam recorrer umas às outras como auxiliares. Nesse sentido se enquadra o serviço que as ciências e as filosofias prestam entre si e às artes. Por exemplo, a anatomia – embora seja uma disciplina autônoma – serve como auxiliar para um pintor. Saber anatomia aproximará o pintor da perfeição ao retratar um corpo humano. Conhecer algo das propriedades matemáticas é necessário a um arquiteto para que desenvolva seus projetos. E o mesmo se passa com todos os artífices nos quais consigamos pensar.

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Este tema é antigo. Já aparece muito bem resolvido, por exemplo, no início do De architetura escrito em 27 a.C. por Vitrúvio. Daí em diante, aparece quase sempre no introito dos tratados prescritivos (manuais) de ciências e artes. São os casos de Da natureza de Lucrécio e do Primeiro comentário sobre a pintura de Lorenzo Ghiberti.

Nós, que aqui refletimos sobre Quadrinhos, talvez pudéssemos pensar acerca dos aspectos formais, ou seja, sobre aquilo que constitui o quadrinho como obra de arte–literária. E, aproximando-nos da divagação sobre as artes auxiliares: Em que as artes e ciências auxiliam os quadrinheiros?

Abordar o tema implica na necessidade de lidar com o fato de que os manuais de arte já não fazem mais sentido desde a invenção da máquina fotográfica, no século XIX. Uma vez que esse mecanismo foi criado, as artes visuais tornaram-se expressivas ao ponto de quase suprimir o constante aprimoramento técnico, pelo qual se fazia possível a realidade das pinturas – a fotografia agora se encarrega do real e de manipulá-lo.daguerreótipo

Nosso problema com o real não é, porém, com o visual, pois os quadrinhos não são formalmente uma obra plástica, mas literária – em que pese os literatos não o reconhecerem. A questão é que não parece haver, na história dos Quadrinhos, relevância sobre um manual técnico. Entretanto, este mundo sem regras artísticas da Estética é o reflexo de um mundo sem objetividade dos valores que conduzem o coletivo social, onde quaisquer expressões e valores sejam permitidos simplesmente por que o indivíduo assim o deseja, sem qualquer objetivação que o impeça de realizar determinado ato simplesmente pelo fato de que este seja reprovável.

Este é o contexto no qual emergem os Quadrinhos e a necessidade filosófica de refletir sobre eles. Em primeiro lugar, porque os Quadrinhos aparecem como parceiros – e não rivais – de sua disciplina-mãe: a Literatura.

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Eles derivam em todos os aspectos da Literatura. É necessário enredo e saber narrá-lo. Os personagens não são apenas pessoas, mas símbolos de desejos e representação dos tipos humanos reais. Assim, nos Quadrinhos, o elemento imagético é suporte para a história. Ele está presente para facilitar nossa imaginação e podermos “concretizar” mais facilmente o fantástico que está contido em suas páginas.

Em segundo lugar, há algo sim que pode ser salvo dos velhos manuais de arte. Trata-se de um elemento retórico chamado invenção. Ao contrário de nossa concepção, invenção não significava, para os romanos, criar argumentos do nada ou preocupar-se com a originalidade extrema. Inventar implicava no estudo e no conhecimento profundo de fatos históricos, argumentos, “obras literárias” e filosóficas para que o orador fosse capaz de mobilizá-los na construção de um discurso coerente que expressasse com clareza o ponto de vista de quem fala e fosse convincente.

Nesse sentido, os Quadrinhos e suas fantasias não são feitos de nada, nem para o nada. São expressões que procuram expressar com coerência o ponto de vista de seu autor. Daí a necessidade da compreensão de seus elementos históricos, filosóficos e estéticos. 

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