Uma obra corajosa em tempos de alta polarização política.
Marighella #LIVRE com roteiro de Rogério Faria (Corpos-Secos, Metamorfose), desenhos de Ricardo Sousa (ZéMurai), e arte da capa de Phill Zr traz a seguinte sinopse:
Marighella #Livre conta a história de um Carlos Marighella com apenas 24 anos, que em 1936 foi preso por agentes da ditadura de Getúlio Vargas e torturado para entregar seus companheiros. Mas Marighella provou sua fibra, surpreendendo seus captores, e começando, aí, a criar a lendária figura do maior guerrilheiro brasileiro do século, o inimigo público nº 1 da ditadura civil-militar. Apesar da crueldade que caracteriza o episódio, o quadrinho consegue equilibrar dor, poesia e humor.
O quadrinho ainda nem foi lançado, mas a divulgação de seu financiamento coletivo no Catarse já bastou para gerar polêmica no contexto de alta polarização política e ideológica que estamos vivendo.
“foi soltar o projeto para financiamento, em poucas horas, já havia mais de 600 reações, de comentários. Algumas pessoas enaltecendo, outras manifestando desinteresse, mas muitas com ofensas furiosas a Marighella e a mim. Fui chamado de mau-caráter, bandido, idiota, câncer, terrorista”
O relato acima, expressão da alta polarização política e ideológica atual, é apenas o sintoma de um problema muito mais profundo e muito mais grave, que foi e é nossa incapacidade, como Nação, de construir consensos mínimos sobre os quais o debate democrático deve ser estabelecido.
- Qualquer regime autoritário deve ser rechaçado, seja ele de Direita ou de Esquerda;
- Censura e tortura são inadmissíveis.
Tivéssemos esses dois pontos como consenso, a iniciativa de uma história em quadrinhos com Marighella como personagem seria louvada como uma tentativa de popularizar a história do Brasil, ou, no mínimo, um convite para um debate aberto e democrático sobre essa figura história tão contundente.
Sobre essas e outras questões, fizemos uma entrevista com o roteirista da hq, Rogério Faria, que você pode ler abaixo.
Quadrinheiros (Q): Por que escolher falar do Marighella nesse momento da nossa conjuntura política? De onde surgiu a ideia para a hq?
Rogério Faria (RF): A ideia de escrever sobre Marighella já vinha sendo alimentada há algum tempo, mas, em 2017, quando li a biografia escrita por Mário Magalhães, resolvi começar a pesquisar e concretizar. E tendo Marighella como uma figura de luta de esquerda pouco conhecida, achei que, com a ascensão da ultradireita no país, já tinha passado da hora de o debatermos. E essa é nossa forma de contribuir com esse debate.
Q:. Vocês estão fazendo algum tipo de levantamento/pesquisa histórica/historiográfica? Se sim, poderiam comentar um pouco sobre como está sendo feita e como isso vai aparecer na hq?
RF: Sim. Fizemos um trabalho de pesquisa legal, além da biografia de Marighella, que foi um pontapé inicial. Li o relato da prisão em “Se fores preso, camarada” e outros escritos dele como “Por que resisti à prisão” e “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”. Assisti ao documentário feito sobre ele. E levantei alguma coisa em revista e jornal dá década de 60. Tudo para nos aprofundarmos nele. Também tivemos como referência Olga, de Fernando Morais e o filme de Jaime Monjardim, que ajudaram com a contextualização. Até uma novela de época da Globo, Esperança, foi bastante útil para ambientação e caracterização dos personagens. Além de diversos vídeos de YouTube. Tentamos ser fiéis ao período e ao personagem para contarmos uma história nossa sobre o episódio.
Q: Normalmente o Marighella é mais evocado falando justamente do período ditatorial militar, e menos sobre o episódio que vocês vão retratar na hq, que é no período da ditadura varguista. Por que esse deslocamento?
RF: Essa foi uma das razões que nos chamou a atenção para esse período. Marighella, geralmente, é retratado como um guerrilheiro na ditadura militar, o inimigo público nº 1 dos militares, mas seu perfil de luta vem desde jovem. Quando ele é preso pela ditadura de Vargas, tinha só 24 anos. E, aí, já mostra sua coragem, resistência e argúcia.
Q: Apesar de tratar de um assunto e episódio delicados, há a promessa da hq equilibrar dor, poesia e humor. Como pretendem fazer isso?
RF: Na HQ, a prisão do Marighella, além de uma prova de sua tenacidade, é um embate intelectual entre ele e a polícia, que abordamos com certo sarcasmo. Além disso, as sessões de tortura são intercaladas com reminiscências da infância e adolescência dele, de modo nostálgico, para ilustrar o seu processo de formação e amadurecimento. Marighella é um homem que acreditava que sua ideologia, sua luta por um mundo melhor, valia mais que sua própria vida. E esse tipo de pessoa aterroriza quem está no poder. Então, esse medo é incutido no cidadão comum, para que, sequer, ousemos discutir Marighella.
Parabens pela entrevista. Esta HQ do Rogério Farias vai ser um estouro, com certeza!
Pingback: A Perseguição A CARLOS MARIGHELLA continua: agora à sua memória – Site do frei Gilvander Moreira
Pingback: A Perseguição A CARLOS MARIGHELLA continua: agora à sua memória – Comissão Pastoral da Terra – CPT Minas Gerais
Pingback: A PERSEGUIÇÃO A CARLOS MARIGHELLA CONTINUA: AGORA À SUA MEMÓRIA - A Verdade » Um jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo
Pingback: 3 quadrinhos brasileiros para você apoiar no Catarse | Quadrinheiros