Um jogo de influências cíclicas entre Europa e Japão.
Na história da arte, no final do século XIX, surgiu a arte nouveau na Europa. Foi um movimento artístico que buscou nas artes gráficas o desenvolvimento de sua estética. Nesse período os objetos e elementos gráficos orientais serviram de padrões de estética para os artistas europeus. Mas a arte japonesa entrou com vigor nas obras dos artistas, definindo assim, o japonismo.
Foram, principalmente, as gravuras japonesas e Katsushika Hokusai e Utagawa Hiroshige que influenciaram os pintores, escultores e os designers. Houve ainda, nesse período, o crescimento da técnica de litografia (gravura na pedra) para a produção de cartazes de peças de teatro e danças. Um dos grandes artistas que aproveitou da técnica de litografia e das imagens das xilogravuras japonesas para a produção de seus cartazes foi Alphonse Mucha.
Esse artista, nascido na atual República Tcheca, em 1860, produziu os principais cartazes que apresentam a atriz Sarah Bernhardt em ilustrações que encantam com uma alegoria do mundo fantástico representados em linhas curvas grossas e finas, com as cores “chapadas”, ou seja, sem o volume do degradê, mas sim, com a sobreposição de demais tonalidades de cor para corresponder à sombra na imagem. Essa estética provem da influência das gravuras japonesas que possuem uma semelhança nessa linguagem visual.
Assim como as ilustrações de Alphonse Mucha se apropriaram das gravuras japonesas em seus trabalhos, dois grandes mangás se inspiraram nas obras de Mucha para representar suas obras e são eles: Magic Knight Rayearth, do grupo CLAMP e; Ah! Megami Sama, criado pelo mangaká Kôsuke Fujishima.
Em Magic Knight Rayearth encontramos a relação das obras de Mucha na representação das ilustrações e algumas cenas do mangá. A personagem Marine (Umi), por exemplo, por possuir cabelos longos, observa-se com mais detalhe as linhas das mexas de seus cabelos em movimentos, como se estivessem unificados e isso se assemelha às cabeleiras das personagens das obras de Mucha. O movimento das fitas presentes nas vestimentas das personagens de CLAMP também são carregadas entrelaçados nos braços delas, assim como nas ilustrações de Alphonse Mucha.
Nas ilustrações de Ah! Megami Sama as influências das obras de Mucha são mais nítidas, pois elas são apresentadas nos mesmo modelos das imagens do artista. Percebe-se que nessas imagens a pose das personagens, as linhas e traços, os objetos e acessórios presentes na obra de Mucha também são representados de forma similar nos trabalhos de Kôsuke Fujishima.
A art nouveau é uma grande referência para os artistas de mangá e animê, seja através das linhas e traço ou mesmo a representação do mundo fantástico nas ilustrações, porém não é apenas nesses meios de entretenimento que encontramos influências dessa arte europeia, mas na sociedade japonesa em geral, podemos perceber padrões de referências da estética desse movimento europeu: nas ruas, nos detalhes de alguma placa; nos enfeites de algumas casas e etc.
Podemos então considerar que essa influência encontrada nos mangás do CLAMP e Ah! Megami Sama são uma influência direta da própria arte japonesa, como se fosse um meio cíclico de linguagem e estética entre a art nouveau e o mangá.