J. J. Abrams e Star Wars: a Caixa de Mistério

Uma aula de roteiro com J. J. Abrams.

 

 

 

 

 

Texto originalmente publicado no site Redação Multiverso

Há alguns anos o célebre J. J. Abrams fez uma palestra para o TED. Ele ainda não tinha em seu currículo a revitalização da franquia Star Trek para o cinema, muito menos a continuação da saga Star Wars. Na época, o maior destaque do trabalho dele era a série Lost (que ainda não havia acabado) no auge do seu sucesso, o que já o gabaritava para dizer algo a respeito de narrativas.

O ponto central de sua fala é a mystery box, traduzindo literalmente, Caixa de Mistério. Sua origem está em programas de auditório dos Estados Unidos onde muitas vezes o participante poderia trocar um excelente prêmio pelo que estava dentro da caixa. E podia haver qualquer coisa dentro da caixa.

O que J. J. Abrams ensina é que o segredo está em ter o controle narrativo sobre o que o público sabe e o que não sabe. E isso é um dos pontos que nos mantém interessados em uma história. E ele dá um exemplo disso utilizando (curiosamente) Star Wars:

Você tem os droids, eles encontram uma mulher misteriosa. Quem é ela? Nós não sabemos. Caixa de mistérios! Sabem? Então você encontra Luke Skywalker. Ele fica com o Droid, você vê o holograma. Você aprende. Oh, é uma mensagem, sabem? Ela quer, sabem, encontrar Obi Wan Kenobi. É a sua única esperança. Mas quem diabos é Obi Wan Kenobi? Caixa de mistérios. Então você vai e ele encontra Ben Kenobi. Ben Kenobi é Obi Wan Kenobi. Caramba! Sabem, — então a história mantém a gente…

Ao abrir-se uma caixa é revelado um mistério e, com essa revelação, outra caixa com outro mistério, como uma matrioska, até o final da narrativa, que muitas vezes termina com uma caixa não aberta.

Peter Griffin em um dos episódios de Family Guy diz: Um barco é um barco, mas a Caixa de Mistério pode ser qualquer coisa – até mesmo um barco!

Ou seja, a Caixa de Mistério lida com dois fatores importantes: a curiosidade e a expectativa. Porque, meu caro… se você mostra uma caixa ao público, pode apostar que ele vai querer que ela seja aberta. Alguns exemplos.

Nas primeiras temporadas da série do Flash o que não faltam são grandes Caixas de Mistério: Quem é o Flash-Reverso? Harrison Wells é um aliado ou inimigo? E assim que esses mistérios são revelados, novas caixas: Quem é Zoom? Quem é o homem na máscara de ferro? Caixas e mais caixas. Pode ser um truque barato, mas é inegável que funciona.

Mas nem sempre de maneira positiva. Se você criar uma curiosidade e expectativas muito grandes em uma narrativa dificilmente será capaz de saciar seu público.

Em Y – O último homem uma das grandes caixas de mistério é o motivo da extinção de todos os homens. Quando Brian K. Vaughan explica… algo se perde. A curiosidade e a expectativa de saber o motivo eram tão grandes que não seria possível dar uma explicação que agradasse a todos, pois, qualquer resposta não seria satisfatória. Seguindo a lógica de Peter Griffin: enquanto é um mistério a explicação pode ser qualquer coisa e, ao abri-la, ela se torna uma coisa. As possibilidades infinitas se materializaram em apenas uma e isso jamais poderia saciar a expectativa e curiosidade de todos – no máximo de alguns -, mais ou menos como um Gato de Schrödinger. Convenhamos: um gato vivo e morto é muito mais interessante que um gato vivo ou morto.

O próprio J. J. Abrams parece ter dificuldade em aprender a própria lição ao julgar pelo final de Lost (curiosamente, Brian K. Vaughan foi roteirista da série…).

Mas nem toda caixa de mistério deve ser aberta. Em Highlander II quiseram explicar a origem dos imortais sendo alienígenas que seriam mandados à Terra como punição. Em Star Wars, no episódio I, quiseram explicar a origem da Força com as Midi-chlorians. Há uma lição a ser aprendida: alguns elementos devem permanecer misteriosos.

Em sua palestra J. J Abrams diz: há momentos em que o mistério é mais importante que o conhecimento. Os melhores contadores de histórias sabem dosar as duas coisas.

Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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