A RESSURREIÇÃO DE PULSAR: entrevista com Arthur Garcia e Alexandre Silva

O super-herói nacional PULSAR renasce em edição definitiva pela Revolução Editorial!

Publicada em várias revistas nos anos 1990, a saga do personagem criado por Arthur Garcia e João Pacheco, retorna ao mercado em “PULSAR – Edição definitiva” pelo selo Revolução Editorial de Alexandre Silva.

Nessa história, Pulsar foi preso nos anos 1970 pelo Regime Militar juntamente com outros super-heróis, foi torturado sob a acusação de subversão e dado como morto, apenas para retornar 20 anos depois totalmente confuso e deslocado. Agora ele tenta entender o que aconteceu no passado, para então encontrar seu lugar no presente.

A edição republica os dois arcos de histórias que saíram nos anos 1990, nas revistas Força Ômega e Master Comics, da Editora Escala, com nova colorização por Omar Viñole e o terceiro capítulo do primeiro arco, Os Arquivos de Judas, totalmente redesenhado e atualizado. Outro toque especial, a edição traz o quarto e último capítulo do mesmo arco (que não chegou a ser publicado na época) além de um episódio inédito, totalizando assim 9 capítulos da saga do personagem.

Enfim, uma edição de colecionador para os fãs do personagem que ansiavam por sua volta (eu me incluo entre eles) e para apresentar o personagem para uma nova geração de leitores.

Conversamos com Arthur Garcia e Alexandre Silva a respeito do processo de desenvolvimento da edição, de criação do personagem e sua história (e também a nossa como Nação).

Quadrinheiros: Como foi o processo de criação do Pulsar com o saudoso João Pacheco?

Arthur Garcia: Como contei em uma entrevista na MASTER COMICS nº 1, PULSAR começou com uma ideia do João, pois nós estávamos sempre falando de coisas que existiam nos anos 1970 e haviam desaparecido, como por exemplo: ir a uma pastelaria numa época em que não existiam redes de lanchonetes como o McDonald’s, ir no empório da esquina comer doces que não existem mais, homens frequentarem barbearias ao invés de cabelereiros, etc. Neste contexto o João sugeriu um personagem que teria sido adormecido por forças do governo nos anos 1970 e despertava nos anos 1990, só que quando eu comecei a bolar o roteiro, vim com a ideia de que ele não teria sido adormecido, mas sim teria sido assassinado, sendo um dos muitos desaparecidos políticos durante o regime militar, pois se este regime não gostava de pessoas que pensavam diferente dele, o que fariam com pessoas com poder para nivelar quarteirões?

Parece que o destino do Pulsar é ser morto e ressuscitado (risos). Como surgiu a ideia de uma Edição Definitiva para o personagem?

Alexandre Silva: Desde quando trabalhei com o personagem nos anos 1990 (eu era o colorista das HQS na época) me incomodava a forma de como a série era publicada. Foram abertas várias lacunas para quem acompanhava a HQ. Desde revista cancelada sem concluir o arco de histórias até a distribuição precária da editora.

Tudo isso se juntou ao meu desejo de me lançar como editor, publicando algo que tivesse a ver com a minha história dentro das HQs. Sendo assim, fiz a proposta ao meu antigo parceiro Arthur Garcia, de republicar o PULSAR de uma forma completa, preenchendo essas lacunas e entregando ao leitor uma edição definitiva, reunindo tudo que foi publicado e também o que não foi. Ele relutou no início, porém ficou de pensar.

Se não me engano, quase um ano depois, veio a resposta através de um gesto: me entregando um pen drive com tudo, dizendo confiar no meu trabalho e me autorizando a tocar o projeto.

Arthur Garcia: Este mérito é do Alexandre Silva. Um dia ele me telefonou e me falou do seu desejo de se lançar como editor com uma edição definitiva de PULSAR. No inicio relutei e pedi um tempo para pensar, pois normalmente adoro tudo o que estou produzindo, mas só consigo ver os defeitos depois da publicação.

De todo modo, por respeito ao Alexandre fui ver se tinha todas as artes finais e os roteiros, e o que descobri neste processo é que o trabalho ainda tinha folego. Me incumbi então de escanear todas as páginas (com exceção da história “1972”), monta-las sobre uma matriz de tamanho único, retocar páginas da 4ª aventura de Pulsar desenhada por Toninho Lima, e digitar todos os roteiros.

Um tempão se passou, pois tudo isso foi feito no meio de outros trabalhos.

Só então entrei em contato com o Alexandre e nos encontramos para falarmos sobre a edição.

Por que a opção por uma (belíssima) recolorização por Omar Viñole?

Arthur Garcia: Porque o tempo passou e a tecnologia de colorização e reprodução também.

Alexandra Silva: Primeiro, porque a ideia inicial não era simplesmente republicar o que já tinha sido feito. Se assim o fosse, seria apenas um fac-símile. Eu colorizava à mão, com pincel e tinta ecoline (na época, os computadores eram carísssimos) e uma edição como essa merecia uma nova colorização, digital, com uma paleta de cores atualizada, e encontrei no Omar Viñole, o artista perfeito para isso. E na minha opinião, o PULSAR nunca poderia voltar em edição PB. Se foi publicada nos anos 1990 colorida, uma edição definitiva não poderia ser diferente.

O terceiro capítulo de Os Arquivos de Judas foi redesenhado e atualizado. No que consistiu essa atualização?

Arthur Garcia: Uma das coisas que conversei com o Alexandre quando acertamos a republicação de Pulsar, foi que eu iria redesenhar a história “1972” num estilo retrô (utilizado também, a meu pedido, na colorização), pois o desenho desta história na versão original não havia me agradado, não por culpa do Toninho Lima, que fez o possível, dentro do que tinha de tempo e informação, mas por vários problemas que surgiram pelo caminho. Com esta nova versão procurei valorizar mais uma série de referências que ficaram mais simples de serem manipuladas nesta era do PHOTOSHOP.

O que vemos em Pulsar não é apenas um personagem, mas há todo um universo ali, como a super-equipe Os Invencíveis, e também referências a heróis brasileiros do passado, como Golden Guitar referenciado no personagem Herói da Juventude. Como é criar não só um personagem, mas todo um universo de super-heróis ambientado no Brasil?

Arthur Garcia: O João e eu fomos crias da MARVEL, representada nas criações de LEE e KIRBY, então, desde os META-HUMANOS na PAU-BRASIL da Editora Vidente, passando pela nossa publicação CYBER – Máquinas + Heróis, na mesma editora, sempre pensamos as coisas de modo grandiloquente dos quais FORÇA ÔMEGA e PULSAR foram novas vertentes. O processo é sempre o mesmo: um plano geral de para onde as coisas se encaminham, com as peças se encaixando parte por parte até que quando você percebe a história está se escrevendo sozinha.

Há quem diga que super-heróis são um gênero estritamente estadunidense, porém as histórias do Pulsar são fortemente relacionadas com a história do Brasil, sobretudo a Ditadura Militar e também tangenciam problemas atuais como coronelismo e clientelismo. Poderia comentar um pouco a respeito dessa escolha em enraizar o personagem em nossa história?

Arthur Garcia: Eu escrevo sobre as coisas que conheço e das quais ouvi falar ou li. Sendo brasileiro é normal que a realidade sobre a qual construa as minhas histórias e personagens seja aquela que me cerca. No final é só uma questão de transportar esta leitura metafórica para uma HQ de super-heróis que é um gênero, assim como o infantil, ou qualquer outro.

E isso nos traz ao fato de que Pulsar é um personagem politizado. É por conta da aproximação com ideias de esquerda que ele é capturado pelos militares e os meta-humanos são caçados por se envolverem em “atividades subversivas”. Como foi trabalhar com essa questão em 94, ano original do lançamento do personagem, e como você vê a questão da politização do personagem no atual contexto político brasileiro?

Arthur Garcia: Escrevi sobre o que era de conhecimento público, não me propondo a ser um livro de história do Brasil, ou um tratado sobre como se deva ver o mundo. Em 1994 as pessoas tinham saído da ditadura a menos de 10 anos e ainda lembravam o que havia acontecido politica e economicamente com o país. Hoje me parece que vivemos um tempo em que algumas correntes querem fazer um revisionismo histórico e algumas pessoas defendem ideias políticas como se estivessem defendo o seu time do coração, podendo assim amar ou detestar a visão que ainda tenho dos fatos. Contudo, isso faz parte de um dos bens maiores da democracia, o direito de discordar.

A edição termina com um sugestivo “Continua…”. Quais os planos para o Pulsar num futuro próximo? Poderemos vê-lo em novas aventuras em breve?

Alexandre Silva: A ideia é que o público prestigie essa nova edição para fazermos a continuação da saga do personagem sim, que aí seria um trabalho totalmente inédito do Arthur. A história, segundo ele, está toda em sua cabeça. Falta só colocar no papel.

Arthur Garcia: Tudo depende da aceitação desta edição bem como o seu retorno financeiro, pois como artista profissional dependo disto para pagar as minhas contas. Como você bem disse, talvez o destino de PULSAR seja ser sempre ressuscitado…

*

E ainda temos um bônus, uma entrevista em vídeo com o próprio Arthur Garcia realizada na ocasião do lançamento de seu sketchbook pela Editora Criativo em 12/11/16 na Biblioteca Latino-Americana no Memorial da América Latina.

Serviço:

Título: PULSAR – Edição Definitiva (formato 17 x 25 cm, 112 páginas)

Autor: Arthur Garcia

Editora: Revolução Editorial

Preço: R$ 30,00

À venda na Comix, Gibiteria, Ugra ou pelo e-mail  revolucaoeditorial@gmail.com

E sábado dia 17 de fevereiro tem tarde de autógrafos na Comix!

Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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