Seja qual for a cultura, as onomatopeias estão presentes nas histórias em quadrinhos. E no mangá não poderia ser diferente.
A onomatopeia é um elemento constante e necessário para a representação de sons, sendo o instrumento que provoca, no leitor, emoções e sensações produzidas pelos personagens, tempo, clima e ambiente. A palavra onomatopeia vem do grego onomatopoiía e quer dizer ação de inventar nomes.
Acredita-se que foi por meio da imitação dos sons que foram criadas as primeiras palavras. No tupi antigo, por exemplo: “tak e tatak (dar estalo, bater); tek (quebrar-se estalando, estalar); ning e ning-ning (latejar); e gûym (sair depressa, voando, zunindo)”. Ela também está na gramática e linguística, como formação de vocábulos que reproduzem determinados sons ou ruídos, como “tic-tac”, “murmurar”, “zumbir”, “urrar”, “ciciar”, “tilintar” etc.

Poema de Mário de Andrade “O Café – Quinteto dos Seventes”
As onomatopeias são criadas também como expressões gráficas para proporcionar mais emoção no leitor e sentir mais de perto a ação do personagem. Além dos elementos gráficos, eles se utilizam da repetição e do tamanho das letras para dar mais ênfase à emoção desejada. Nos mangás, o grafismo da onomatopeia dá mais dinamismo à leitura porque ela faz parte da narrativa. Isso talvez se explique pelo valor que é dado a esse fenômeno linguístico na fala do povo nipônico. Aliás, existe um dicionário de 4.500 onomatopeias japonesas, isso confirma o uso e valorização delas não somente nos mangás, mas na sociedade japonesa.

Primeiro quadro: “Ga kin”, em katakana, som das lâminas das espadas. Segundo quadro: “Don!”, em hiragana, som mais grave demonstrando a força do personagem.
No Japão, as onomatopeias são constituídas por particularidades muito distintas das do ocidente. Elas são formadas, principalmente, por dois dos quatro sistemas gráficos de escrita: o hiragana e o katakana. Em geral, as onomatopeias de sons mais graves são representadas por hiragana, e em katakana quando os sons são mais agudos. Em alguns mangás também encontramos o ideograma kanji representando o movimento da ação com uma função onomatopaica.

“Gaaaa”, em katakana, o letreio da onomatopeia se apresenta de forma grande, geométrica e não simétrica.
Por conta disso, os japoneses acabaram tendo mais facilidade em expressar graficamente as onomatopeias, podendo ainda escolher qual dos sistemas gráficos se encaixa melhor em determinada situação. Não há muitas regras para a representação das onomatopeias nos mangás, pode-se expressá-las tanto na escrita normal (para eles), de cima para baixo e da direita para a esquerda quanto escrevê-las na horizontal à maneira ocidental. Isso se justifica pelo imenso repertório onomatopaico existente na língua japonesa e pela preocupação criadora dos artistas em trazer para o mangá, na forma escrita, um costume cultural.
Mas, além disso, a riqueza das onomatopeias japonesas, também, surgem das classificações que elas possuem: como giongo, que se divide em giseigo e gitaigo.
Giongo são palavras que imitam os sons que atingem os órgãos auditivos provocados pelo homem ou pela natureza, cuja função é criar a ideia daquilo que se quer dizer . Quando uma pedra cai faz ga-gara! (pook!), quando a água pinga faz potsu-potsu (tchaa!). Giseigo é a reprodução de sons de vozes humanas, de animais e fenômenos da natureza. O latido, por exemplo, é wan wan, o som de um vento forte é biu biu etc. É a intensidade do som provocado ou a forma como ele é produzido que vai determinar a onomatopeia, se é fúria, leveza, estrondo ou calmaria.

“Goon!!”, em katakana, onomatopeia que mostra impactos entre objetos, neste caso o soco
Já gitaigo, são palavras onomatopaicas que imitam sons emocionais do comportamento ou “sons do silêncio”. Gijôgo ou psychomimes são expressões referentes àquilo que não emite som, mas que é representado por onomatopeias para representar o estado psicológico dos personagens.

“Zaaaaa”, em katakana, som do silêncio mostrando a noite e a chuva
E, giseigo é como phonomimes ou mímesis do som, a onomatopeia de vozes humanas e de animais; e gitaigo ou mímesis seria a expressão da “aparência da natureza” e poderia ainda se subdividir em gijogo que são as “emoções humanas ou sentimentos”.

Onomatopeia “ho ho ho ho”, em katakana, som da voz humana
Em resumo:
Muitas das onomatopeias que figuram nos mangás foram inventadas pelos mangakás que sentiam a necessidade de representar o novo. Se, como apontou a professora Sonia M. Bibe Lyten, as onomatopeias marcam uma forma de pensamento diferenciado entre oriente e ocidente, é imprescindível estar atento para captar a novidade na criação dessa expressão artística.
Muito legal. Não sabia que havia tanta particularidade nas onomatopeias dos mangás.
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