Os grandes olhos do mangá – parte II

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Uma história de deuses nunca esquecidos e irmãos perdidos. 

No post anterior foi comentado sobre o provável início dos olhos grandes nos mangás através dos artistas Takehisa Yumeji, Watanabe Yohei e Nakahara Jun’ichi, mas é impossível não mencionar o nome de Osamu Tezuka (1928 – 1989), o “deus do mangá”.

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Formado em medicina, Tezuka desde pequeno já se fascinava pelas animações e quadrinhos, pois seu pai tinha um projetor de filmes e exibia animações, principalmente, do Walt Disney e na época era comum o consumo dos mangás conhecidos como aka hon (livro vermelho), por serem produzidos com papéis de baixa qualidade, proporcionando assim, uma venda de baixo custo.

A região em que Tezuka morava era conhecida como “pensão da ópera”, por ser a residência de diversas cantoras de ópera da Takarazuka Revue, uma companhia musical em que a interpretação artística é composta somente por mulheres, o oposto do teatro Kabuki, em que o elenco é composto apenas por atores do sexo masculino.

Além de ser formada por atrizes, outra característica dessa companhia são espetáculos semelhantes às danças de cabaré do final do século XIX francesas, bem como, os musicais da Broadway. Sem ficarem de fora, as apresentações relacionadas à cultura japonesa também são produzidas pela companhia.

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A produção dos espetáculos (cenografia, coreografias, figurinos e maquiagem) são muito bem elaborados, no entanto, a maquiagem produzida nas atrizes foi o que mais impressionou Osamu Tezuka. Como esse tipo de apresentação artística requer uma estética de pompas e esplendor visual, a maquiagem era, e ainda é bastante contrastante para que o público possa ver e sentir as expressões das atrizes. Foram estas maquiagens e as luzes dos holofotes que inspiraram os olhos grandes e com brilho dos personagens de mangás do Osamu Tezuka.

Mas, os traços desses olhos grandes também parecem ter tido influência dos desenhos de 1930 do Walt Disney. Fusanoseke Natsume, um crítico de mangá no Japão, observou as formas dos olhos dos personagens de Tezuka e do Disney, e comentou que ambos são grandes, compridos verticalmente e arredondados. Aliás, essa relação não se encontra apenas nos olhos grandes, mas em algumas expressões faciais, movimentos dos personagens e linhas cinéticas.

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Em outras palavras, as duas inspirações visuais que fizeram parte da infância de Tezuka, a ópera de Takarazuka Revue e os desenhos de Walt Disney, parecem ter ficado em sua memória, para então, na vida artística e adulta se sortirem na criação dos olhos grandes.

Mas, aí surge a dúvida: anteriormente foi comentado que Nakahara Jun’ichi quem criou os olhos grandes que influenciaram os demais artistas de mangá, e agora foi Osamu Tezuka?!

Bom, alguns pesquisadores dão esse crédito a Osamu Tezuka e outros ao ilustrador Nakahara Jun’ichi. Em termos de data, os desenhos de Jun’ichi antecedem a Tezuka, entretanto devemos admitir que o “deus do mangá” foi quem difundiu essa arte para o ocidente.

Curiosidade: Essa propagação do mangá através de Osamu Tezuka chegou até o Brasil. Ele e Maurício de Souza se conheceram e se tornaram amigos!

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A proposta de Tezuka a Maurício de Sousa era que produzissem uma história em que seus personagens se encontrassem, porém, Osamu Tezuka faleceu antes do projeto se realizar. Mas em uma das edições da Turma da Mônica Jovem, Maurício de Sousa concretizou esse encontro.

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Além disso, no site da Turma da Mônica é possível encontrar uma crônica, dividida em duas partes, sobre o encontro dos dois. Em um dos trechos do texto, diz Maurício de Souza:

E ainda hoje, quando me lembro do meu ‘irmão’ Tezuka-San, sinto duas emoções: uma de tristeza por ele não estar mais aqui (valendo um nó na garganta) e outra de agradecimento pelo privilégio de tê-lo conhecido e de ter recebido dele a energia dos seus conhecimentos e da sua amizade.” (21-12-1996)

Se quiser saber mais sobre  Osamu Tezuka assista à Guerra dos Roteiristas: Especial Mangaká: Yoshihiro Tatsumi X Osamu Tezuka:

 

Sobre Mochi

Atingiu o estado de Olhos Grandes nas ilhas do Oriente Silencioso.
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4 respostas para Os grandes olhos do mangá – parte II

  1. Quiof disse:

    Não existe exatamente um pai do olhos grandes japoneses, Shigeru Sugiura, começou a publicar e como disse anteriormente, desenhou a Betty Boop em alguns de seus mangás, ele era assistente do Suihō Tagawa de Norakuro, em meados do século XIX,, chegaram ao Japão cartunistas como o britânico Charles Wirgman e o francês Georges Ferdinand Bigot, ambos fundaram revistas satíricas(Japan Pnch, inspirada na Punch britânica e Tobaé, nome de uma arte japonesa) e levaram o humor gráfico ao Japão, Bigot voltou pra França e também é um pioneiro dos quadrinhos europeus, ele assinou umas histórias falando dos costumes japoneses com o pseudônimo Shivari-Kiki (alguns chamam de shidari, mas acho que é um erro, a assinatura parece um v)

  2. Quiof disse:

    Também tinha influência dos desenhos americanos nos primeiros animes, com a Guerra, proibiram produtos americanos, os personagens apareciam nos curtas como vilões que atacavam Japão, enquanto nos Estados Unidos, tinha curtas de propaganda com personagens de desenhos (os japoneses eram bastante estereotipado nesses curtas).

  3. Pingback: Os grandes olhos do mangá – parte I | Quadrinheiros

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