Um passeio na praia para relaxar, mas uma usina nuclear subitamente explode. O que fará John Constantine?
Durante a fase de Jamie Delano, após combater o demônio Nergal, o famoso mago John Constantine vai à praia, enseada onde passou bons momentos de sua infância. Lá observa as pessoas, o cenário ensolarado e relembra passagens de sua vida. Se quiser saber mais sobre Hellblazer nas mãos de Delano, assista ao vídeo abaixo:
Mas, voltando à história. De repente, o estampido da detonação. Ele sabe, a precipitação radioativa é iminente. Em pouco tempo cai uma chuva assustadora de gaivotas, vítimas da radiação e a praia tornando-se cada vez mais caótica.
Em meio a essa situação perturbadora, John encontra uma mulher desesperada a procura do marido. John se compromete em ajuda-la, investigando pelas redondezas da praia e se depara com os efeitos do desastre bem à sua frente. A busca é inútil, o marido desapareceu. Daí em diante as coisas só pioram.
Dois anos depois do terrível acidente na usina nuclear de Chernobyl (Ucrânia, 1986), o roteirista Jamie Delano traz nesta história um alerta aos leitores sobre os possíveis perigos da energia nuclear e algumas de suas piores consequências. O ambiente de medo e desespero criado na HQ é assustador, alimentado também pelo cenário hostil desenvolvido na narrativa, pois mergulha fundo no contexto de Guerra Fria, referências próximas as quais os autores viveram na época.
A Guerra Fria (na qual nasceu o selo Vertigo) foi um período de incomparável tensão política, em que as possibilidades de uma guerra nuclear, antes apenas imaginadas pelos físicos mais pessimistas, tornaram-se um cenário de bastante plausível. Sem depender de mais do que um único ataque, a humanidade correu um risco real de total obliteração. Com as notícias diárias que falavam sobre o alto poder destrutivo dos armamentos nucleares era impossível para qualquer pessoa escapar de um sentimento de insegurança.
No mesmo ano em que foi escrita a edição #13 de Hellblazer (1988), também entrou em vigor o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Intermediate-Range Nuclear Forces – INF), ato concebido como um meio de conter a ameaça global que a União Soviética e Estados Unidos representavam ao mundo por conta de seus vastos armamentos nucleares. Entre seus artigos, o INF previa a eliminação de armamentos nucleares de médio alcance (entre 5 a 5,5 mil km, algo como a distância do Amapá ao Rio Grande do Sul) dessas duas superpotências mundiais.
Outro ponto importante na história são os posicionamentos ideológicos em relação à energia nuclear. De forma rápida Jamie Delano introduz personagens que estão protestando contra a energia nuclear. Alguns quadros depois, surge um funcionário da usina nuclear que é a favor, mas ambos defensores de suas vivências em relação ao assunto, um antagonismo de ideias interessante de notar.
Nos dias atuais, ler “Na praia”, além de ser uma ótima experiência da leitura, é um meio formidável para entendermos melhor o sentimento das pessoas acerca dos perigos da energia nuclear naquela época. Ver John Constantine lidando com esse tipo de questão é uma oportunidade única e as reflexões dele sobre a sociedade tem muito a contribuir para as nossas vidas, se você for um leitor atento. Uma história que vale a pena ser lida não precisando de nenhum conhecimento prévio de Hellblazer para compreendê-la.
E você, já leu “Na praia”? Comente o que achou dessa edição.
Até a próxima!
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