Porque a humanidade só é melhor quando vista pelo olhar deles!
É um velho macete: quando uma história requer que o público tenha mais simpatia por um personagem, basta inserir a presença de um bicho de estimação na narrativa.
Por que?
Não precisa ser nenhum gênio: um público variado é quase impossível de agradar em sua totalidade. Há backgrounds, cargas culturais e expectativas muito diversas para que um autor consiga cativar seus leitores de forma homogênea.
Padrões estéticos, ideológicos, morais, características dos personagens de quadrinhos e cinema continuam enraizados nos mais profundos paradigmas ocidentais (apesar dos esforços universalistas mais sinceros). Como acionar a simpatia de um brasileiro, coreano, moçambicano, finlandês e australiano com a mesma naturalidade com que um americano acompanha as aventuras de um super-herói como o Capitão-América (a rigor, um sujeito alto, loiro, que veste a bandeira dos Estados Unidos como uniforme)?
Bom, tem várias formas. Pessoalmente acho que tem a ver com o olhar.
Mas se tudo mais der errado, dá um bicho pra ele!
Especialmente em tempos de globalização dos meios de comunicação, é imperativo que os bens culturais e os heróis, sejam “ungidos” de algo que os torne acima de qualquer suspeita, não importa a idade, nacionalidade, etc. Um “denominador comum” é nossa empatia pelos animais (talvez, este sim, o sentimento mais universal que tenhamos enquanto espécie).
Note-se que aqui distinguimos “simpatia” (aquele sentimento de afeição APESAR de quem seja o objeto de afeição) de “empatia” (aquele sentimento de “sintonia” sincera com o que qualquer pessoa – ou bicho – possa estar sentindo). Podemos ser simpáticos a certos personagens. Mas somos verdadeiramente empáticos aos heróis quando eles têm a lealdade de um bicho de estimação, selo de garantia que o sujeito retratado tem um bom coração.
Não só isso, o bicho de estimação na ficção tem atributos ainda mais importantes: ele acentua o que o personagem tem de melhor. Funciona tanto melhor quanto mais o personagem tenha uma condição “periférica” no universo que ele ocupa. Quanto mais desprezível for o sujeito, quanto mais brutal, assustador, ganancioso, covarde, ranheta, crica ou grosseiro for o personagem, maior é a surpresa, e assim, maior empatia do público pelo “herói”.
Dentre vários, reunimos aqui uma lista breve do recurso, mas que comprovam a regra sem deixar qualquer margem de dúvida:
Capeto e Herói (Fantasma)
Ace (Batman Beyond)
Dentinho (Inumanos)
Zabu (Ka-Zar)
Krypto
Bubastis (confirmando a regra de que se o personagem é de bom coração, o bicho vai sempre se dar bem)
Lockheed
Gato do Spider Jerusalem
Morfeus-versão-gato (a única companhia que Morfeus toleraria)
Barnabé (Sandman)
Pacato/Gato Guerreiro (o que explicaria o sucesso do He-Man em diversos países e mídias)