É isso aí. Diziam que não ia ter Copa e teve Copa. Diziam que não ia ter Golpe e teve Golpe. Talvez devessem considerar mudar o slogan, porque ao que parece esse não está atraindo muita sorte. E agora José, o que fazer?
Bom, além de protestar você poderia também… ler quadrinhos!
Uma das funções de uma obra de arte é a que podemos chamar de pragmática ou utilitária. Basicamente a arte serviria ou seria útil para se alcançar um fim que não é artístico. Aqui se abre caminho para uma arte que é engajada, pensando em fins políticos. A arte teria a função de conscientizar ou esclarecer as pessoas a respeito de alguma coisa.
Portanto os quadrinhos, uma vez que são obras de arte, podem ter a intenção de produzir um efeito político, que poderíamos chamar de engajamento, um conceito que possui muitos significados.
Um dos filósofos que pensaram a questão do engajamento foi Sartre. Para Sartre o engajamento é a necessidade de se estar voltado para a análise da realidade na qual se vive e estar solidário aos acontecimentos sociais e políticos no qual se está imerso.
Houve uma época que o engajamento era vinculado principalmente a um partido político, onde a figura do militante era fundamental. Hoje em dia já existe uma percepção de que o engajamento partidário não dá mais conta de todas as demandas dos indivíduos e da sociedade como um todo. A figura do militante perde força e vem à tona a figura do ativista, que se engaja em várias causas, sem necessariamente estar vinculado a um partido.
Poderíamos chamar de arte engajada aquela que faz uma análise da realidade e convida à solidariedade a uma determinada causa. Mas mesmo partindo dessa definição qualquer quadrinho poderia ser considerado “arte engajada”, pois ele sempre passa pela experiência subjetiva de quem o lê.
Imaginemos um leitor do quadrinho Superman – Paz na Terra, de Paul Dini e Alex Ross. A história mostra o Superman lidando com um problema muito concreto: a fome. O que os poderes do Superman poderiam fazer para acabar com a fome no mundo? Muito pouco. No entanto, imaginemos um leitor hipotético que, depois de ler o quadrinho fosse fazer algum trabalho voluntário, por exemplo, fornecendo alimentos a moradores de rua. Não seria o quadrinho em questão um exemplo de “arte engajada”?
Fiz uma lista de quadrinhos cujos autores procuraram fazer uma análise da realidade que estavam imersos. Autores que convidam, cada qual à sua maneira, a um tipo de engajamento e que têm alguma coisa a dizer sobre o atual contexto em que vivemos. Claro, se o convite será aceito, depende de cada um de nós.
ALAN SIEBER
Na mesma linha das charges críticas de Angeli e Jaguar, mas mais diretamente influenciado por autores do underground americano de Robert Crumb e Peter Bagge, Alan Sieber é tão sagaz quanto certeiro em suas charges que deixam bem explícitas as críticas do autor à política. Conheça mais do trabalho dele clicando aqui.
ANDRÉ DAHMER
Mais próximo do trabalho de Laerte e menos explícito em sua crítica, mas nem por isso menos ácido ou certeiro. Conheça mais do trabalho dele clicando aqui.
LATUFF
Talvez o mais engajado no sentido sartriano do termo e sem dúvida o mais visceral. Conheça mais sobre o trabalho dele clicando aqui.
ALAN MOORE (V DE VINGANÇA)
Um herói niilista lutando contra um governo totalitário descendente das reformas neoliberais implantadas na Inglaterra pela Dama de Ferro, Margareth Thatcher.
WARREN ELLIS (TRANSMETROPOLITAN)
Democracia, mídia e opinião pública são temas centrais nessa hq de Warren Ellis. Talvez mais atual do que nunca em nosso contexto. Clique aqui e conheça mais sobre essa obra-prima.
Qual você colocaria nessa lista?
A impressão que tenho é que foram privilegiados os autores mais à esquerda. Poderíamos colocar também Frank Miller,com seus posicionamentos dúbios, Mafalda e Spacca.
Ola, Tamas. Não acho que os posicionamentos do Miller são dúbios, acho que eles são bastante claros em suas histórias, mas sim, ele e os outros que vc citou poderiam estar aí com certeza.
Parabéns! Excelente trabalho! Vou incluir HQs nas minhas aulas de sociologia…
Obrigado. Que bom que o post pôde te ajudar nas aulas. Volte sempre.
“SP dos Mortos”, do Daniel Esteves (ele tem outros trampos bem fodas, como “Por mais um dia com Zapata”).
Talvez Marcello Quintanilha tb.
Boas indicações, Marcelo. Abraço.
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