Demolidor – a representação gráfica da cegueira

Sempre achei a cegueira fascinaDaredevil_Vol_1_280nte. Dependemos tanto dos nossos olhos que ao considerarmos a possibilidade de perdermos esse sentido nos deparamos com séria dificuldade. No entanto muitas pessoas vivem assim, aguçando outros sentidos e estabelecendo rotinas e procedimentos que as permitem transitar pelo nosso mundo de cores e símbolos. Me lembro sempre de uma história do DEMOLIDOR em que ele era abandonado num campo durante uma nevasca, sem referências como prédios ou outras construções, sem noção de direção, numa situação agravada pelo abafamento dos sons promovido pela neve fresca. Um homem cego perdido no silencio branco.

Picture-131A cegueira de Matt Murdock é o personagem mais interessante das histórias do demônio. É ela que deixa o personagem em suspenso, fingindo o tempo todo ser o que não é. Frank Miller em Daredevil #191 nos mostra esse desconforto quando Matt Murdoch diz: “A identidade secreta é um alívio, Mercenário. Quando eu sou Murdoch eu não tenho que usar meus sentidos ampliados para fingir que não sou cego”.  O inverso é igualmente verdadeiro. Matt finge não saber o que seus sentidos ampliados lhe dizem quando está na pele do advogado, para manter em segredo seus poderes, sem poder nunca revelar a sua apreensão da realidade.

Recentemente, no arco do Mark Waid (que saiu aqui pela Panini em 6 edições), a revelação da identidade secreta de Matt abriu a possibilidade para o fim desse desconforto. Ao confidenciar ao amigo Foggy Nelson a  dependência psicológica que uma vida de segredos impôs, Matt exorciza o demônio da identidade fragmentada e passa a viver uma vida plena, pela primeira vez.

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A arte de Paolo Rivera reforça essa nova fase afirmativa do herói quando, diferente de tudo o que já tinha sido feito graficamente com o personagem, ele retrata a visão do Demolidor/Matt Murdoch como ondas que voltam e são captadas. Se você quiser saber um pouco mais sobre essa fase do Demolidor é só clicar no vídeo:

Historicamente, sempre que era representado graficamente, o poder do Demolidor mostrava discos concêntricos se expandindo, como um sonar emitido pelo personagem (muito parecido com a representação gráfica dos poderes do Aquaman). Desta vez a imagem que Paolo nos mostra é a impressão que o tal radar devolve para o Demolidor. Nós finalmente vemos o que ele vê, sem mais segredos.

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Essa apreensão da representação gráfica como um elemento narrativo que reforça o roteiro e as falas do personagens é o que faz das histórias em quadrinhos uma arte singular. Muitas vezes esse casamento é mal executado (o que não obrigatoriamente compromete a narrativa), mas quando ele é bem feito, mesmo que não consigamos lê-lo de forma consciente, reconhecemos a excelência da história. É o que acontece no clássico arco da dupla Frank Miller e David Mazzuchelli (A Quada de Murdoch) e agora no recente arco de Mark Waid e Paolo Rivera (que foi aluno de Mazzuchelli).

Que as equipes criativas do Homem sem Medo continuem sempre desafiando o demônio!

 

Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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2 respostas para Demolidor – a representação gráfica da cegueira

  1. Alan C Tadini disse:

    Muito bom. Acho que é bem isso mesmo. Eu sempre imaginei que fosse assim a visão dele. Bom post, parabéns pela pesquisa !!
    Abraços do Quadrinheiro Véio !

  2. Pingback: Quadrinheiros Indicam Ep 8 – Demolidor | Quadrinheiros

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