A Vertigo – selo adulto da DC Comics – mudou a cara da indústria dos quadrinhos abrindo o mercado para produções mais autorais de artistas independentes ou possibilitando vôos criativos de artistas consagrados. Na década de 1990 seu impacto influenciou o mainstream trazendo abordagens mais realistas e mais sérias para a vida de personagens como o Homem Aranha e o Batman. Até hoje é uma incubadora de inovações estéticas e de estilo e mesmo com a recente saída de editora chefe original do selo – Karen Berger – o legado se mantém.
No Brasil a história da Vertigo parece mais um folhetim. Se hoje no país o mercado de quadrinhos é pequeno, nos anos 90 era menor ainda (e nos 80 era minúsculo). Editoras como a Abril e a Globo não arriscavam muito como material “alternativo“, mas a qualidade do material era muito boa para passar em branco, então em 1995 a Abril publicou 12 edições mensais de um encadernado de 100 páginas intitulado – VERTIGO. A qualidade da edição (papel e número de páginas) não se pagava com as baixas vendas e o título naufragou.
No bom e velho estilo punk do faça você mesmo, a editora Metal Pesado começou a publicar vários títulos da Vertigo em formato americano, sem recorrer a estratégia de fazer revistas com mix de histórias. O carro chefe era a série PREACHER, mas a editora também publicava SHADE, PATRULHA DO DESTINO, além de dar continuidade ao material abandonado pela Abril como HELLBLAZER e HOMEM ANIMAL.
Só Deus e algum auditor fiscal devem saber o porquê, mas a Metal Pesado passou por uma série de mudanças de nome – Tudo em Quadrinhos, Fractal e por fim Atitude – indícios claros de problemas administrativos que levaram ao desaparecimento e a descontinuidade de todo esse material. Depois disso quem pegou o bastão foi a Brainstore e posteriormente a Opera Graphica, a Devir e a Conrad.
Só em 2006 pela editora Pixel que o material da Vertigo passou a ter um tratamento mais coeso e constante. Com novas séries mensais e encadernados as publicações da Pixel deram novo fôlego a muitos fãs do selo que haviam ficado órfãos, mas a alegria durou pouco e mais uma vez o material adulto da DC Comics foi descontinuado.
A Panini, que já trilhava um caminho sólido no mercado de quadrinhos no Brasil, resolveu abraçar a causa. Uma revista mensal do selo Vertigo para apresentar novas escritores e desenhistas e muitos encadernados de séries já consagradas (que haviam sido descontinuadas várias vezes no passado) e de séries iniciadas pela Pixel ou até mesmo pela própria Panini – essa era a estratégia para distribuir o material por aqui.
Durou mais do que todo o que havia sido feito com a Vertigo no Brasil até então, mas a revista mensal provou ser mai difícil de administrar e menos rentável que os encadernados. O fim da revista depois de 51 edições não é o fim do selo já que muitos encadernados já foram anunciados e outros estão sendo planejados, mas fica um gosto amargo de derrota, quase uma maldição.
Mais uma vez a Vertigo morreu. Longa vida a Vertigo!
* agradecimento especial ao Cleriston Oliveira pela ajuda com o post!
Bom post, embora acredite que pudesse ser um pouco mais aprofundado, levantando dados como histórias várias vezes republicadas (sim, “Prelúdios & Noturnos”, estou falando com você), entre outras coisas. Mas fica uma dúvida… o lançamento da Vertigo (Abril) não foi em 1995?
Não aprofundei muito porque o post foi mais um desabafo, mas valeu pelo toque! Você tem razão sobre a data. Já mudei no texto. Abs!
Acho que houve um equívoco com a afirmação de que nos anos 80´s o mercado de quadrinhos era minúsculo. Foi justamente essa a década do Boom dos quadrinhos, com inclusive vários títulos nacionais em bancas. Na segunda metade da década de 90 sim que o mercado se retraiu bastante, inclusive levando a ed. Abril a abrir mão da DC e posteriormente desistiria também dos personagens da Marvel. Mas como eu estou escrevendo de memória, pode ser que valha a pena tentar encontrar referências para essas situações de mercado.
No Brasil da hiper inflação esse movimento de crescimento e retração era bem intenso.
O final dos anos 80 foi de crescimento para o mercado de quadrinhos (mas a maior parte da década foi de estagnação). São da segunda metade da decada de 80 as publicações de RONIN, ELEKTRA ASSASSINA e CAVALEIRO DAS TREVAS, em formato americano (e posteriormente em encadernados). Tanto que no final desse período até a Globo arriscou com AKIRA. O início dos anos 90 com o confisco do Collor quebrou-se o ciclo e os planos de expansão foram engavetados (a Globo resistiu aos trancos e barrancos com AKIRA até 93 e depois só retomou a publicação em 97). Na segunda metade da década, com o plano Real tivemos um forte crescimento do mercado com a invasão dos títulos da IMAGE e edições luxuosas de capa brilhante da Abril, abrindo terreno para uma nova geração de leitores.
Adoro estas HQs originais no Brasil da Vertigo! Aquela história do Sebastian O, aquilo era muito legal e nunca mais achei nada dele (em português). E foi ali, naquelas historinhas, que conheci o John Constantine! 🙂
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Boa matéria. É uma pena que esse curso não rolar no RJ. Séria ótimo trocar uma idéia pessoalmente com o pessoal do quadrinheiros e conhecer mais sobre esse que junto com a image, é um dos selos que eu mais admiro/respeito.
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