Lá pelos idos de 2007, Joss Whedon, diretor do estrondoso sucesso “Os Vingadores”, era um quase ninguém fora dos círculos nerds. Naquele ano, ele foi solenemente demitido da Warner quando o seu novo projeto, um filme solo da Mulher-Maravilha, foi engavetado. A justificativa de um graúdo da Warner na época era de que protagonistas mulheres não geram filmes lucrativos.
De todo modo, ver a heroína no cinema continua sendo um sonho distante. O máximo até agora é promessa da Mulher-Maravilha no próximo filme do Homem de Aço e Batman. A modelo/atriz israelense Gal Gadot foi a escolhida para o papel. O desafio não é pouco. Como dizem os americanos, big shoes to fill.
Semanas atrás, roteiristas do novo filme deram declarações polêmicas. Elas sugeriam que esta nova Mulher-Maravilha seria uma descendente dos pioneiros kryptonianos na Terra, ou seja, quase uma parente do Homem de Aço vivido por Henry Cavill. Pouco depois, possivelmente por ser uma bosta de ideia, o comentário foi desmentido e classificado como “especulação”.
Já são décadas e até hoje nenhum filme ou série chegou perto de mostrar uma versão total da Mulher-Maravilha, a embaixadora de Themiscyra, a amazona da Liga da Justiça, a filha de Zeus e Hipólita, a imigrante no mundo do patriarcado, a detentora do laço da verdade. No mais das vezes, ela continua sendo uma espécie de suporte dos outros heróis, até mesmo do Superman. Os dois atualmente formam um casal com direito à revista própria (o que para fins de analogia quadrinhística é como se tivessem casado).
Afinal, porque é tão difícil fazer um filme da Mulher-Maravilha?
Esta é uma excelente pergunta da qual nenhum dos engravatados da Warner sabe (ou soube) responder (ainda!). Colocam-na como um dos pilares da divina trindade da DC, mas sabe-se que ela não tem a mesma importância que certos cavaleiros das trevas e homens de aço; falam que ela é um símbolo para mulheres de todas as idades, porém as críticas sempre voltam na questão do uniforme (e, por definição, do sex appeal) e sua equivocada subserviência à sociedade patriarcal. A verdade é que dizer que protagonistas femininas não geram lucro não passa de balela, pois de Ellen Ripley a Katniss Everdeen, passando por Leia Organa e Buffy Summers, há muito espaço para mulheres fortes e determinadas.
P.S.: Esta Gal Gadot é linda, mas se para um ator que tem de interpretar um personagem baseado em um herói das HQs precisa fazer musculação e ganhar peso para que possa convencer a plateia e os críticos de que sua escolha foi certeira, ela também deveria passar por um método semelhante, contudo condizente com seu porte físico e as exigências do papel.
Sarah Connor, Scarlett O’Hara, Motoko Kusanagi, A Noiva (Kill Bill), Lisbeth Sandler, Clarice Sterling, Viúva Porcina… Isso sem mencionar os filmes da década de 20 e 30, repletos de personagens femininas assombrosas. Dava pena do ator (masculino) que tivesse que contracenar com a Gloria Swanson. Ele não passava de uma pulga perto das personagens que ela criava.
Mas vamos pensar, são quantos sucessos femininos em comparação aos sucessos de filmes de heróis masculinos? Faz entender o ponto de vista empresarial do cinema. Para os diretores de uma empresa, cuja sobrevivência depende da manutenção de lucro, não vão poder arriscar um fracasso retumbante de milhões de doletas, nem mesmo por um princípio de igualdade sexual. Com a justificativa financeira, a “razão de estado do cinema” não é a mesma “razão moral” pela qual nós tomamos nossas decisões diárias, daí nossa indignação como espectadores que nunca viram um filme decente da Mulher-Maravilha.
Eu, que sou um mero observador disso tudo, tendo a achar que as boas histórias, os bons filmes, acontecem quando as duas “razões” convergem entre si. Mas posso estar errado.
Uma década, atrás Lucy Lawless seria perfeita pro papel, deviam ter escolhido alguém do porte dela.
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