Em 1939 nas páginas de Detective Comics #27 estreava um personagem que iria marcar a indústria dos quadrinhos para sempre. Há controvérsias sobre quem seria seu criador, mas a verdade é que o Batman é uma mistura de tantas referências (Drácula, Sherlock Holmes, o personagem pulp The Bat – apenas para citarmos as mais óbvias) que somente uma injustiça poderia creditá-lo a Bob Kane.
Portanto, Batman não é um personagem “original”, mas seu sucesso é inegável. A razão disso é tão misteriosa quanto o próprio personagem. Arriscarei uma tentativa de explicação: é justamente o mistério um dos componentes fundamentais de sua popularidade.
A capa de sua edição de estreia já é algo intrigante, misterioso. Até mesmo ambíguo. Não sabemos se é dia ou se é noite. Há imagem sombria do homem mascarado – talvez raptando a pessoa que segura, não sabemos – com os dizeres Começando nessa edição: as incríveis [amazing] e inigualáveis [unique] aventuras de Batman. A palavra aventura sugere um herói, contrapondo-se à figura sombria vestida de morcego que vemos.
Essa ambiguidade permanece na primeira página. Nela podemos ler, ao lado da sombra do homem vestido de morcego: O Bat-man, um personagem misterioso e aventureiro que luta pelo bem e derrota malfeitores em sua solitária batalha contra as forças do mal da sociedade… sua identidade permanece desconhecida. Embora a figura noturna remeta a um vilão ela é na verdade um herói. Imagem e texto se contradizem, criando o mistério em torno da criatura conhecida apenas como The Bat-man.
Além disso, ao final da edição, descobrimos que o mascarado é o jovem Bruce Wayne, abastado amigo do comissário de polícia apresentado na primeira página. Por que ele faz o que faz? Outro mistério que só seria revelado na edição 33.
(A discussão acerca da ambiguidade da figura do Homem-Morcego aqui apresentada é retirada do livro de Grant Morrison, Supergods, p.18-20).
Por ocasião da comemoração dos 75 anos do Batman a história foi recontada com o roteiro de Brad Meltzer (Crise de Identidade) e Bryan Hitch (Os Supremos) para a segunda Detective Comics #27, milagre possível graças aos Novos 52.
Uma vez que o mistério e ambiguidade da edição original seria impossível de se reproduzir, o ponto de Meltzer na história é procurar no personagem principal uma das coisas que mais despertam interesse do público: sua motivação.
E, ao lermos a mesma história sobre o assassinato de sócios de uma indústria química de 75 anos, o Cavaleiro das Trevas nos diz as razões porque faz o que faz. E elas são numerosas: uma espécie de homenagem de Meltzer a todos os roteiristas, escritores, editores etc. que ousaram dar uma resposta a essa pergunta. Algumas das mais interessantes:
Eu faço para que ninguém passe pelo que passei.
Eu faço porque eu tenho os meios necessários. Embora eu faria mesmo se não tivesse.
Eu faço porque eu sou louco.
Eu faço porque não há nada mais poderoso do que uma pessoa comum.
Eu faço porque não existe algo como uma pessoa comum.
E o mais interessante: todas as respostas lembradas por Meltzer não dão conta de explicar porque o Batman faz o que faz, tamanha a riqueza do personagem. E é por isso que ainda teremos muitas histórias sobre o Homem Morcego a serem contadas, quem sabe em uma terceira Detective Comics #27.
Muito bom o texto para o processo de criação do personagem. Faltou apenas citar apenas Zorro de Johnston McCulley para as pulp fictions dos anos 20 ente Sherlock Holmes, Drácula e The Bat como influência na criação do Batman. Mas valeu pelo tópico abordando o tema.
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