Um novo fôlego para uma das franquias mais improváveis da indústria do entretenimento.
Desde a sua criação as Tartarugas Ninja são um improvável sucesso. Já contamos essa história, mas aqui vai um resumo.
A dupla de amigos Kevin Eastman e Peter Laird apostaram na sua criação sozinhos. O que era para ser uma paródia de Demolidor, Ronin e Os Novos Mutantes de apenas uma edição (que foi bancada pelos próprios autores) tornou-se uma das maiores franquias da cultura pop.
Com uma produção praticamente contínua desde sua criação entre desenhos, quadrinhos e filmes, mesmo que nunca tenha repetido o sucesso dos anos 80 e 90, a franquia parecia cair no limbo do mediano. Até agora.
O alarde causado por The Last Ronin conseguiu trazer os holofotes para os quelônios adolescentes mutantes novamente. Ambientada em um futuro distópico – até aí nada de novo – veríamos uma história de vingança da única tartaruga ninja sobrevivente. É nesse detalhe que as coisas ficaram interessantes.
Todo o marketing do quadrinho foi centrado nesse mistério, e não vou negar que foi isso que despertou minha curiosidade inicial na leitura. Mas não vou dar esse spoiler. Se você quiser saber quem é, basta dar uma procurada na internet.
Mas esse grande mistério em torno da identidade da tartaruga sobrevivente acabou eclipsando algo muito mais interessante. A hq marca a volta da colaboração entre os dois criadores da franquia, que haviam tomado rumos diferentes. O episódio dedicado às Tartarugas Ninja da série Brinquedos que Marcaram Época (Toys That Made Us) conta um pouco disso.
Laird não concordou com os rumos criativos da franquia e acabou se afastando, ainda que seja inegável a habilidade de Eastman em manter a criação dos dois rentável por todos esses anos. No episódio, que mostra um reencontro dos dois, dá para ver o quanto a falta da amizade era sentida por ambos.
Baseada em um antigo roteiro que haviam escrito em 1987, a hq, nas palavras de Eastman, é “um poema de amor ao passado” e um “olhar intenso para um possível futuro”.
E de fato é. Junto com Esau e Isaac Escorza, Eastman conseguiu trazer o ritmo frenético de ação das primeiras histórias (que graças ao Pipoca em Nanquim teremos traduzido na íntegra), que se adapta perfeitamente ao roteiro da dupla de criadores em colaboração com Tom Waltz, que escreve os quadrinhos das Tartarugas Ninja desde 2011. São 48 páginas em que a equipe criativa sabe dosar os elementos narrativos para que a história se sustente independentemente do segredo da identidade da tartaruga sobrevivente, ao mesmo tempo em que o mistério é constante.
Em um momento da indústria do entretenimento em que o apelo ao passado é sinônimo de lucro fácil, The Last Ronin soube dar um novo fôlego à franquia sem cair no apelo à nostalgia barata.