O filme traz para o grande público um dos personagens mais importantes de uma editora ainda pouco conhecida aqui no Brasil: a Valiant Comics.
A Valiant foi criada pelo ex-editor da Marvel, Jim Shooter. Ele tentou comprar a Marvel no final dos anos 1980, mas sua oferta foi superada. Com o dinheiro dos investidores Shooter montou sua própria editora, convidando vários roteiristas e desenhistas da Marvel para criar uma linha de heróis e vilões. A bolha que inflacionou o mercado de quadrinhos nos Estados Unidos no início dos anos 1990, na esteira da criação da Image Comics (com colecionadores pagando fortunas por edições número 1 de capa metalizada) ajudou a alavancar a Valiant, que chegou a ser a terceira maior editora de quadrinhos dos Estados Unidos. Mas a bolha estourou e a jovem editora faliu. Foi comprada por uma empresa de video games que produziu alguns jogos com os personagens e que em seguida também faliu.
Nos anos 2000 fãs da editora recompraram os escombros da empresa que foi rebatizada e passou a ser chamada Valiant Entreteniment. O braço editorial mais uma vez contratou criadores da Marvel e da DC para relançar os personagens do universo Valiant, aproveitando a mídia em torno da renovação das duas grandes (Novos 52 da DC e a Nova Marvel, ambos de 2012) , e de olho no mercado cinematográfico. Parte do material dessa fase da editora foi publicada aqui no Brasil pela HQManiacs entre 2013 e 2016, mas as publicações foram descontinuadas. Em 2017 a plataforma Social Comics começou a disponibilizar todos os títulos dessa fase da Valiant em formato digital e a Jambô passou a publicar material mais recente da Valiant como Divinity, Ninjack, X-O Manowar, Faith e Bloodshot Renascido , esse último com roteiros de Jeff Lemire.
Bloodshot é o codinome do soldado Ray Garrison que ganhou força, agilidade e capacidade de regeneração após ser injetado por uma quantidade absurda de organismos artificiais microscópicos (nanites). Sua memória é constantemente apagada e modificada para que ele atue como o soldado perfeito, sem nenhum questionamento que possa fazê-lo desistir da sua missão. Esse também é o argumento básico do filme, que vai se aprofundar na relação do personagem com aqueles que o transformaram nessa máquina de matar.
Já na fase mais recente dos quadrinhos, escrita por Lemire, a loucura e a dor do personagem ganharam novos contornos. Em uma entrevista o roteirista explica que Bloodshot é uma mistura de Wolverine e Justiceiro, e que esse tipo de herói com falhas de caráter e apelo à violência nunca o atraiu. O desafio de trabalhar com um estereótipo foi transformar as histórias centradas na ação num estudo da psicologia do personagem, aprofundando sua humanidade.
Para isso a fase Renascido mostra o personagem sem os nanites, tentando recomeçar sua vida com um cidadão comum. Mas as lembranças confusas de seu passado violento e o aparecimento de outros Bloodshots faz com que ele abandone o anonimato e volte à ativa, recuperando os nanites. Lembranças, memórias implantadas e fantasias surrealistas convivem na mente do personagem, fazendo referência à outras fases do herói (como o Bloodshot dos anos 1990), compondo um longo e complexo arco, que já foi indicado ao prêmio Eisner e vale ser conferido.