Os superdeuses Orixás de Hugo Canuto

15_TODOS_JUNTOS_-_DEF_DEF_CENARIO_-_RGB_COM_RETO quadrinho Contos dos Orixás de Hugo Canuto resgata a rica mitologia das religiões africanas em um tempo de intolerância religiosa.

Xangô (com seu machado duplo), Exú (que abre os caminhos com sua astúcia e velocidade), Yansã (com sua liberdade e determinação guerreira) e Ogum (com sua força e conhecimento), são deuses ancestrais de diferentes nações africanas. Suas histórias, cultos e rituais de devoção a esses deuses vieram para o Brasil com as constantes e numerosas levas de homens e mulheres escravizados. Nas senzalas, essas diferentes culturas e tradições foram se costurando, criando uma nova mitologia, uma nova religião que chamamos de Candomblé.

Esses deuses inspiraram personagens como a mutante Ororo Munroe (Tempestade) dos X-Men, ou tem semelhanças com mitos de outras religiões antigas como Thor (da mitologia nórdica) e Hermes/Mercúrio (da mitologia greco-romana). Assim como nessas outras mitologias, as histórias e aventuras dos deuses explicam a criação do mundo, a existência dos homens e os fenômenos da natureza. Mais do que isso, esses mitos nos dão sentido (quando nos identificamos com aspectos de suas personalidades), nos dão a sensação de pertencimento (quando nos situam como parte integrante de uma cultura ancestral), e nos servem de guias e conselheiros (quando diante das nossas fragilidades buscamos modelos de resiliência e superação).

Propositalmente Hugo Canuto (que assina roteiro e desenhos) nos apresenta esse panteão num traço inspirado na estética de Jack Kirby, cuja arte é indissociável das histórias de super-heróis, especialmente da Marvel nos anos de 1960, e que também criou seu próprio panteão de deuses para a DC Comics – os Novos Deuses. Os Contos dos Orixás de Canuto apresenta para um publico novo (que conhece mais os super-heróis que tradições religiosas) os velhos deuses que vieram da Africa para o Brasil e influenciaram profundamente a nossa cultura.

Na história em quadrinhos temos termos na língua Yorubá (há um glossário no final da edição), roupas, acessórios e marcas faciais de diferentes povos e reinos (fruto de uma pesquisa profunda) e o rosto de brasileiros que o artista recolheu pelas ruas de Salvador, reconectando assim as duas pontas dessa tradição. Além disso, durante a aventura os preconceitos que os séculos de cristianismo institucional impôs ao imaginário dos Orixás vai sendo desconstruído. Vemos um ritual de iniciação em seu contexto mitológico, entendemos a real dimensão do Axé, compreendemos o poder da natureza e nossa conexão profunda com ela.

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No final fica uma vontade de ver mais. Não participam dessa aventura, por exemplo, Orixás como Nanã e Omolu, que são riquíssimos em suas narrativas simbólicas e as paixões e conflitos entre os personagens Xangô, Yansã, Ogum e Oxum são apenas insinuadas. As referências bibliográficas que embasaram a obra de Canuto não deixam dúvida de que esse material é uma obra de fôlego, que tem potencial para revolucionar o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas.

Em tempos de intolerância religiosa, quando terreiros de Candomblé e de Umbanda são destruídos e seus frequentadores perseguidos, é um ato de resistência e luta publicar uma história que mergulha nessa tradição. Em tempos de racismo explícito, não mais disfarçado por uma ilusão de cordialidade, é uma afirmação de orgulho ver uma história do povo negro, para o povo negro e pelo povo negro. Num tempo de retrocesso na educação que abraça um moralismo conservador desumano, é um privilégio ler um material que pode impactar as futuras gerações com mais sabedoria, tolerância e espiritualidade.

Pra quem ficou interessado no Contos dos Orixás, do Hugo Canuto, esse é o link para a loja on line dele – https://hugocanuto.com/store/

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Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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6 respostas para Os superdeuses Orixás de Hugo Canuto

  1. Quim Thrussel disse:

    Fiz um post sobre essa HQ e falei dos orixás e divindades africanas nas majors
    https://quadripop.blogspot.com/2017/12/divindades-africanas-e-os-super-herois.html

  2. Quim Thrussel disse:

    Obrigado, eu editei várias vezes, primeiro eu só tinha dados sobre os orixás na Marvel e na DC nos anos 80, depois o Paulo Agria me disse que estavam usando no Pantera Negra, aí fui pesquisando outras coisas, até recentemente, quando coloquei uma divindade representada por uma Pantera Negra no candomblé jeje.

  3. falco disse:

    acho muito top quando vcs postam essas alusões com a realidade

  4. Luis disse:

    Sempre quis uma história com orixás numa pegada CDZ ou Shurato. Fica a idéia…

  5. Pingback: 3 quadrinhos nacionais para você apoiar no Catarse | Quadrinheiros

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