É a vez da DC Comics abraçar a diversidade para dialogar com seu público mais jovem.
O roteirista Steve Orlando é a nova aposta da DC Comics para trazer o tema da diversidade para suas histórias. O seu primeiro trabalho na editora, a mini-série solo do Midnighter, ganhou vários prêmios e ficou marcada por ter sido considerada o melhor retrato de um super-herói gay da industria dos quadrinhos. Agora ele escreve a fase Rebirth da Liga da Justiça América, incluindo os one-shots de quatro personagens desse renovado time da DC.
Na história a LJA é montada e financiada pelo Batman e a primeira a ser escolhida é Killer Frost. A ex-criminosa ganha uma segunda chance depois de salvar a Liga da Justiça (e o mundo). O Morcego recruta então aquela que ele chama de “consciência moral” do grupo: Canário Negro. A força bruta fica por conta do Lobo, que só aceita participar por causa de um acordo sigiloso que ele tem como o Batman. A ciência fica a cargo de Ray Palmer, o Eléktron, mas como ele está desaparecido, seu assistente de laboratório, Ryan Choi (de Hong Kong) assume o manto do herói. Ray reforça o time e Vixen assume a liderança da equipe.
Os quatro one-shots dos personagens Killer Frost, Ray, Vixen e Elektron, servem tanto para introduzir novas ou revisitadas origens, quanto para marcar o pano de fundo de cada um. Vixen e Ray se destacam por tratarem de temas mais agudos como sexualidade (Ray é gay), e raça / ancestralidade (os poderes de Vixen vem de sua herança ancestral). A equipe também se aproveita da familiaridade do público com alguns personagens que aparecem nas série de TV do Flash e Legends of Tomorrow.
É interessante notar que a estrutura básica da equipe segue a fórmula de filmes como O clube dos cinco (The breakfast club), que tem um cérebro (Eléktron), um atleta (Ray), um caso perdido (Frost), uma princesa (Vixen) e um criminoso (Lobo), só que aqui são incorporadas questões como diversidade sexual e racial (que não aparecem no filme de 1984). Esse fórmula é clássica na narrativa produzida para adolescentes e jovens adultos nos Estados Unidos, com a dinâmica das interações entre as diferenças dos personagens realçando os pontos fortes e fracos de cada um. O papel do professor autoritário fica como o Batman e a Canário Negro.
As histórias giram em torno de vilões envolvidos com magia, uma característica bem marcada do universo DC. Mas um dos pontos altos das missões da LJA é o contexto realista. A cidade natal de Ray, Vanity City, que serve de cenário para o primeiro arco, é um retrato dos problemas de cidades norte-americanas que sofrem com o desmonte da industria automobilística que levou os postos de trabalho para países com mão de obra mais barata. A pobreza que acirra os conflitos raciais retratados em documentários como Flint Town (Netflix), mostra os problemas da força policial que tem que lidar com as consequências desse contexto sem recursos, pressionada pela população e pela imprensa. Nos quadrinhos a solução (além da vitória sobre os vilões), é a iniciativa de organizações filantrópicas (de Vixen e de Bruce Wayne), embora a vida real seja bem mais complexa do que isso.
Sem fugir dos difíceis contextos sociais e políticos reais de seu país, Steve Orlando (que é abertamente bissexual) trás um novo olhar para as narrativas dos heróis da DC, mirando um público mais politizado, mais diverso, mais consciente. Nas palavras do Batman durante a primeira reunião da equipe: As pessoas precisam de heróis com os quais se identifiquem, não de deuses, mas de heróis que os inspirem, que mostrem para eles que eles podem ser heróis também. Heroísmo é comunidade, e essa comunidade começa com a Liga da Justiça da América.
Ela saiu faz um tempo nos EUA né? Será que já chegou no Brasil?
A Panini tá publicando por aqui desde janeiro (mas eu não vi nas bancas, só no site deles…)
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