Não era você que eu esperava: emoção e informação

É impressionante como uma história pode conscientizar.

Dia 21/03 é o dia internacional da trissomia 21, alteração genética mais conhecida como Síndrome de Down, algo comum, mas que ainda sofre do problema da falta de informação. Para esse problema, nada melhor que uma história em quadrinhos, Não Era Você Que Eu Esperava de Fabien Toumé (publicado originalmente em 2014, trazido para cá pela Editora Nemo em 2017), que emociona e informa.

Não Era Você Que Eu Esperava é um quadrinho autobiográfico que conta desde a infância do autor até certo ponto após o nascimento de sua segunda filha. No quadrinho acompanhamos o crescimento dele na França, sua experiência com crianças com Síndrome de Down na infância, sua vivência no Brasil, lugar onde casou-se e teve sua primeira filha, e seu retorno ao país de origem pouco antes do nascimento de Julia, sua filha trissômica.

O quadrinho mostra um pai preocupado durante a gravidez, que presta atenção em vários pequenos sinais e desconfia de uma possível trissomia. Logo após o parto, ele repara que a criança é diferente de sua filha anterior, já cogitando uma possível trissomia. Porém os médicos e profissionais negam o fato. Algum tempo depois, é descoberto que sua filha possui um problema no coração que precisa ser operado e é nesse momento que o autor descobre que sim, que sua filha possui Síndrome de Down.

Depois que o pai descobre a condição de sua filha, começa a ler sobre e pesquisar, o  que o deixou em pânico, pois não havia nada que desse esperança ou ajudasse a tranquilizá-lo. A única coisa que pôde ajudar a amenizar seus medos foi o tempo, que lhe mostrou a superação e o desenvolvimento de Julia.

Anos depois após seu lançamento, o quadrinho pode ser essa tranquilidade na mente de tantos pais. Durante um evento que o autor participou na livraria cultura no dia 21/03 em São Paulo, haviam diversos casais e pais que possuem filhos com trissomia, ouvindo a palestra com seus quadrinhos na mão, enquanto compartilhavam dúvidas e experiências.

Eu estava lá.

Não Era Você Que Eu Esperava levanta um ponto interessante que é a relação cultural com a Síndrome de Down. Segundo o autor, na França o estranhamento é muito maior com sua filha, o preconceito, os olhares, é tudo mais incisivo. Já no Brasil tudo é muito mais tranquilo, as pessoas brincam com sua filha, beijam e são até mais afetuosas com ela, deixando assim tanto os pais quanto a criança muito mais confortáveis.

É possível um paralelo com Pílulas Azuis (publicado em 2001 e trazido para cá em 2015, também pela Editora Nemo) de Frederik Peeters, também um quadrinho autobiográfico sobre o relacionamento do autor com Cati, soropositiva. Ambos retratam dramas cotidianos de maneira muito humana e também informativa. Com a expansão do mercado nacional de quadrinhos, a entrada de títulos fora do escopo de super-heróis está mais viável a cada dia.

A história de Toumé e sua família é uma das coisas mais emocionantes que já li. Quadrinhos que mostram uma outra face, outra vertente do que estamos habituados a ler, fora do escopo das histórias de super-heróis que dominam a mídia. Ainda bem que o mercado e o público leitor de quadrinhos no Brasil tem se expandido para termos histórias como essas publicadas por aqui.

Sobre John Holland

Procurando significados em páginas de gibi enquanto viaja pelos trilhos do conhecimento e do metrô. Sempre disposto a discutir ideias e propagar os quadrinhos como forma de estudo, adora principalmente a Vertigo, está sempre disposto a conhecer novos quadrinhos e aprender o máximo de coisas possível!
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