Isao Takahata, a memória de um artista

Do caminho das linhas soltas ao túmulo dos vagalumes!

Não vamos falar das tristezas da perda de um grande produtor, diretor e artista de animação japonesa, Isao Takahata (1935 – 2018), mas dos seus grandes e belíssimos filmes que encantaram o mundo.

Formado em literatura francesa pela Universidade de Tóquio, este artista trabalhou logo no início da carreira como assistente de direção na Toei Animation, um dos maiores e mais importantes estúdios de animação no Japão.

Isao Takahata e Hayao Miyazaki eram grandes parceiros e amigos. A amizade entre os dois teve início no sindicato dos animadores da Toei Animation. Ambos estudaram e se encantaram com a literatura europeia, mas não deixavam de lado a cultura e arte japonesa, fazendo com que suas obras fossem o elo entre o ocidente e o oriente.

hayao-miyazaki-3

O primeiro filme de Isao Horus: o príncipe do sol (Taiyô no ôji Horusu no daibôken) (1968). Hayao Miyazaki teve participação neste filme como artista de cena. A parceria dos dois sempre se manteve e dessa amizade surgiu, em 1985, um dos maiores e mais respeitados estúdios de animação no mundo, o Studio Ghibli.

O primeiro filme produzido no Studio Ghibli por Takahata foi Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka – 1988). Este filme conta a história de dois irmão sobreviventes na Segunda Guerra Mundial. É considerado um dos filmes mais comoventes já feitos sobre uma guerra. A forma como dirigiu esta animação mostra o presente e a memória dos personagens, no entanto, sem sabermos onde termina o presente e começa a memória. Os detalhes das cenas, dos movimentos dos personagens, característico das animações do Studio Ghibli, consegue nos transportar para o Japão durante e pós Segunda Guerra.

covermd_home

Em 1991, Isao Takahata lança Omohide Poroporo (Only Yesterday), baseado no mangá de mesmo nome, escrito por Hotaru Okamoto e desenhado por Yûko Tone em 1982, este foi o primeiro filme do Studio Ghibli em que a personagem principal não é adolescente, e sim, adulta. A memória e a nostalgia são integrantes da história e Isao, novamente, nos expõe momentos da fronteira entre o presente e o passado.

Três anos depois, é exibido Ponpoko (Heisei Tanuki Gassen Ponpoko). O título desse filme se refere à onomatopeia dos tanuki quando tocam suas barrigas. No folclore japonês, os tanuki são animais que possuem a capacidade de usar a “ciência da ilusão” para se transformarem muitas coisas. No filme há três formas que os tanuki apresentam: como guaxinins realísticos quando um humano os vê; forma antropomórfica quando estão sozinhos na sua comunidade; e transformado em seres humanos para interagirem como um. A história é sobre a luta dos tanuki para impedir que suas terras sejam destruídas e transformadas em um empreendimento.

 

Em 1999, o público se depara com uma animação longa-metragem não tradicional, pois Meus vizinhos, Os Yamadas (Hôhokekyo Tonari no Yamada-kun), é um filme com várias vinhetas da vida cotidiana da família Yamada. No filme percebemos como é uma típica família japonesa, com certos exageros, mas pode-se ter uma noção dos seus comportamentos.

A partir desse filme, ele se desvencilha dos traços, cores e formas características do Studio Ghibli e cria sua própria estética visual, em que as linhas seguem o ritmo do movimento dos personagens, o cenário parece estar em constante ação, o artista anima sua obra de arte e nós nos inserimos nela acompanhando a história.

Outro filme que segue a mesma linha de Meus vizinhos, Os Yamadas, é A Princesa Kaguya (Kaguya Hime – 2013). Este foi o último filme de Isao Takahata. Baseado na literatura japonesa, o filme conta a história de um cortador de bambu que encontra uma pequena criança, do tamanho de um polegar, dentro de um bambu. Ele e sua esposa passam a criá-la como sua filha, que a cada dia crescia rapidamente até se tornar um bela mulher. Cada vez que esse rapaz cortava um bambu, ele achava uma pepita de ouro, assim esses camponeses se tornaram ricos e se mudaram para a cidade grande. A história mostra que a ganância pode trazer consequências.

 

tumblr_o0unfb1c6m1r4ue86o2_500.gif

Pelo seu brilho tão intenso, não podemos dizer que Isao Takahata estaria no túmulo junto com os vagalumes, mas que ele se tornou um vagalume!

Avatar de Desconhecido

About Mochi

Atingiu o estado de Olhos Grandes nas ilhas do Oriente Silencioso.
Esta entrada foi publicada em Mochi e marcada com a tag , , , , , , , , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

1 Response to Isao Takahata, a memória de um artista

  1. Pingback: A Invasão Ghibli na Netflix: o guia definitivo (Parte 2) | Quadrinheiros

Comente!