Hype, de acordo com algumas definições do Urban Dictionary, é quando a publicidade, intencional ou não de algo, gera uma empolgação imensa sobre um determinado produto. Definições semelhantes aparecem em dicionários mais formais como o de Cambridge e Oxford.
Mas no fundo, o que realmente importa, é que o Hype só ferra com você, espectador/consumidor.
Uma das cenas mais memoráveis para entender o hype é a dos dois irmãos que ganham seu nintendo 64 no natal de 1998. Os berros histéricos, os gestos incontroláveis, os olhos estatelados e a empolgação poderiam ser de um viciado, mas são apenas de duas crianças que ganharam o que, para época, era o melhor video-game que alguém poderia ter. Se por alguma razão obscura você nunca tenha visto essa cena, segue abaixo:
Mal sabiam eles que num espaço muito curto de tempo eles teriam que aprender a soprar fitas (nota do editor: “cartucho”!), fazer mandingas para o aparelho funcionar, evitar diversos movimentos do controle para ele não estragar muito rápido, e tantas outras coisas que apenas quem teve um meia-quatro poderá entender. Fora a pior parte. Dois anos depois veríamos surgir o PS2 e o império Sony, que hoje levam a Nintendo ao ostracismo.
Assim como esse incauto jovem, somos bombardeados constantemente pelo mercado de cultura pop para vivermos essas sensações. Tomando atenção especial nos filmes de super-heróis, basta ver como tem sido a publicidade e as reações. Antes de lançarem Capitão América: Guerra Civil choveram milhões de críticas positivas sobre o longa-metragem. Antes do próprio filme do Batman Vs Superman, a Warner tentou emplacar o mesmo efeito. X-Men: Apocalipse não foi diferente e nem tem sido em nenhum outro título cinematográfico.
Paulatinamente somos induzidos a sentir essa euforia. Para seguir o tom “dicionarêsco”, vale ler a definição do termo euforia que, de acordo com o Houaiss, significa:
1psicop estado caracterizado por alegria, despreocupação, otimismo e bem-estar físico, mas que não corresponde nem às condições de vida, nem ao estado físico objetivo
2psicop sintoma comum a várias patologias e tb. a algumas intoxicações (álcool, drogas), que se acredita contribuir para explicar a dependência
3p.ext. entusiasmo, alegria exagerada e ger. repentina; exaltação
Veja que essa questão clínica, digna de um acompanhamento psicológico, é perpetrada pelo maior período possível. A publicidade, e o próprio universo nerd, tentam manter essa sensação, para que se consuma ainda mais daquele conteúdo, para que se tome ainda mais tempo com aquele tema. Mas o maior problema é que fazem isso esperando que não se tenha reflexão.
Não devemos pensar, mas apenas nos envolvermos de corpo e alma, além da carteira. As estreias só ficam em cartaz em salas especiais, que tem preços exorbitantes, que nos forçam ao desconforto com seus óculos 3D. Soma-se a isso o escracho de quem se diz fã ou nerd e que não viu no dia da estreia. É aquela enxurrada de amigos cobrando ou o medo do temeroso spoiler.
E o spoiler? Podemos chamá-lo de irmão atrasado do hype. Ele é focado especialmente para os espectador que não se seduziu pelo frenesi do hype inicial, sendo carcomido pelo medo de saber um trecho da narrativa, antes da hora. Para piorar, criou-se a cultura do medo do spoiler, reforçando ainda mais o hype e a euforia.
No fundo, a indústria cultural apenas quer fazer com que seu consumo seja prolongado; que seus impulsos para consumir sejam ainda maiores; que você consuma por uma demanda social. Não importa quantos quadrinhos você tem ou leu, assim como quantos filmes você viu, e muito menos quando os viu. A cultura não pode ser condicionada pelo impulso de consumir, mas sim pelo que ela pode nos enriquecer.
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