Totens, passarelas e Pokémon

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Hoje em dia é difícil de pensar no personagem sem pensar no Daniel Radcliffe

Harry Potter! Pokémon! Meninas Super-Poderosas! Digimon! Naruto! Ragnarok! Counter Strike! Sakura Card Captors! Dragon Ball! Cavaleiros do Zodíaco! The Sims! Age of Empires!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Essas são algumas referências geracionais. Para alguns, paixões mais fortes, para outros apenas lembranças da infância dos anos 90 e 2000. Grande parte desses desenhos, jogos e livros se tornaram bases para muito do que os recém adultos, que estão entre seus 20 e 30 anos, pensam, falam e fazem. Sem dúvida se tornam boa parte da base do que é produzido e publicado hoje em dia.

Recentemente tornou-se notória a reaparição de alguns desses tópicos. Esse movimento cíclico, para além de ser algo digno observação do tipo materialismo histórico dialético, é frequente na moda. Muitas autoridades, inclusive acadêmicas, do mundo da moda indicam que há a “Regra dos 20 anos”, na qual certos cortes e apetrechos ressurgem cada vez que completam duas décadas, na maioria das vezes renovados. Mesmo que existam questionamentos, como este aqui, há uma certeza de que há um fluxo cíclico cada vez mais intenso e curto.

Por mais que a moda pareça algo tão distante do mundo nerd, ela é um excelente termômetro da cultura pop e um liason entre a alta arte e a arte popular. Por isso todo estudo sobre moda deveria se tornar uma inspiração para todo o estudioso de cultura popular em geral. Um nicho que consegue abranger da alta costura das passarelas de Milão até as peças mais vendidas nas baciadas do Bom Retiro, merece o respeito enquanto formador de conceitos sobre a transmissão cultural.

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Poderia ser o suéter que seu avô usava quando você era criança, mas é a tendência 2016 das passarelas.

Desta feita, pode-se notar como esse mesmo efeito cíclico ocorre em outros espaços da indústria cultural e do entretenimento. Bastou sair um jogo de celular do Pokémon que a internet praticamente quebrou. Foi necessário para J.K Rowling apenas lançar seu novo livro que vimos o tamanho do hype que surgiu.

Assim como os antigos Totens do índios norte-americanos, que representavam as famílias, as histórias, os antepassados e os guardiões daquelas tribos, a lista que encabeça este texto tem uma função muito semelhante. Da mesma maneira que a partir dos totens surgiram cultos tribais, essas referências geracionais também se tornam símbolos e sinônimos de toda uma construção social coletiva. Chamaremos aqui esses conjuntos de referências, portanto, de Totens Culturais.

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Totem de uma das tribos do Alasca.

Experimente chegar para um ser humano nessa faixa etária indicada, em qualquer parte do mundo ocidental, e criticar o universo do Harry Potter. Por mais que aquele indivíduo possa não ser um Potterhead (nome dado aos fãs incondicionais da saga) ele irá se irritar e rebater as críticas. E isso não quer dizer que ele “endeuse” a J.K. Rowling, mas que esse totem representa muitos dos livros, dos filmes e talvez até de jogos, que ele compartilha com sua geração.

Grande parte dos leitores mais velhos devem estar achando horrível o texto, mas creio que seja porque aqui está sendo utilizado o recorte etário dos 20 aos 30. Se o mesmo for feito com cerca de 10 anos para cima, com aqueles que passaram a infância entre os anos 70 e 80, cairemos em outros totens, como é o caso de Star Wars, Star Trek e outros tantos.

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É uma imagem real de uma das Gárgulas da Washington National Cathedral. Veja mais aqui

Vê-se assim um modelo. Não é um dogma da compreensão da cultura, mas sim um guia, uma baliza, do que podemos ver como tendências futuras e um modo de justificar os movimentos atuais do mercado e da indústria. E creio que podemos comparar isso com o  mundo dos quadrinhos, não de maneira tão estanque, mas existem indicativos.

Com a forte migração dos universos dos quadrinhos para a televisão e cinema, renasceu uma tendência que era bem forte nos anos 90: os supergrupos multiculturais e étnicos e o crescimento da violência utilizada. O Batman cada vez mais Frank Miller. O Justiceiro violento que só, e fazendo megassucesso. Os Vingadores com seus dramas e tensões de um supergrupo.

Da mesma forma que cerca de 20 anos atrás víamos os conflitos e tensões dos X-Men, o surgimento e consolidação da Vertigo e seus quadrinhos adultos-violentos, formaram personalidades como o Spawn. Ainda existem diversas outras referências, mas como vemos na listagem que encabeça o texto, nem todas são totêmicas e sobrevivem à prova do tempo.  Assim como nem todas cabem novamente em nosso tempo, vide uma utilização da estética hiperssexualizada pelas editoras nos anos 90, e que agora seriam/são alvo de críticas importantíssimas.

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Dois dos três principais pilares dos quadrinhos dos anos noventa estão aí: Violência e Músculos.

Totens, tanto os dos nativos da América do Norte como os culturais, são referências simbólicas, marcos do tempo, monumentos aos seus momentos históricos. Nem todos resistem e nem todos fazem o mesmo sentido tempos depois. Isso não quer dizer que todos sejam derrubados ou que todos devam ser mantidos, mas sim que devemos entender as razões pelas quais eles são erigidos e cultuados.

Alguns símbolos podem ser reinterpretados, ganhando uma significação própria, que no caso indígena, hoje em dia, se relaciona à resistência e permanência daquela cultura. Outros, e principalmente os culturais, se tornam repaginações de arquétipos, de histórias antigas e de visões de mundo, e talvez essa seja a maior graça da narrativa, que mesmo sendo a mesma estrutura, sempre tem uma nova forma.

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