
Mafalda completou 50 anos em setembro. E, sim, nós deixamos a data passar em branco aqui no blog — não temos idéia do porquê. Felizmente, a oportunidade de nos redimirmos pela omissão apareceu. E a ocasião é bastante fortuita, já que hoje (17/12) a exposição O Mundo Segundo Mafalda chega a São Paulo. (Se você é de qualquer outro lugar do Brasil, tem até 28 de fevereiro para encaixar a exposição na sua agenda).

Criada por Joaquín “Quino” Tejón para uma campanha publicitária disfarçada em 1962,
Mafalda ficou no ostracismo por dois anos, até ter sua estréia oficial na revista
Primera Plana, em 1964. Ela trocaria de casa duas vezes, sendo publicada no jornal
El Mundo (1965-1968) e no semanário
Siete Días Ilustrados (1968-1973).

Publicada num período politicamente muito conturbado da Argentina, a personagem se tornou sinônimo de crítica ao mesmo tempo ácida e bem-humorada aos costumes, aos valores, à economia, ao Estado… Quino, no entanto, sempre negou que visse a personagem como sua porta-voz. Ou que pretendesse torná-la um símbolo. Mas foi o que ela se tornou. E, como tantas crianças que viveram sob regimes autoritários,
Mafalda teve sua infância roubada.

Mafalda nunca foi criança. Ela e seus amigos eram adultos em miniatura, reproduzindo em pequena escala os conflitos do dia-a-dia. Sua capacidade de perceber a crueldade e a futilidade do mundo impedia que desfrutassem plenamente da habilidade que toda a criança deveria ter de imaginar o mundo como o espaço de suas brincadeiras. Mesmo que elas conseguissem escapar da censura por tanto tempo, havia uma clara limitação à liberdade que não tinha como intenção protegê-las de algo que elas não compreendiam. Muito pelo contrário.

Mas
Mafalda nunca deixou de ser criança. Muitas vezes, sua rebeldia se manifestava justamente na esperança de tempos melhores, pessoas melhores. A utopia sonhada por ela era ingênua, como são todas as utopias que valem a pena. E, embora encontrasse muitas contrariedades pelo caminho,
Mafalda sempre foi capaz de ver e dizer como o mundo deveria ser, desafiando os adultos a reverem seus valores e as crianças a brincar.
Exposição “O Mundo Segundo Mafalda” (17/12/2014-28/02/2015)
Local: Praça das Artes (Av. S. João, 281 – Centro)
9-22h, diariamente (fechado 24-25/12, 31/12 e 01-06/01)
Curtir isso:
Curtir Carregando...
Sobre Quotista
Filipe Makoto Yamakami é historiador, professor, músico amador, twitólatra, monicólatra, etc.
E realmente precisa de um emprego que lhe permita pagar as contas.
@makotoyamakami
Esse post foi publicado em
Quotista e marcado
Mafalda,
política,
Quino. Guardar
link permanente.
Pingback: Macanudismo, desenhos e pinturas | Quadrinheiros