Calvin e Haroldo – os filósofos de Bill Watterson

Já comparamos aqui quadrinhos e jazz, duas formas de arte que, mesmo sendo coletivas (piano/baixo/bateria – roteiro/arte/cor), são bastante artesanais e autorais. Mas mais do que histórias em quadrinhos, as tiras de jornal (comic strips) são criações solitárias, descartáveis e cercadas de limitações que ainda vivem atreladas a um meio agonizante que é a mídia impressa diária.

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Bill Watterson, criador de Calvin e Haroldo (Calvin e Hobbes no original – uma referencia ao teólogo francês João Calvino e ao filósofo inglês Thomas Hobbes), é o expoente máximo desse tipo de arte, tanto pela sua produção quanto pela sua postura diante da indústria do entretenimento. Recluso, ele quase não dá entrevistas, recusou licenciar seus personagens para transformá-los em produtos como lancheiras e bonecos de pelúcia, e ainda por cima parou de escrever a tira mais publicada do mundo para não desgastar o personagem.

Watterson voltou às manchetes porque desenhou uma sequência de 3 tiras de Pearls Before Swine (série de seu amigo, o cartunista Pastis) imitando o estilo do amigo e passando despercebido pelos editores do Washington Post, mesmo fazendo menção ao seu derradeiro quadrinho de Calvin e Haroldo (de dezembro de 1995).

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Para saber mais sobre essa figura taciturna vale ver o documentário Dear Mr. Watterson, de 2013 (tem no Netflix). Além dos diálogos inspirados e da vasta imaginação infantil de seu personagem, Watterson fazia críticas ao desrespeito que se tem em geral por essa forma de arte usando Calvin como seu porta voz. A progressiva diminuição do espaço destinado as tiras de jornal, reflexo da crise da mídia impressa, levou Watterson terminar a tira, preservando a qualidade do trabalho.

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Bebendo na fonte de Winsor McCay (Littel Nemo) e George Herriman (Krazy Kat), as tiras de domingo, coloridas e maiores, sempre foram o parque de diversões de Bill Watterson, elevando sua arte e técnica narrativa a níveis de experimentação e excelência imbatíveis.

 

Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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2 respostas para Calvin e Haroldo – os filósofos de Bill Watterson

  1. Pingback: Macanudismo, desenhos e pinturas | Quadrinheiros

  2. Daniel Azevedo disse:

    Fez parte de minha infância, Watterson soube mesclar o surrealismo do cotidiano infantil com questões pertinentes ao ingresso a vida adulta permeando a narrativa gráfica com referências artísticas, literárias e filosóficas, houve um tempo que lamentei não existir produtos licenciados como bonecos e estojos, assim como seu fim prematuro após 10 anos de publicação, porém hoje entendo o amor do autor pela sua obra ( que é extremamente pessoal) assim como manter a qualidade que lhe é inerente.
    Daniel Azevedo.

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