Já faz algum tempo a Panini está lançando, em ordem cronológica, as aventuras de John Constantine. A história é mais ou menos conhecida: de mero coadjuvante nas aventuras do Monstro do Pântano de Alan Moore, o mago inglês foi alçado à condição de protagonista com roteiros de Jamie Delano e desenhos de John Ridgway.
Tive contato com Hellblazer pela primeira vez na quase lendária revista Vertigo, publicada em 1995 e com apenas 12 edições, que deve ter sido o melhor mix de todos os tempos, esse formato tão querido e odiado pelos leitores tupiniquins, que trazia, além das aventuras do Mago, também o Sandman da Era de Ouro – Wesley Dodds -, Jonah Rex, Livros da Magia e possivelmente outras perdidas nas brumas da minha memória. Uma ótima iniciação em “quadrinhos adultos” para um adolescente. Na época pareciam histórias excepcionais, excelentes… mas vendo hoje eram apenas boas histórias.
De qualquer forma elas se firmaram na minha mente, e talvez na de outros leitores, como as melhores histórias, como aqueles filmes que você não pode ver depois de velho, a maldita “regra dos 15 anos”.
Mas chega de digressões. O fato é que o número um dessa empreitada da Panini me chamou a atenção, fiquei curioso para saber como seriam as primeiras aventuras de John Constantine. E, devo dizer, para além do interesse arqueológico que elas possam ter, não são boas histórias. Nos afastamos demais do anos 80 e o zeitgeist é facilmente reconhecível: misturar terror com temáticas políticas, sociais econômicas etc., cenas grotescas, um outsider criticando a tudo e a todos e por aí vai.
Talvez tenham sido boas histórias na época, mas não hoje. Vale a publicação? Vale o seu dinheiro? Eu arriscaria dizer que há coisas mais interessantes na prateleira, a não ser que você seja realmente um fã do personagem.
Mas foi lendo aquelas histórias medianas que me lembrei de outra história de terror, essa de qualidade excepcional, e excepcional também sua trajetória. Shem Há-Mephorash – Uma Noite em Staronova, um quadrinho de terror nacional de produção independente, com roteiro de Marcela Godoy e desenhos de Sam Hart, publicada no final de 2006 ou início de 2007, que caiu totalmente por acaso em minhas mãos à época.
Assim como Mary Shelley com seu Frankenstein, a HQ se serve do mito judaico do golem para construir uma narrativa de terror e mistério, além de uma ótima aula de história sobre os judeus em Praga. Vale a pena procurar nos sebos da vida.
Nós, como bons aculturados, rejeitamos boa parte da produção nacional e consumimos continuamente histórias de pouca ou baixa qualidade publicadas à exaustão por aqui. Nada contra as histórias medianas ou ruins – afinal, somente após ler muitas delas é que podemos reconhecer algo de qualidade superior quando vemos e, mesmo assim, como o mercado não pode viver apenas de obras-primas, são elas que vão manter nossa sanidade.
Imagino quantas histórias excelentes perdidas e desconhecidas em fanzines estão à solta nesse Brasil afora e boas histórias são raras. Boas histórias nacionais de sucesso editorial então pode-se contar nos dedos – de uma mão, do Lula. Por tudo isso é uma pena que não exista mercado sólido para quadrinhos nacionais.
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