O primeiro gibi de super-heróis que comprei na vida foi um especial dos X-Men, o clássico “Dias de um futuro esquecido”. Li um artigo no jornal sobre o lançamento e resolvi que precisava ler aquilo. O que mais chamou minha atenção foi a idéia de que super-heróis também morrem. Até então, tudo o que eu sabia sobre quadrinhos de heróis é que muitos desenhos animados tinham sido criados a partir deles. Nada mais. Em minha ingenuidade pré-adolescente (mais infantil do que pré-adolescente, a bem da verdade), imaginava que quadrinhos de super-heróis fossem coisas parecidas com o que eu via nos Superamigos. (Tá, era totalmente infantil). “Dias de um futuro esquecido” me apresentou heróis como eu jamais imaginara que seriam possíveis. E eu adorei aquilo!


Ainda não sei se a Marvel idolatra sua continuidade ou se é refém dela — muito provavelmente, ambos. De qualquer modo, um dos fatores que impede a Marvel de fazer histórias de realidades alternativas realmente boas é a obrigatoriedade da continuidade ser restaurada no final. E complica mais ainda o fato de que essas realidades alternativas costumam deixar legados para a continuidade regular. Pensem em quanta bobagem tivemos que agüentar depois que “Era de Apocalipse” acabou! (Pior do que os resquícios da “Era de Apocalipse” na continuidade regular, só os prequels e adendos — pena, porque eu curti bastante a saga).
A coisa mais próxima que a Marvel fez de um elseworld decente foi “1602,” escrito pelo grande Neil Gaiman. Transportando o universo Marvel para o fim do período elisabetano, Gaiman faz recriações bastante plausíveis, explicando a origem de cada herói como algo que transita entre a magia e a ciência. Sem nenhuma ligação com as publicações regulares, “1602” poderia constituir um universo à parte. Não sei se foi uma determinação editorial (quero crer que Gaiman teria planejado algo muito melhor e que foi rejeitado por algum sem-noção que calhou de ser o chefe no momento), mas lá está a tradicional volta à normalidade.
Resumindo, a chamada Casa das Idéias parece incapaz de conceber uma história desvinculada de sua continuidade regular sem usar a figura do Vigia, que é muito tosco. (Tenho o defeito de ser repetitivo quando se trata de reforçar meu descontentamento com qualquer coisa que seja).

Num mundo em que ser portador do fator X é considerado crime punido com a morte, Magneto assume a liderança de uma comunidade mutante que não teve Charles Xavier para orientá-la. Os cerca de 200 mutantes que restam no mundo lutam todos os dias para proteger sua fortaleza, tentando adiar o extermínio que parece inevitável. Clichê, mas divertido o bastante.
E, como é a Marvel, sempre voltamos ao status quo. Ou quase, porque certamente haverá o legado, afinal, se a DC volta e meia faz um reboot, a Marvel costuma repaginar seu universo usando anomalias espaço-temporais que restam de algum evento cosmicamente desajustado. Ou os skrulls, o que é ainda mais tosco do que dizer que realidades alternativas de fato só existem nas histórias do Vigia.
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